Protagonistas do inverno

Enquanto a temperatura cai, o número de pessoas acometidas por asma ou rinite aumenta. A prevenção é a melhor maneira de combater o mal-estar

 

No Brasil, 15 milhões de pessoas são afetadas por asma e 20 milhões têm rinite alérgica. A cada dez brasileiros, dois são afetados por uma doença respiratória crônica, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). E se muitos já sofrem com as doenças crônicas, muitos outros viram estatística com as alergias respiratórias, que pioram até 50% nos meses mais frios do ano, segundo o otorrinolaringologista do Hospital Cema, Dr. Andy Vicente.

Diferentes agentes agravam o quadro alérgico nesta época. A mudança brusca de temperatura baixa a imunidade, assim como os ambientes mais fechados facilitam a transmissão de vírus.

“O frio e o tempo seco acabam ressecando muito o revestimento mucoso do sistema respiratório, que funciona menos, e acumulando mais secreção, o que pode virar uma infecção”, explica o Dr. Vicente.

Os quadros de alergia podem ser sinusite, bronquite, asma e rinite – sendo os dois últimos os mais comuns. Os números da OMS revelam que a rinite alérgica acomete aproximadamente 20% a 25% da população em geral. Embora com sintomas de menor gravidade, está entre as dez principais razões no atendimento primário à saúde no Brasil.

                                             DOENÇAS RESPIRATÓRIAS CRÔNICAS

 

Nem sempre as alergias respiratórias são tão fáceis de lidar. As doenças podem evoluir para um quadro crônico, quando não há mais cura. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as Doenças Respiratórias Crônicas (CRD) são aquelas que acometem as vias respiratórias e outras estruturas dos pulmões.

Para que as patologias possam ser controladas e o paciente não tenha tantas crises, é necessário entender quais são as causas que inflam a possibilidade de uma crise. Saiba mais sobre cada uma das doenças, abaixo:

Rinite: é a inflamação da mucosa que reveste internamente o nariz que ocorre por uma reação imunológica exacerbada do corpo a substâncias alergênicas. Coriza no nariz, entupimento nasal, coceira nos olhos, ardor nos olhos e espirros constantes são alguns dos sintomas. O quadro de rinite pode evoluir para a necessidade de uma cirurgia. Isso acontece quando os medicamentos e as vacinas não são mais eficazes.

Sinusite: é uma inflamação autolimitada nos seios da face que pode acontecer por causa de qualquer quadro gripal viral. Após 12 semanas de alergia, é considerado um quadro crônico. Os principais sintomas são dor de cabeça, secreção amarela/esverdeada, tosse com catarro. Quem tem rinite tem predisposição para desenvolver sinusite.

Asma: o que popularmente é chamado de “bronquite”, na verdade, é asma. Durante uma crise, a mucosa dos brônquios fica com acúmulo anormal de líquidos, estreitando as vias áreas e reduzindo a passagem de ar para dentro e para fora dos pulmões. A asma tem quatro diferentes graus:

• Grau 1 – Intermitente: sintomas ocorrem uma vez por semana, os despertares noturnos quase não acontecem e o dia a dia não é afetado.

• Grau 2 – Persistente leve: crise pode acontecer uma ou mais vezes por semana, mas pelo menos uma vez por dia. O paciente pode despertar uma ou mais vezes no mês durante a noite.

• Grau 3 – Persistente moderada: sintomas diários que afetam a vida do paciente, além de acordar durante a noite toda semana. 

• Grau 4 – Persistente grave: sintomas diários ou contínuos, atividade limitada e paciente despertando praticamente todas as noites.

Bronquite: junto com o enfisema pulmonar, a bronquite crônica é um fatores da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). De acordo com a OMS, em todo o mundo, 80 milhões de pessoas sofrem com DPOC grave e outras milhões com DPOC ligeira. Enquanto as vias respiratórias que são reduzidas na asma voltam ao normal, isso não ocorre no quadro de bronquite crônica. Entenda os quatro graus de DPOC:

• Grau 1: limitação leve (mais de 50% do fluxo aéreo funcionando), tosse crônica e expectoração estão frequentemente presentes. O paciente pode não entender que a função pulmonar não está trabalhando bem.

• Grau 2: limitação ainda leve, aumento de falta de ar ao fazer esforços, tosse e expectoração mais frequentes. 

• Grau 3: perda da função pulmonar (menos de 50% funcionando), ainda não há a presença de muitos sintomas.

• Grau 4: perda da função pulmonar, dificuldade para respirar, dificuldade para realizar exercícios e tarefas do dia a dia e fadiga.

Fontes: otorrinolaringologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Dra. Estelita Betti; médico alergista do Hospital Sírio-Libanês, Dr. Luis Felipe Ensina; otorrinolaringologista do Hospital Cema, Dr. Andy Vicente; e Organização Mundial da Saúde (OMS)

 

A otorrinolaringologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Dra. Estelita Betti, afirma que a rinite tem sintomas parecidos a uma gripe, não provoca febre e não é infecciosa. “Com a rinite, o paciente vai ter coceira no nariz, espirro, nariz entupido, coriza clara como se fosse água escorrendo do nariz e, às vezes, pode ter coceira nos olhos, dentro do ouvido e na garganta e pode ter dor de cabeça. Na asma, os sintomas são falta de ar, cansaço, chiado no peito como se fosse um ‘miado de gato’ e tosse”, complementa o médico alergista do Hospital Sírio- -Libanês, Dr. Luis Felipe Ensina.

Como em outras doenças, crianças, idosos e pessoas com patologias crônicas podem ter maior incidência. “Dados da OMS relatam que a rinite afeta 10% dos adultos e 20% das crianças. No Brasil, estima-se que 10% da população tenha sintomas de asma e 30%, de rinite”, pontua a Dra. Estelita.

O Dr. Ensina frisa a preocupação, também, com quem tem pais alérgicos. Uma criança que tem mãe com rinite aumenta suas chances em 40% de também desenvolver a doença. Se ambos os pais têm, essa porcentagem pode subir para 60% ou até 80%. 

Prevenção e tratamento ajudam nas crises

Os pacientes que sofrem com as alergias respiratórias podem se prevenir de diferentes maneiras para não ter uma crise. O Dr. Ensina aborda a importância de conhecer o que provoca a alergia. “Normalmente, as causas mais comuns são pelo de animais, fungos, mofo, ácaro ou poeira. Depois de identificado, é ficar o mais longe possível do que faz mal.”

A OMS cita alguns outros fatores de risco para desenvolver doenças respiratórias (não somente alérgicas, mas crônicas): hábito de fumar cigarro ou tabagismo passivo; poluição doméstica; poluição ambiental; alérgenos; e exposição a riscos ocupacionais (como poeira e substâncias químicas).

A hidratação é fator determinante para ajudar na prevenção de todas as alergias respiratórias, já que um dos agravantes é o tempo seco e frio que prejudica o funcionamento das mucosas nasais.

A otorrinolaringologista do Albert Einstein cita outras maneiras de preocupação: evitar ambientes fechados e aglomerados; deixar a casa bem arejada e com cortinas laváveis; evitar bichos de pelúcia e tapetes; fazer boa higiene nasal.

O Dr. Vicente alerta para a importância de ter boas noites de sono e tentar diminuir o estresse diário, já que o cansaço diminui a imunidade. 

A baixa imunidade pode estar atrelada a outras doenças que também têm maior incidência nos meses mais frios do ano. Por isso, é importante ter cuidado com ações que podem fazer com que um resfriado ou uma gripe sejam contraídos. De acordo com o médico do Hospital Cema, a vacinação para gripe é importante (principalmente para os grupos de risco) – assim como não dormir com o cabelo molhado ou sair da cama quente e pisar no frio – para ajudar a prevenir doenças virais.

Os cuidados nem sempre são o suficiente para que uma pessoa não tenha uma crise. Caso a alergia continue, o paciente poderá recorrer a medicamentos, como antialérgicos sistêmicos e tópicos. A umidificação de ambientes auxilia na melhora da respiração e diminuição do entupimento das vias nasais.

Por fim, aqueles que sofrem com muitas crises de alergias respiratórias devem fazer tratamentos para evitar a reincidência. “Pode ser um tratamento medicamentoso ou imunoterapia – vacinas para a alergia. Ambos são preventivos”, afirma o Dr. Ensina. 

Pesquisas farmacêuticas

Edição 295 - 2017-06-01 Pesquisas farmacêuticas

Essa matéria faz parte da Edição 295 da Revista Guia da Farmácia.

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