O risco da desidratação

Dependendo da severidade da falta de líquidos no organismo, todas as funções podem ficar comprometidas, mas as principais são as cardiovasculares, as renais e as neurológicas

A água é importante para o funcionamento de qualquer organismo e a falta dela pode trazer sérios prejuízos, levando até mesmo à morte. Com a entrada das altas temperaturas, o corpo perde uma quantidade maior de líquidos, o que requer mais atenção na hora de repô-los, para evitar a desidratação.

Mas o que é a desidratação? Para explicar, o clínico geral do Hospital Samaritano de São Paulo, Dr. Maurício Jordão, destaca que é preciso entender um pouco sobre a composição do sangue. “Há, no sangue, algumas células, como, por exemplo, os leucócitos, plaquetas e hemácias, e um líquido que compõe o plasma. Esse líquido é feito de água, íons (sódio e potássio), proteínas e gás carbônico. A desidratação acontece quando a pessoa perde o componente líquido do sangue, principalmente água e sódio.”

De acordo com a nefrologista do Centro do Rim e Diabetes do Hospital 9 de Julho, Dra. Zita Brito, a hidratação é regulada no organismo por hormônios que ajudam no controle da entrada e da saída de água. Quando ocorre uma perda maior que a reposição, o organismo inicia o processo de desidratação.

“Essas perdas, dependendo das condições ou doenças que as causam, podem levar a graus diferentes de gravidade e de perdas de eletrólitos (sais presentes nos fluidos orgânicos); que devem ser, nos casos mais graves, avaliados e tratados por um profissional médico”, completa o clínico geral do Hospital Santa Paula, Dr. Paulo Rocha.

Problemas desencadeados

A desidratação ocorre sempre que a perda líquida for maior que a ingestão de líquidos. Existem os excessos, que aceleram o processo, como, por exemplo, quadros de diarreia. Dependendo da severidade ou tipo da desidratação, o Dr. Rocha alerta que todas as funções do corpo podem ser comprometidas.

“Como o sangue é responsável pelo adequado funcionamento das células, quando seu componente líquido está em falta, a oferta de sangue é inadequada. Alguns órgãos toleram melhor a desidratação que outros. Geralmente, o rim é o primeiro a sentir os efeitos do problema, deixando de filtrar adequadamente o sangue”, explica o Dr. Jordão.

“A perda de água leva ao aumento do sódio no sangue e aumento da osmolaridade (quantidade de partículas dissolvidas em um determinado solvente), resultando em estimulação da sede e à diminuição da diurese, isto leva a um aumento da ingestão e à diminuição da eliminação de água para a restauração do equilíbrio”, completa a Dra. Zita.

As perdas de água podem ser classificadas, conforme sua forma ou mecanismo de perda, em dois tipos principais, como destaca o clínico geral do Hospital Santa Paula:

• Perdas sensíveis (facilmente quantificadas por profissional de saúde): urina, vômitos e fezes.

• Perdas insensíveis: transpiração e respiração.

“As perdas ocorrem pelo trato gastrointestinal (vômitos e diarreia), pela pele (sudorese e queimaduras), pelos rins (abuso de diurético ou ao urinar em excesso, como no diabetes descompensado) e na situação chamada de sequestro de líquido. Esta última ocorre quando o líquido fica retido e a perda não é aparente, como em fraturas extensas e obstrução intestinal”, detalha o clínico geral do Hospital Samaritano de São Paulo.

Sintomas e tratamentos

Uma desidratação de leve a moderada pode causar boca seca, sonolência, cansaço, sede. “A pessoa pode também apresentar dores de cabeça constantes, além de tonturas ou vertigens. Com a desidratação, também podem surgir pele seca, diminuição da produção de urina ou poucas lágrimas ao chorar”, detalha o endocrinologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Dr. Ricardo Navarrete.

“Em casos mais graves, a desidratação pode levar ao choque hipovolêmico (perda severa de fluidos, acarretando na queda da pressão arterial), insuficiência renal, confusão mental, rebaixamento do nível de consciência ou crises até convulsivas. Em casos extremos, a desidratação pode levar à morte do paciente”, completa o Dr. Rocha.

O primeiro sintoma é a sede, resposta orgânica fisiológica em que sistemas de “detecção” de perdas hídricas ou de alterações dos sais (eletrólitos) no sangue nos faz ter vontade de ingerir água ou líquidos. 

“Conforme a perda se intensifica, sintomas, como boca seca, perda do turgor da pele, olhos fundos, aumento da frequência cardíaca (taquicardia), diminuição da diurese (urina), queda da pressão arterial, letargia, sonolência e até mesmo coma podem ocorrem com a progressão da desidratação”, alerta.

Infelizmente, a sede nem sempre é um indicador confiável da necessidade do corpo por água, especialmente em crianças e idosos. “Por isso, a ingestão de quantidades extras de água em eventos ao ar livre em que há risco de aumento da sudorese é importante, além disso, os indivíduos devem evitar exercício e exposição durante os dias de índice de calor intenso”, orienta o Dr. Navarrete.

Outra dica fundamental é orientar os pacientes no que diz respeito ao consumo de álcool, especialmente quando o clima está quente, uma vez que o álcool aumenta a perda de líquido pela urina; fazer uso de roupas de cores claras e soltas se se está ao ar livre no calor; não permanecer o tempo inteiro no sol; controlar o diabetes, são algumas das maneiras de prevenir o problema.

Formas de eliminação de àgua pelo adulto

Trato respiratório – 400 mL
Pele (transpiração) – 500 mL
Urina – 500 mL
Fezes – 200 mL

Fonte: nefrologista do Centro do Rim e Diabetes do Hospital 9 de Julho, Dra. Zita Brito

Tratamento recomendado

Para uma desidratação que vai de leve a moderada, pode-se estimular a oferta de água das seguintes maneiras: 

• Bebericar pequenas quantidades de água;

• Ingerir bebidas isotônicas;

• Chupar picolés feitos de sucos de frutas e bebidas isotônicas;

• Beber por um canudo (funciona bem para alguém com cirurgia recente ou com feridas na boca).

Quando a desidratação é severa, será necessário tratamento médico de forma a restaurar o volume de sangue e fluidos corporais, para posteriormente determinar a causa da desidratação. São várias as condutas médicas, entre elas:

• Resfriar o corpo do paciente, se a causa for exposição excessiva ao calor;

• Fazer a reposição de líquidos via oral se não houver náusea e vômitos ou desidratação excessiva. Caso contrário, recomenda-se fazer a reposição intravenosa;

• Fazer exames de sangue e urina para determinar as causas da desidratação.

Sob uma dieta normal, sem aumento de perda hídrica, o mínimo de água ingerida por um adulto é estimado em 500 mL por dia, baseado no balanço de água total ingerida e produzida, e o mínimo da taxa de água perdida (diurese mínima de 500 mL).

Adultos normais devem ingerir no mínimo 1.300 mL de água por dia, contando com produção de 300 mL endógena.

• Ingestão de água – 500 mL.

• Água na comida – 800 mL.

• Água da oxidação – 300 mL.

Fontes: endocrinologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Dr. Ricardo Navarrete; e nefrologista do Centro do Rim e Diabetes do Hospital 9 de Julho, Dra. Zita Brito

Risco em adultos e crianças

Qualquer pessoa pode ficar desidratada se perder muitos líquidos. Quem tem maior risco são os bebês e crianças, devido ao baixo peso corporal e à alta rotatividade de água e eletrólitos.

Eles também são o grupo mais propenso a sofrer de diarreia. Os idosos também estão mais suscetíveis, pois a capacidade do organismo para conservar a água é reduzida, o senso de sede é menos aguçado e há uma menor capacidade de responder às mudanças de temperatura, explica o Dr. Navarrete. 

“A febre aumenta as perdas insensíveis (não percebidas) pela pele na tentativa de resfriar o corpo. Febres mais altas podem levar à sudorese. Vômitos e diarreia aumentam as perdas pelo estômago e intestinos, que também levam à diminuição de líquidos do corpo”, finaliza o Dr. Jordão, do Hospital Samaritano de São Paulo. 

Atenção! Especialistas alertam que o melhor indicador de hidratação é a cor da urina: clara, significa que o corpo está bem hidratado, enquanto uma cor amarela ou âmbar-escuro, geralmente, são sinais de desidratação.

Graus da desidratação

Primeiro Grau ou Leve: sinais discretos de perda do líquido intersticial: 3% a 5% de perda de peso.

Segundo Grau ou Moderada: sinais mais evidentes: 6% a 9% de perda de peso.

Terceiro Grau ou Grave: sinais muito evidentes de perda de líquido (intersticial e vascular), além de sinais de choque: maior ou igual a 10% da perda de peso.

Fonte: endocrinologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Dr. Ricardo Navarrete


Autor: Vivian Lourenço

 

Estrada do crescimento

Edição 290 - 2017-01-01 Estrada do crescimento

Essa matéria faz parte da Edição 290 da Revista Guia da Farmácia.

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