Pagamento em cartão ou app?

A pergunta que se tornou comum no varejo: débito ou crédito evoluiu. Há mais do que uma mudança no modo de pagar as contas, nota-se um caminho sem volta, em direção a um mundo cada vez mais eletrônico

Segurança, praticidade e prazo de pagamento são três das razões pelas quais os consumidores brasileiros estão adotando, cada vez mais, o pagamento com cartões de débito e crédito e, agora, até Aplicativos (apps) em suas compras. Um movimento que vem se consolidando ano a ano, mostrando que esse é um caminho sem volta. O dinheiro está cada dia mais eletrônico e adequar-se a tal realidade é algo estratégico, inclusive para acompanhar o movimento da concorrência.

De acordo com o último balanço do setor divulgado pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), referente ao terceiro trimestre de 2018, as transações com cartões de crédito, débito e pré-pagos cresceram 14,7% em comparação com igual período do ano anterior, somando R$ 391,1 bilhões em compras. No período, os meios eletrônicos de pagamento representaram 35,4% do consumo das famílias.

“Sem dúvida, nos últimos anos, tem ocorrido um importante crescimento da penetração dos cartões em novos nichos e ramos de atuação, como o pequeno varejista e o universo de profissionais autônomos”, diz o diretor executivo da Abecs, Ricardo Vieira.

Segundo informa o executivo, há hoje um número maior de empresas que oferecem o serviço de credenciamento no mercado de cartões, o que tem ampliado e diversificado as ofertas e as opções ao lojista. “Sem dúvida, temos um mercado altamente competitivo, o que gera benefícios diretos aos usuários”, comenta.

Apesar de a maior parte dos pagamentos no Brasil ainda ser realizada com dinheiro em espécie (60%), o seu uso vem caindo em detrimento à utilização do cartão de crédito (15%) e débito (22%), segundo dados do Banco Central (BC).

“Dependendo do valor do produto, por exemplo, o consumidor prefere realizar suas compras no crédito parcelado sem juros. Dessa forma, considerando que o uso do cartão vem crescendo nos últimos anos, quem não oferece esse meio de pagamento acaba ficando em desvantagem”, comenta a assessora econômica da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Kelly Carvalho.

Ela ressalta que o pagamento via cartão de crédito e débito é importante para as pequenas empresas varejistas, uma vez que impulsiona as vendas. “Apesar de o dinheiro ainda ser o principal meio de pagamento, é cada vez mais comum o consumidor usar o cartão de crédito ou débito para o pagamento das suas compras. Dessa forma, o estabelecimento comercial que não oferece a opção do pagamento via cartão pode ficar de fora do mercado, perdendo competitividade”, diz.

Segundo o sócio e líder de projetos da Boanerges & Cia, Fabrício Winter, a aceitação de meios de pagamento eletrônicos por parte dos varejistas trata-se de uma mudança cultural. “Sem dúvida, ainda há uma resistência cultural por parte de varejistas que não veem grandes vantagens nos cartões, alguns, inclusive, por falta de formalidade. Mas até para isso já há alternativas de meios de pagamento que permitem que o cliente tenha apenas uma conta digital para realizar suas transações, sem a necessidade de ter uma conta em banco”, comenta.

Participação cresce

Por causa da segurança, da praticidade e dos prazos de pagamento, os consumidores têm optado cada vez mais pela utilização dos meios eletrônicos em suas compras.

Para se ter uma ideia, a participação dos pagamentos com cartão no consumo passou de menos de 18%, em 2008, para mais de 31%, em 2018, é o que contam os economistas da Boa Vista SPC, Flávio Calife e Vitor França.

“Em 2017, eram quase 200 milhões de cartões ativos no País (que realizaram pelo menos uma transação em 12 meses), sendo 82 milhões da modalidade crédito e 108 milhões na modalidade débito”, comentam.

Segundo eles, pesquisa divulgada recentemente pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) revelou que saltou de 39%, em 2016, para 46%, em 2018, a parcela de micros e pequenas empresas que possuíam maquininha de cartão.

“Entre as principais explicações para o avanço, podemos apontar a queda das taxas de desconto (paga pelos estabelecimentos comerciais sobre o valor de cada transação) e a possibilidade de comprar a maquininha de cartão e, com isto, se livrar das despesas mensais com o aluguel”, afirmam.

Segundo a mesma pesquisa, a taxa mais barata foi motivo de 78% dos entrevistados para a escolha da maquininha – em 2016, o percentual era de 68%.

“De fato, as taxas médias pagas pelos lojistas nas vendas com cartão vêm registrando queda, conforme apontam os últimos dados disponibilizados pelo BC. No caso do crédito, ela passou de 2,73%, em 2016, para 2,63% em 2017. No caso do débito, de 1,51% para 1,48%”, contam.

Para eles, o recuo é reflexo da entrada de novas credenciadoras no mercado e do consequente aumento da competição. “Segundo o Sebrae, 72% dos entrevistados, em 2018, afirmaram comparar as taxas antes de decidir pela contratação dos serviços, contra 67% em 2016”, pontuam.

Os dois lados da moeda

A aceitação de cartões nos pequenos negócios é crescente, mas ainda esbarra nos custos da modalidade, como altas taxas de desconto e de antecipação de recebíveis, principalmente.

“Estimativas elaboradas pela Boa Vista mostram, por exemplo, que em regiões mais pobres, é menor a aceitação de cartões. Os pagamentos instantâneos, nesse sentido, devem representar uma alternativa de pagamento eletrônico mais barata para o pequeno varejo”, afirmam os economistas da Boa Vista.

Segundo eles, por outro lado, a adoção de tecnologia ainda representa um grande desafio para esse segmento. “Para ilustrar o problema, podemos citar outra pesquisa do Sebrae, segundo a qual, enquanto 33% dos pequenos empresários entrevistados não registravam os gastos em nenhum local, 50% registravam em cadernos e somente 21% faziam o controle por meio digital (computador, tablet, etc.). Ou seja, gestão financeira é um problema nos pequenos negócios e, mesmo entre os que fazem controle de receitas e despesas, a maioria ainda utiliza canais analógicos”, relatam.

Pela ótica de quem aceita cartão como meio de pagamento, há uma gama de benefícios. Com esse tipo de transação, por exemplo, o lojista elimina o risco de não receber, já que não existe “cartão sem fundos”.

“O estabelecimento também evita o acúmulo de notas e cheques no caixa, já que as transações com cartões são eletrônicas e diminuem assim o risco e os custos de assalto, roubo, falsificação, armazenamento e logística. Além disso, o sistema de cartões dá acesso ao crédito e facilita a gestão do fluxo de caixa”, comenta Vieira.

Ele ainda revela que uma novidade que o setor deve lançar nos próximos meses é o crediário no cartão, um novo produto de financiamento de compras por meio do cartão de crédito. Com ele, o parcelamento é disponibilizado ao consumidor pelo próprio emissor do cartão, permitindo prazos maiores de financiamento, a custos competitivos.

“Ao realizar uma venda por meio do crediário, o lojista receberá o valor de uma só vez, como se fosse uma venda à vista. Com isso, ele reduz os custos, melhora a gestão de fluxo de caixa e aumenta as possibilidades de venda. Essa modalidade beneficiará especialmente os pequenos comércios, que não contam com capital de giro para financiar suas vendas”, conta.

Das máquinas para o celular

Com os meios eletrônicos ganhando mais relevância, esse mercado continua se reinventando e os pagamentos via aplicativos para celular já são realidade. Atualmente, quase 70% da população brasileira já utiliza smartphones, o que representa um enorme potencial para os pagamentos por este meio.

“Os pagamentos via celular ainda são bem pouco representativos, algo em torno de 0,2% do consumo, de acordo com estimativas de mercado, mas devem ganhar relevância com a regulamentação dos pagamentos instantâneos, como transferências monetárias eletrônicas em que a transmissão da mensagem de pagamento e a disponibilidade de fundos para o beneficiário final ocorre em tempo real por meio de canais digitais e cujo serviço está disponível para os usuários finais durante 24 horas por dia, todos os dias no ano, pelo BC, com os avanços tecnológicos e a expansão das fintechs”, afirmam Calife e França.

Aliás, a empresa que quer permanecer no mercado, mantendo-se competitiva, precisa estar por dentro do futuro dos meios de pagamento. “As transações ‘non-cash’ (sem dinheiro em espécie) e também sem bancos só aumentam. A popularização dos mobile payments vem mudando o hábito de pagamento dos consumidores no País, ou seja, o dinheiro físico vem dando espaço ao uso dos celulares. Já é realidade, por exemplo, o consumidor usar o seu cartão de crédito ou débito para pagar as suas compras sem estar com ele em mãos, apenas com o uso da tecnologia por aproximação do telefone com a máquina de cartão do estabelecimento”, avalia Kelly.

Para ela, entre as tendências em meio de pagamentos, é o aprimoramento da segurança por autenticação biométrica que deve trazer grandes inovações, entre elas, o reconhecimento pela íris, mapeamento de veias e até análise do batimento cardíaco como potenciais meios para garantir segurança e precisão nos pagamentos. “O varejista deve acompanhar essas mudanças. Quem sair na frente ganha competitividade, atraindo consumidores, impactando de forma positiva nas vendas”, alerta.

Foto: Shutterstock

Conhecimento é Tudo!

Edição 319 - 2019-06-06 Conhecimento é Tudo!

Essa matéria faz parte da Edição 319 da Revista Guia da Farmácia.