Patologias típicas dos meses mais frios do ano: o papel do farmacêutico

Coriza, mal-estar e febre são só alguns dos sintomas presentes nas infecções virais mais comuns nos meses frios do ano. Hábitos simples ajudam a evitar a transmissão das doenças

A chegada da temporada de outono-inverno pode vir acompanhada de lenços de papel, medicamentos e muito mal-estar. É a presença da gripe ou do resfriado, que se torna comum a uma grande parcela da população nesse período do ano.

Segundo informa o Ministério da Saúde (MS), o aumento dos casos de gripe no Brasil pode variar de acordo com a região. Os números tendem a crescer entre abril e junho nas Regiões Norte e Nordeste, por ser a época de maiores chuvas, enquanto a maior concentração do Sul e Sudeste é entre junho e outubro, já que têm invernos mais rigorosos.

Procura por Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs)

Com o aumento da incidência de gripes e resfriados, cresce, também, a procura por medicamentos que possam ajudar o paciente a se recuperar mais rapidamente das doenças, como os analgésicos, os antigripais e os antitérmicos.

Por isso, é importante que a farmácia esteja atenta a seus estoques e à organização correta da loja. O varejista deve considerar o histórico de vendas do ano anterior como base para o ano atual, além do histórico da saída do mês anterior, as informações fornecidas pelos fornecedores sobre as estimativas de lançamentos de novos produtos e as condições climáticas e de saudabilidade da estação atual.

Normalmente, no fim de fevereiro ou início de março, as compras já devem ser acrescidas proporcionalmente e irem subindo no decorrer do período, para que, no inverno, as lojas estejam totalmente abastecidas com as quantidades necessárias.

Fonte: consultora especialista em varejo farmacêutico, Silvia Osso

Entre os principais responsáveis pelo aumento da incidência das gripes e dos resfriados, está a aglomeração de pessoas em ambientes fechados. Com o frio, as pessoas tendem a ficar em locais fechados, sem ventilação, o que facilita a disseminação viral. Além disso, as temperaturas mais baixas diminuem o movimento dos pelos do nariz que filtram as impurezas, deixando passar os vírus com mais facilidade.

“Há, também, outras teorias. É possível que as temperaturas mais baixas e o clima mais seco permitam que os vírus permaneçam suspensos no ar por mais tempo. Além disso, o frio por si só promoveria uma supressão nas respostas de defesa do corpo, tornando-o mais suscetível às infecções”, revela a gerente médica de franquias gastro e respiratória do Aché Laboratórios Farmacêuticos, Dra. Jana de Ameixa Valentim Fonseca.

O que sentem os acometidos?

Os sintomas de gripe e resfriado são bastante parecidos, dificultando a distinção. Apesar disso, as doenças são causadas por vírus diferentes. Enquanto a gripe é estimulada por variantes do vírus influenza, os resfriados podem ser originados por mais de duzentos tipos de vírus.

De acordo com o otorrinolaringologista do Hospital Cema, Dr. Cícero Matsuyama, os principais sintomas são a febre, a tosse, a congestão nasal, o mal-estar e as dores de garganta e pelo corpo. Porém, as manifestações são mais exuberantes na gripe.

“Em geral, os sintomas da gripe são mais intensos e duradouros. As pessoas com resfriados costumam ter coriza, congestão nasal e espirros. A febre é pouco comum em adultos e, quando ocorre, normalmente é baixa. Já a gripe cursa também com febre mais alta, tosse, dores intensas no corpo e fadiga. Além disso, a gripe pode ter complicações mais graves, como a pneumonia, que são incomuns no resfriado”, complementa a Dra. Jana.

O papel do farmacêutico

Farmacêutico: Quais principais sintomas você está sentindo?

Paciente: Febre, coriza, dor de cabeça e no corpo e congestão nasal.

Farmacêutico: Desde quando?

Paciente: Ontem.

Farmacêutico: Qual a temperatura média que você apresenta desde ontem?

Paciente: Ao redor de 38ºC.

Farmacêutico: Esteve em contato com pessoas com gripe?

Paciente: Sim.

Farmacêutico: Tem rinite?

Paciente: Não.

Farmacêutico: Sente outros sintomas, como náuseas, diarreia, vermelhidão/manchas no corpo, dor nas articulações ou dor no peito?

Paciente: Não.

Farmacêutico: De quais medicamentos você faz uso?

Paciente: Não faço uso regular de medicamentos e não tenho doenças crônicas.

Farmacêutico: Há algum medicamento analgésico

e antitérmico de que faça uso eventual?

Paciente: Sim, dipirona.

Farmacêutico: Tem tosse?

Paciente: Não.

Farmacêutico: A obstrução nasal é sentida em algum período de tempo específico?

Paciente: Sim. Mais intensamente quando durmo.

Farmacêutico: Você costuma utilizar algum descongestionante nasal?

Paciente: Somente soro fisiológico (solução de cloreto de sódio a 0,9%) para instalação nasal.

Farmacêutico: Ótimo, então continue a fazer as instalações nasais com soro fisiológico porque ajuda muito no processo de eliminação do muco produzido. Tem algum problema cardíaco?

Paciente: Não.

Farmacêutico: Caso não seja suficiente a limpeza por instilação nasal de solução de cloreto de sódio, você poderá utilizar descongestionante nasal noturno (paracetamol, cloridrato de fenilefrina e maleato de carbinoxamina) que facilitará sua respiração. Caso você também tenha piora da congestão nasal e a solução de cloreto de sódio não seja suficiente para aliviar a obstrução nasal, poderá, também, utilizar descongestionante para uso durante o dia (paracetamol e cloridrato de fenilefrina) (cápsulas ou comprimidos, se preferir).

Outra conduta que você deverá fazer é ingerir bastante líquido, água e sucos e faça uma dieta leve, particularmente, nesses primeiros dias. Bebidas quentes, como os chás com limão, mel, gengibre, poderão ser de grande ajuda.

Outros recursos que você poderá usar serão: utilização de unguentos de uso tópico com mentol, cânfora e eucalipto como auxiliar para aliviar a congestão nasal. Em casa, tome banho quente e inale o vapor da água quente para facilitar a respiração. Poderá também utilizar um vaporizador ou umidificador.

Alguns outros cuidados devem ser lembrados: evitar produtos lácteos e chocolate e não faça esforço físico exagerado, como práticas em academia, e evite lugares com aglomeração.

Ao dormir, eleve o tronco ou a cabeça para que você possa se sentir melhor.

Se os sintomas se intensificarem ou aparecerem outros, procure um médico e anote todos os medicamentos que está tomando e os sintomas novos com a data de aparecimento para relatar ao médico.

Todas as pessoas estão sujeitas a pegar gripes ou resfriados, já que essas são as infecções virais mais comuns. Porém, as patologias são mais comuns em crianças, por elas ainda não terem adquirido defesas específicas contra a maior parte dos vírus circulantes.

Por isso, as crianças menores de cinco anos de idade, especialmente as que estão na faixa etária abaixo de dois anos, fazem parte de um grupo que é preciso ter mais atenção para que a gripe não evolua para um quadro mais grave. O mesmo acontece com idosos de mais de 65 anos de idade, as gestantes e pessoas com doenças respiratórias crônicas, problemas cardiovasculares ou deficiências do sistema imunológico.

“Na identificação de sintomas graves após 72 horas, como febre alta acima de 38ºC, falta de ar, prostração e fraqueza muscular, é necessário a consulta médica com um especialista e atenção especial para as complicações clínicas que, nos quadros iniciais, são rapidamente solucionadas com ou sem internação hospitalar”, alerta o Dr. Matsuyama.

Hábitos que ajudam

A transmissão do vírus ocorre por meio da saliva expelida pelas pessoas infectadas. Por isso, mudar algumas atitudes é essencial para diminuir a incidência das doenças. Entre elas, lavar as mãos com água e sabão frequentemente ou usar álcool em gel, cobrir a boca e o nariz ao espirrar ou tossir, não compartilhar copos, talheres e alimentos, procurar não levar as mãos à boca ou aos olhos, evitar aglomerações e contato com pessoas doentes e manter os ambientes arejados e limpos.

Se, mesmo assim, a doença acabar acontecendo, o paciente pode fazer a lavagem nasal com solução de cloreto de sódio a 0,9%, que auxilia no alívio dos sintomas por permitir a fluidificação e a remoção da secreção produzida nas vias aéreas.

Segundo a Dra. Jana, do Aché Laboratórios Farmacêuticos, alguns sintomas específicos podem ser combatidos por meio de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs), como analgésicos, antitérmicos, descongestionantes e expectorantes.

Mitos e Verdades sobre a vacina da gripe

A vacina causa gripe.

MITO A imunização é confeccionada com o vírus inativado, ou seja, morto. As pessoas que ficam gripadas após tomar a vacina, provavelmente adquiriram outra doença respiratória ou já tinham o vírus da gripe e a vacina não teve tempo de fazer seu efeito.

A vacina faz mal a gestantes.

MITO Como o vírus é inativo, a vacina não faz mal à mãe ou ao bebê. Pelo contrário, ela protege a gestante e o filho de possíveis infecções.

Vacina da gripe também imuniza contra resfriado.

MITO Como o vírus do resfriado é diferente do vírus da gripe, não há a proteção contra ambos.

É preciso tomar a vacina todos os anos.

VERDADE A cada ano, há diferentes tipos da gripe que podem não ser causadas pelos mesmos tipos de vírus circulantes nos anos anteriores. Além disso, ainda que os vírus sejam os mesmos, a imunidade da vacina se mantém por um período estimado de 12 meses, o que torna a vacinação anual ideal. Os meses antes do inverno são os mais indicados.

Todos devem tomar a vacina.

VERDADE Todas as pessoas são indicadas para tomar a vacina da gripe. Porém, há alguns grupos de risco, como os idosos, as crianças, as gestantes, os profissionais de saúde, e outros grupos que convivam com muita aglomeração de pessoas.

A vacina do posto de saúde é diferente da aplicada em clínicas particulares.

VERDADE Muitas clínicas particulares aplicam a vacina tetravalente (quatro cepas diferentes de vírus) e, nos postos, a vacina é trivalente (três cepas de vírus diferentes).

Além disso, todas as pessoas podem (e devem) se imunizar contra a gripe. A gerente médica do Aché Laboratórios explica que a vacina protege contra alguns sorotipos de vírus e, ainda que seja possível a infecção por outros tipos de influenza, alguns estudos mostram que, se imunizadas, as pessoas têm quadros mais leves da doença.

Apesar de ser difícil prever quais os vírus que circularão nos próximos anos, um grupo de especialistas se reúne e avalia as maiores possibilidades. Em 2018, a vacina quadrivalente imuniza contra os seguintes vírus:

  • Vírus similar ao influenza A/Michigal/45/2015 (H1N1) pdm09.
  • Vírus similar ao influenza A/Singapore INFIMH-16-0019/2016 (H3N2).
  • Vírus similar ao influenza B/Phuket/3073/2013.
  • Vírus similar ao influenza B/Brisbane/60/2008.

“Até o momento, não temos notificação de epidemia grave das cepas que circulam no Brasil, porém, toda atenção é importante, pois até agora o nosso País não apresenta cepas que atingiram o hemisfério norte no último inverno, causando um grande número de internações e mortes”, revela o otorrinolaringologista do Hospital Cema.

Foto: Shutterstock

Doenças de inverno

Edição 305 - 2018-04-01 Doenças de inverno

Essa matéria faz parte da Edição 305 da Revista Guia da Farmácia.