Alerta para a Dengue

Muitas pessoas picadas não apresentam sintomas

 

A temporada dos dias quentes, com pancadas de chuva a qualquer momento, está para iniciar. E com ela também um perigo iminente e que passa despercebido pela maioria, até a picada e o aparecimento dos primeiros sintomas: a dengue.

Segundo o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (MS), de 3 de janeiro a 9 de julho de 2016 foram registrados 1.399.480 casos da doença, ou seja, 684,5 casos por 100 mil habitantes. 

As maiores incidências ocorreram nas regiões Centro-Oeste, com 999,6, e Sudeste, com 976,6 casos por 100 mil habitantes. O Nordeste, no mesmo período, apresentou taxa de incidência de 521,6; o Sul, de 261,6; e o Norte, de 207,3 casos por 100 mil habitantes. Já em 2015, foram 1.441.131 casos em todo o País, com uma taxa de incidência de 705 casos para 100 mil habitantes (ou 0,7% da população). 

“Os números sugerem que deveremos ter mais casos este ano do que em 2015. Isso pode acontecer pelo aumento real da incidência da doença, mas também pelo fato de notificarmos mais casos, uma vez que estão todos mais atentos à patologia devido à presença concomitante da chikungunya e da zika”, alerta o diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), Rodrigo Lima 

Diferentes tipos e sintomas 

Segundo a professora do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Dra. Ione Aquemi Guibu, a dengue é causada por um vírus (Arbovirus, gênero Flavivirus) com quatro sorotipos diferentes: DENV1, DENV2, DENV3 e DENV4. A transmissão é feita por mosquitos, Aedes aegypti. 

“O tempo quente, aliado às chuvas de verão, possibilitam o aumento da proliferação. O período considerado ideal para a reprodução do mosquito é de sete a nove dias para se tornar adulto”, explica a Dra. Ione.

Além disso, os ovos do Aedes aegypti, que eclodem em menos de trinta minutos após contato com a água, estão em sua maioria presentes no ambiente domiciliar e podem aguardar, por até um ano, as condições favoráveis. 

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Expectativa de transmissão

Considerando o aumento da incidência, isto deve ter influência direta da insuficiência de ações preventivas conduzidas pelas autoridades sanitárias este ano, ocorridas em parte pela falta de destinação de recurso financeiro adequado e pelas indefinições políticas. 

“As ações de prevenção devem ser muito bem planejadas e coordenadas para que sua execução traga os resultados de que precisamos”, pontua o Dr. Lima.

Observam-se no gráfico a baixo os casos de dengue nos anos 2014, 2015 e 2016 até a semana 27, ou seja, até 12/7/2016. Nota-se que houve nítido aumento de casos de 2014 para 2015 e, em 2016, houve maior número de casos nas primeiras semanas do ano com queda acentuada a partir da 15ª semana; em 2015, a queda foi posterior.

A frequência de casos de dengue em 2017 dependerá de vários fatores, de acordo com a Dra. Ione:

a) Da efetividade das medidas de prevenção que devem ser tomadas pela população e pelos órgãos governamentais, durante todos os meses, independentemente do tempo;

b) Da circulação dos quatro sorotipos virais. Atualmente, 89,7% dos casos de dengue pertencem ao sorotipo 1, assim como no ano de 2015. Portanto, as pessoas que contraíram dengue tipo 1 ficarão imunizadas para este sorotipo, mas poderão ser infectadas pelos outros três; ou seja, é possível ter dengue mais de uma vez, pois são quatro sorotipos. 

Prevenção e tratamento

Não há um tratamento específico para a dengue. O que se recomenda é basicamente a hidratação intensa (que pode ser feita por via oral na grande maioria dos casos, mas, às vezes, é preciso usar a via venosa) e a utilização de medicamentos sintomáticos (para dor, febre, náuseas, coceira).

Os medicamentos que devem ser evitados em casos de suspeita são os que contêm em sua formulação anti-inflamatórios não esteroidais e salicilatos; eles são contraindicados na suspeita de dengue, qualquer que seja a fase da doença. 

“Anti-inflamatórios, como diclofenaco, ibuprofeno, nimesulida, para citar os mais comuns, além do Ácido Acetilsalicílico (AAS). Esses medicamentos aumentam o risco de surgimento das complicações hemorrágicas”, completa o diretor de comunicação da SBMFC.

É fundamental, para a professora do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a participação da população para a eliminação dos focos do mosquito, não somente na sua própria casa, mas também na do vizinho, na rua, nos terrenos baldios. 

É preciso:

• Identificar e eliminar os criadouros.

• Comunicar a existência de outros criadouros, solicitando providências aos responsáveis.

• Propor atividades sobre a dengue no bairro.

• Orientar colegas sobre as formas de prevenção. 

• Fazer vistoria, periodicamente, evitando assim o surgimento de novos criadouros.

• Transmitir as orientações recebidas para pais, familiares, amigos, vizinhos, etc.

• Se possível, utilizar telas em janelas ou portas para evitar a entrada de insetos.

• Para proteção individual, usar repelentes. As grávidas são orientadas a utilizar roupas com mangas compridas e calças para diminuírem a área de exposição a picadas do mosquito.

Para eliminar criadouros:

• Limpar o quintal.

• Não deixar a água nos pratos dos vasos de plantas ficar acumulada.

• Vasos de flores ornamentais – trocar a água duas vezes por semana, lavando o vaso com bucha e sabão.

• Colocar garrafas vazias de cabeça para baixo.

• Tampar tonéis, depósitos de água, caixas d’água e qualquer tipo de recipiente que possa reservar água.

• É importante tirar a água dos pneus e guardá-los em lugares cobertos, pois a parte de dentro do pneu é um local onde o Aedes aegypti põe ovos.

• O mosquito também pode se reproduzir em recipientes descartáveis. Copos descartáveis, embalagens, latas e garrafa devem ser colocados no lixo. Observe se o lixo está tampado.

• Piscinas: a falta de tratamento regular da água pode tornar o local um grande criadouro.

• Manter ralos de pia, lavatório e tanque, sem uso frequente, tampados. Se o uso for frequente, é necessário mantê-los tampados, telados, além de adicionar água sanitária semanalmente.

• Calhas, canaletas de drenagem para água de chuva também podem acumular água limpa e parada. São lugares preferidos pela fêmea para colocar seus ovos. Elas devem estar sempre limpas e sem pontos de acúmulo de água. 

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Uso de inseticidas e repelentes

Antigamente, as pessoas só se preocupavam com picadas de insetos quando iam à praia ou ao campo, porém, hoje em dia, o uso de repelentes se tornou indispensável diariamente para proteção inclusive nas cidades, dentro de casa, shoppings, etc. 

“O mosquito Aedes aegypti é o responsável pela epidemia de zika vírus e dengue, além de transmitir a febre chikungunya e febre amarela. Para se prevenir da contaminação pelo mosquito, o repelente é a arma mais eficaz”, destaca a gerente de produtos da Cimed, Priscilla Florêncio. 

Os inseticidas e repelentes combatem o vetor na sua fase adulta. O grande uso de inseticidas no Brasil em décadas fez com que aumentasse o número de mosquitos resistentes ao produto, por isso, a Dra. Ione Aquemi Guibu destaca que o inseticida deve ser utilizado de forma consciente, complementar, em regiões com epidemias ou para locais com focos de mosquitos. 

Com relação aos repelentes, os formatos devem ser escolhidos de acordo com a preferência do consumidor. “Alguns podem preferir a utilização de cremes, outros, de sprays e aerossóis, dependendo da aplicação mais rápida e conveniência de cada um. Acima de tudo, os consumidores devem consultar e seguir as instruções do rótulo”, orienta a presidente da SC Johnson Brasil, Stephane Reverdy.

Hoje, no Brasil, Priscilla destaca que existem três tipos de repelentes: à base de DEET, ICARIDINA e IR3535 onde o DEET é o princípio ativo mais comum e utilizado. Ele é a designação popular do dietílico-toluamida, um líquido oleoso incolor com um odor suave, que é um repelente de insetos eficaz. Muitos insetos, incluindo mosquitos adultos fêmeas, são atraídos pelo odor do gás dióxido de carbono (CO2) que é exalado pelas pessoas.

 “O DEET afeta os receptores de cheiro em insetos que picam, o que torna difícil para eles nos reconhecerem como uma fonte de alimento”, completa Stephane.

Segundo ela, os repelentes pessoais devem ser aplicados em todas as partes expostas do corpo e podem ser utilizados também no rosto; mas primeiro devem ser colocados nas mãos e, então, cuidadosamente espalhados pela face, evitando a região dos olhos, boca e narinas. 

“Os repelentes pessoais devem ser usados sobre a pele exposta e roupas para evitar a picada de mosquitos. É importante sempre se certificar de nunca aplicar embaixo das roupas. Se a pessoa fizer uso também do protetor solar, deve aplicá-lo primeiro e, em seguida, sobre ele, o repelente. Não permita que crianças manuseiem repelentes. Os adultos devem aplicar qualquer spray ou creme primeiro em suas mãos, antes de aplicá-lo em uma criança. Lembre-se de que cada repelente tem instruções específicas para aplicação, por isso, deve-se sempre consultar o rótulo do produto antes de usá-lo”, orienta Stephane. 

Vacina contra a dengue

Aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil, em dezembro de 2015, a vacina chega como uma importante ferramenta de saúde pública para contribuir na redução dos gastos com internações, uma vez que os estudos demonstraram que, com a vacina, há redução de 81% das internações e de 93% dos casos graves. A eficácia global é de aproximadamente 66%, o que significa que em um grupo de um milhão de pessoas, 660 mil evitariam contrair a doença, ou a prevenção de dois em cada três casos da doença.

A vacina contra dengue da Sanofi Pasteur é administrada em três doses com intervalos de seis meses (completando um ano da primeira até a última dose). “A partir da primeira dose, a vacina já oferece proteção, mas é fundamental receber todas para garantir que a imunização seja duradoura e equilibrada a todos os sorotipos de dengue”, orienta a diretora médica da Sanofi Pasteur, Dra. Sheila Homsani.

Estudo publicado na Revista Brasileira de Economia da Saúde avaliou o potencial do impacto da vacinação contra a dengue no Brasil e mostrou que se implementado um programa de vacinação de rotina (contemplando crianças de nove até dez anos de idade), haverá uma redução de 22% dos casos de dengue, em um período de cinco anos. Entretanto, se for adotado um programa mais amplo, com vacinação de rotina a partir dos nove anos de idade, atingindo a população até 40 anos de idade, a redução dos casos de dengue alcançaria 81%, nesse mesmo período.

O estudo demonstrou que, com a implementação de um programa nacional de imunização que inclua a vacinação de rotina a partir de nove anos de idade e vacinação específica da população de até 40 anos de idade, se obteria uma redução de 92% dos casos de dengue.

A Sanofi Pasteur informou que recebeu o preço de referência da vacina contra dengue estabelecido pelo Comitê Técnico Executivo da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) para o mercado privado. O valor varia entre R$ 132,76 e R$ 138,73, de acordo com a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de cada estado.

Incidência do zika vírus

A zika é uma doença introduzida no Brasil em 2015, causada por um vírus identificado em Uganda, em 1947, denominado zika. O principal meio de transmissão é pelo mesmo Aedes aegypti. 

Os sintomas, como explica a professora do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Dra. Ione Aquemi Guibu, são semelhantes aos da dengue, porém o que mais tem assustado a população é a possibilidade de uma grávida infectada com zika ter um bebê com microcefalia.

“Igualmente, são relatados casos de pessoas que tiveram zika e posteriormente apresentaram Síndrome de Guillain-Barré, com acometimento de músculos, causando fraqueza e paralisia dos membros superiores e/ou inferiores, sendo mais grave quando atinge a musculatura respiratória.”

Até maio de 2016, foram notificados 138.108 casos suspeitos de zika, tendo sido confirmados 49.821 e três óbitos. Foram notificadas 11.557 gestantes e 4.390 confirmados. “A zika vem aumentando sua distribuição no Brasil, lembrando que ainda a maior frequência tem sido no Nordeste. Se não houver controle do vetor, a probabilidade de aumentar a transmissão no País é grande”, alerta a Dra. Ione.

Autor: Vivian Lourenço



Campanha Preventiva

Edição 288 - 2016-11-01 Campanha Preventiva

Essa matéria faz parte da Edição 288 da Revista Guia da Farmácia.

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