Os sintomas da Dermatite Atópica

Apesar de ser uma doença dermatológica comum, os pacientes sofrem não somente com os sintomas da patologia, mas com o impacto social negativo

A Dermatite Atópica (DA) é uma doença inflamatória crônica, que causa lesões na pele e coceira intensa, comprometendo a qualidade de vida dos pacientes. Se todo o incômodo não fosse o suficiente para esses pacientes, eles sofrem também com a falta de informação das pessoas à sua volta, que acabam sendo indelicadas e até preconceituosas.

A inflamação é causada por um desequilíbrio do sistema imunológico e ocorre a partir do aumento da liberação de duas citocinas – substâncias liberadas pelo sistema imunológico para regular as reações inflamatórias e de defesa do organismo. Com o descontrole da liberação, há um processo inflamatório exacerbado.

O problema atinge até 20% das crianças e 3% dos adultos. A maior incidência entre os pequenos acontece, segundo a chefe do Ambulatório de Dermatite Atópica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP), Dra. Ariana Campos Yang, pois a pele costuma ser mais fina e, consequentemente, mais delicada.

Regiões mais afetadas

Fonte: Sanofi

“A nossa pele é como se fosse um muro de 20 camadas. Essas camadas estão unidas por ‘cimento’ (aminoácidos, proteínas, ceramidas, entre outros), ‘areia’ e água. Um paciente com dermatite atópica tem pouco cimento. Ou seja, tem a pele porosa, perde água (pele seca). Então, o que deveria protegê-lo acaba sendo prejudicial”, explica a médica.

As principais características da DA são o eczema (lesão): um tipo de alteração da pele que acontece, normalmente, nas dobras do corpo. Além disso, a pele se torna áspera, coça, fica com vermelhidão e escamas.

De acordo com a Dra. Ariana, o eczema pode surgir por diferentes motivos. “Entre os impulsionadores, estão exposições irritantes, disfunções imunológicas, alergias, inflamações cutâneas, coceiras e estresse. As três principais bases para que uma pessoa sofra com DA são: problemas em sua barreira cutânea, predisposição genética e deficiência no sistema imune”, revela.

A origem genética é extremamente relevante, assim como sua relação com outras doenças atópicas, como asma e rinite alérgica. Um a cada dois portadores com grau moderado a grave tem outras doenças atópicas (50%, rinite alérgica e 40%, asma). Além disso, pais atópicos (com quaisquer das patologias) têm mais chances de ter filhos também atópicos.

A patologia apresenta três níveis de gravidade: leve, moderada e grave. Para classificar o grau de severidade, é usado um índice chamado SCORAD, que leva em consideração a extensão e a intensidade das lesões na pele e a importância do prurido e das perturbações no sono. Quem, na infância, sofre de maneira leve, costuma não apresentar problemas na fase adulta.

As consequências da doença

Os pacientes que apresentam sintomas moderados a graves carregam algo muito além das marcas ou coceiras. Sinais de ansiedade e depressão estão presentes em 51% dos pacientes com a doença. Mais da metade (55%) das pessoas acometidas com DA relatam ter dificuldade para dormir cinco ou mais noites por semana; 77% relatam que a doença interfere na produtividade; e 57% afirmam que há impactos na vida afetiva.

“O estado emocional dos pacientes com a doença é afetado pelo constrangimento e estigmas causados pelas lesões. Pacientes com DA moderada a grave podem apresentar distúrbios no sono por conta das coceiras constantes, além de muitos ficarem impacientes com os desconfortos, questões que afetam negativamente sua vida profissional e social”, comenta a chefe do Ambulatório de Dermatite Atópica da USP.

Impacto social

51% apresentam sinais de ansiedade e depressão

55% apresentam dificuldade para dormir em cinco ou mais noites na semana

77% relatam que a DA afeta o trabalho e os estudos

57% relatam impacto nas relações afetivas

Fonte: Sanofi

Entre as principais queixas dos pacientes, estão a frustração – uma vez que a pessoa entende que não está fazendo o suficiente para estar melhor –, desejo de esconder-se, isolamento social, ansiedade, depressão, distúrbio do sono, irritabilidade e déficit de atenção.

A patologia é mais comum do que parece. Segundo o Censo da Sociedade Brasileira de Dermatologia, é a 11ª doença dermatológica mais comum, se considerar todas as faixas etárias. Se se reportar somente à faixa etária até 14 anos, é a segunda doença dermatológica mais comum, atrás somente de acne. Apesar disso, ainda há falta de conhecimento da população, que acaba corroborando em preconceitos, como pensar que a doença é contagiosa.

“Apesar do estigma causado pelas lesões, é muito importante destacar que a DA não é contagiosa justamente por ter origem hereditária. Os pacientes com DA podem conviver normalmente com outras pessoas, sem nenhuma restrição de contato”, reforça a Dra. Ariana.

Sem cura, mas com tratamento

Quem sofre com a DA tem de cuidar de sua pele ainda que não existam lesões, pois há uma inflamação persistente em suas camadas mais profundas. A hidratação é fundamental e, nos momentos de crise, os tratamentos tópicos ou medicamentos devem ser administrados.

Os medicamentos indicados, reforça a Dra. Ariana, podem ser os corticoides tópicos e inibidores de calcineurina nos casos mais leves, chegando aos antibióticos, antifúngicos e antivirais nos casos mais graves, dependendo do desencadeador das lesões.

Além disso, algumas medidas gerais de cuidado com a pele podem contribuir para reduzir o aparecimento dos sintomas:

  • Manter a pele sempre hidratada;
  • Evitar banhos longos e muito quentes;
  • Usar sabonetes e hidratantes neutros;
  • Identificar fatores desencadeantes e evitá-los;
  • Consultar o médico com regularidade para verificar o tratamento mais adequado.

Aos que foram diagnosticados com a patologia moderada a grave e que não conseguem controlar o problema com as terapias atuais ou para pacientes que não toleram o tratamento com corticoides devido aos efeitos adversos, a Food and Drug Admnistration (FDA – agência reguladora dos Estados Unidos) aprovou uma nova opção de tratamento: o dupilumabe.

O medicamento, que está em fase de avaliação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é o primeiro agente biológico desenvolvido especificamente para o tratamento de DA. O medicamento inibe a resposta inflamatória exagerada do organismo aos estímulos e reduz a coceira e as lesões na pele causadas pela doença.

Foto: Shutterstock

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Edição 301 - 2017-12-01 Novo ano em vista

Essa matéria faz parte da Edição 301 da Revista Guia da Farmácia.