Os excessos dos foliões no Carnaval

O exagero nas festas pode fazer com que o folião se sinta mal e acabe perdendo momentos de um dos feriados mais importantes do Brasil. Desconforto abdominal, mal-estar e exposição solar excessiva são algumas das reclamações

Quatro dias de festividades intensas em todo o País. Não é difícil lembrar-se do carnaval e de todos os excessos que acompanham os foliões. Mal-estar, desidratação, insolação são alguns dos problemas que acometem os menos preocupados ou atentos com a saúde.

De acordo com a gastroenterologista do Hospital Moriah, Dra. Nilma Lucia Sampaio Ruffeil, o principal responsável pelos problemas estomacais é o excesso, tanto de alimentos quanto de bebidas alcoólicas. Uma dieta pobre em fibras pode provocar um mau funcionamento intestinal com a formação excessiva de gases.

“Consumir frituras e alimentos gordurosos sobrecarrega o estômago e causa azia, má digestão, sensação de estufamento e até refluxo. Cafeína, derivados de leite, carnes vermelhas e alguns tipos de frutas podem desencadear dor em quem sofre de gastrite ou úlcera”, completa ela.

Acabando com a folia

Apesar de o carnaval ser tempo de curtição, alguns problemas podem acabar com os dias felizes de quem quer festejar. Entre as reclamações mais comuns estão:

• Azia.
• Desconforto abdominal.
• Mal-estar após excesso de bebidas.
• Enjoo.
• Desidratação.
• Exposição solar excessiva.

O estômago é muito sensível. Quando as pessoas se alimentam, o órgão libera ácido gástrico e a mucosa (camada externa) tem uma proteção natural contra o ácido. Alguns fatores fazem com que essa proteção diminua, tornando-se suscetível a qualquer inflamação. O exagero esporádico não causa muito sintomas, acontece uma pequena inflamação, mas melhora sozinha. Porém, com a abundância diária do consumo, não há tempo para o órgão se recompor.

Segundo o especialista em cirurgia do aparelho digestivo e coloproctologia e coordenador do Centro de Robótica do Hospital Samaritano, Dr. Sérgio Zaladek Gil, o excesso de álcool por si só, dependendo da quantidade que a pessoa ingere, acaba levando a um efeito negativo na mucosa. “O álcool incha o cérebro e inflama as células, acarretando no famoso mal-estar, com dor de cabeça e enjoo.”

Para evitar os sintomas, a pessoa deve comer antes de ingerir álcool, pois o estômago vazio irrita mais a mucosa. Alternar as bebidas alcoólicas com água também ajuda a conter o problema, pois o álcool desidrata as células.

Calor e pouca água

Assim como a hidratação é importante para segurar os efeitos do álcool, a falta de água pode levar a outros problemas, como a desidratação intensa, que acontece por um desequilíbrio entre a digestão do líquido e a perda dele. Ou seja, a pessoa tem uma baixa ingestão de água ou pode ter uma perda excessiva (como em situações de diarreia ou vômitos).

“Considera-se desidratação quando a perda de líquido é igual ou maior de 1% do corpo. Por exemplo: se a pessoa tem 70 kg e perde 700 mL de líquido, já entra em um quadro de desidratação moderada para cima. A desidratação não está relacionada só com a água, mas com os sais minerais presentes nela”, comenta a nutricionista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Weruska Barros.

Na desidratação leve a moderada, a sede é exagerada, a boca e a pele ficam secas, os olhos fundos e há ausência ou pequena produção de lágrimas, além da diminuição da sudorese, sonolência, dor de cabeça, cansaço, fraqueza e tontura.

O exagero esporádico não causa muito sintomas, acontece uma pequena inflamação, mas melhora sozinha. Porém, com a abundância diária do consumo de comidas pesadas e bebidas alcoólicas, não há tempo para o estômago se recompor

A nutricionista do Hospital Moriah, Dra. Carla de Carvalho Teixeira, explica que, no caso de desidratação grave, podem surgir outros sintomas, como a perda da consciência, queda da pressão arterial, convulsões, coma e até falência de órgãos.

Mas o problema pode ser evitado. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a quantidade ideal para o consumo diário de água é de 2,5 L para um homem de 70 kg e 2,2 L para uma mulher de 58 kg. A água deve ser consumida em pequenas porções durante todo o dia, não somente quando sentir sede.

“Isotônicos são interessantes em algumas situações. Não para a hidratação do dia a dia, mas na situação de perda rápida. Em um caso patológico, como a diarreia, ou em uma prática de exercício físico intensa, também é interessante. No dia a dia, a água e os sucos naturais são mais indicados”, afirma Weruska.

No caso de situações em que a desidratação já é manifesta, a água pode ser insuficiente. Nesse caso, além do isotônico, podem ser usadas soluções de reidratação oral e soro caseiro para que a hidratação seja mais rápida.

Sol para todos

Carnaval e verão é a combinação perfeita para que aconteçam imprevistos com a exposição solar. Além da maior parte das pessoas se esquecer de se proteger antes das festas em lugares abertos ou ir à praia e à piscina, as pessoas que usam o fotoprotetor tendem a não aplicá-lo da maneira correta.

Segundo a diretora médica da Pierre Fabre (laboratório da Avène), Dra. Ana Coutinho, as pessoas aplicam muito menos do que a dose recomendada (2 mg/cm²), variando de 0,5 mg a 1,5 mg/cm², o que acaba por produzir uma redução na proteção conferida pelo protetor solar comprado. Em geral, a pessoa consegue um valor médio de 20% a 50% do Fator de Proteção Solar (FPS) rotulado no produto adquirido.

Existe a crença de que só a exposição solar intencional (na praia, na piscina, no quintal ou durante as férias de verão) representa risco à saúde. Além das queimaduras e do envelhecimento precoce, um dos efeitos mais preocupantes da exposição desprotegida é o câncer de pele, o que pode ser prevenido por meio de medidas adequadas de fotoproteção no dia a dia.

É importante orientar o consumidor de que qualquer parte do corpo, incluindo lábios, olhos, couro cabeludo e lobos da orelha, por exemplo, pode sofrer queimaduras. Elas aparecem após algumas horas de exposição e se manifestam desde uma pele avermelhada e quente, sensível e dolorosa ao toque, até pequenas bolhas com líquido dentro.

“Se o quadro for mais grave, podem surgir sinais e sintomas gerais, como dor de cabeça, febre, calafrios e fadiga. A queimadura é uma resposta inflamatória à radiação solar. Ao olhar a pele queimada pelo sol, utilizando um microscópio potente, é possível ver as células danificadas pelos raios solares”, adverte a Dra. Ana.

A indicação do FPS é feita de acordo com a escala Fitzpatrick, criada pelo Dr. Tomas B. Fitzpatrick, da Escola de Medicina de Harvard, que classificou a cútis em seis diferentes fototipos, explicados pela gerente de marketing da ISDIN, Fernanda Paes:

I – Pele muito sensível ao sol, queima com facilidade, ficando muito vermelha e nunca bronzeia. Indicado o FPS 50+.

II – Pele sensível ao sol, queima com facilidade e bronzeia pouco. Indicado o FPS 50+.

III – Pele com sensibilidade ao sol, a pele bronzeia gradualmente, mas, às vezes, fica vermelha. Indicados os FPS 30 a 40.

IV – Pele com sensibilidade normal, queima pouco e bronzeia com facilidade. Indicados os FPS 25 a 40.

V – Pele pouco sensível, queima raramente e bronzeia bastante. Indicados os FPS 15 a 25.

Se, ainda assim, o consumidor exagerar na exposição solar, o pós-sol pode ajudar a aliviar os sintomas incômodos. O produto tem a função de acalmar e hidratar a pele, prolongando o efeito do bronzeado ou evitando a descamação, diminuindo a ardência, a dor e a vermelhidão.

“O uso de produtos pós-sol permite que a pele se recomponha da agressão sofrida pela superexposição ao sol. Mas ele é sintomático, ou seja, não impede que o processo de agressão instalado não ocorra”, finaliza a diretora médica da Pierre Fabre.

Foto: Shutterstock

Protagonistas do consumo

Edição 303 - 2018-02-01 Protagonistas do consumo

Essa matéria faz parte da Edição 303 da Revista Guia da Farmácia.