Saúde ocular: cuidados devem ser frequentes

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 285 milhões de pessoas estão visualmente prejudicadas no mundo

O Dia Mundial da Saúde Ocular, comemorado em 10 de julho, foi criado para chamar a atenção sobre a importância dos cuidados com os olhos e para alertar a população sobre a cegueira e outros problemas que podem trazer riscos para a visão. A prevenção deve ser frequente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 60% a 80% dos casos de cegueira em todo o mundo são evitáveis e tratáveis se o acometido receber tratamento correto no tempo certo.

Estimativas da OMS mostram que 285 milhões de pessoas estão visualmente prejudicadas. “A visão é o sentido responsável pela maior parcela de interação com o mundo. A cegueira é reconhecida como um dos principais temores e redutores da qualidade de vida em geral. Além disso, diversas doenças oftalmológicas são indolores e silenciosas, apresentando sinais apenas em estágios avançados. Cuidados com os olhos e visitas regulares ao oftalmologista ajudam a garantir uma boa saúde ocular”, orienta o oftalmologista do Hospital de Olhos (H.Olhos), Dr. Ibraim Viana Vieira.

Atenção desde sempre

Os cuidados com a visão começam cedo. A primeira visita ao oftalmologista deve ser feita nos primeiros meses de vida para descartar a presença de doenças congênitas. Depois disso, consultas anuais são recomendadas até os sete anos de idade. Nessa fase, o sistema visual está em processo de formação e pequenas alterações podem levar a danos permanentes na qualidade da visão.

“Entre 8 e 14 anos de idade, os erros de refração, como a miopia (dificuldade de enxergar objetos que estão longe) e a hipermetropia (dificuldade de enxergar objetos que estão próximos), são os problemas que normalmente acometem as crianças e os pré-adolescentes. Na fase adulta, a partir dos 40 anos de idade, outras doenças começam a se tornar mais frequentes. Marcadamente, a presbiopia (vista cansada) se desenvolve nessa idade, dificultando a visão de perto. Chegando na faixa etária dos 50 anos, aumenta-se o risco de duas doenças oculares. O glaucoma é a mais grave; provoca lesão nas fibras do nervo óptico e, se não tratado, pode levar à cegueira. A catarata também pode aparecer. A patologia causa a opacificação do cristalino (lente natural do olho), que resulta em uma diminuição progressiva da visão. Após os 60 anos, além de maior incidência de catarata, alguns indivíduos podem apresentar sinais de degeneração da mácula, que é a região de maior capacidade visual da retina”, explica o Dr. Vieira.

De acordo com o oftalmologista e diretor clínico do Hospital de Olhos de São José do Rio Preto (SP) – (HORA), Dr. Carlos Eduardo Cury Júnior, existem alguns exames preventivos que devem ser realizados, como o de refração (exame de óculos), lâmpada de fenda (biomicroscopia), medida da pressão intraocular e o exame de fundo de olho. “Existem ainda exames complementares indicados quando há suspeita de alguma doença. São eles: campo visual, retinografia, topografia da córnea, ultrassom, tomografia da retina, etc. É muito importante saber se existe algum histórico familiar de doença ocular, como glaucoma ou catarata, realizar avaliação oftalmológica periódica (uma vez ao ano), usar óculos com proteção UV, ter boa alimentação, praticar exercícios físicos, controlar possíveis doenças que afetam a visão (diabetes e hipertensão arterial) e tratar eventuais doenças oculares”, explica o Dr. Cury Júnior.

A cegueira pode ser irreversível em muitos casos, já que o olho é um órgão que não pode ser transplantado por inteiro. “Muitas doenças que levam à perda total da visão, quando diagnosticadas precocemente, são controladas e evitam a cegueira. Os cuidados começam no nascimento, com o Teste do Olhinho, e devem ser mantidos durante a vida toda, porque os olhos são as janelas para o mundo”, comenta o médico retinólogo referência na América Latina e sócio da unidade do Hospital Oftalmológico de Brasília (DF) – (HOB), Dr. Sérgio Kniggendorf.

Vitaminas para prevenção

Um estudo realizado recentemente pelo King’s College London, na Inglaterra, confirmou os benefícios da vitamina C na defesa dos olhos. Durante uma década, 324 pares de gêmeas com idades entre 50 e 83 anos de idade foram acompanhadas, e a velocidade de progressão da catarata foi medida com fotos do cristalino. As voluntárias também preencheram um questionário alimentar, com informações sobre ingestão de nutrientes, e os dados revelaram que em mulheres com maior consumo de ácido ascórbico (vitamina C) houve redução de 33% no ritmo de evolução da catarata.

Outro ponto importante do estudo sugere que a ingestão de vitaminas e minerais contribuiu para a catarata não se desenvolver, porém, o manganês e a vitamina C reduziram em 19% a probabilidade da doença.

Segundo o Dr. Vieira, o nutriente mais importante para a visão é, sem dúvida, a vitamina A. “Ela é essencial para o ciclo dos fotorreceptores, células da retina que possibilitam a visão. A deficiência desse micronutriente pode causar xeroftalmia (olho seco), redução da visão no escuro e, nos piores casos, cegueira. A luteína é uma substância ‘parente’ da vitamina A e ajuda a reduzir o risco de degeneração macular. O ômega-3, apesar de alguma controvérsia, melhora a qualidade da lágrima e reduz os sintomas de olho seco”.

Já o Dr. Cury Júnior diz que estudos demonstram que o ômega-3 auxilia no tratamento do olho seco e as fórmulas que contêm antioxidantes (vitaminas A , C, E e zinco, zeaxantina e luteína) preservam as células da retina contra a degeneração.

Glaucoma: doença silenciosa

O glaucoma constitui um grupo de doenças oculares que “rouba” a visão e geralmente no estágio inicial não produz qualquer sintoma. De acordo com a OMS, a doença é a primeira causa de perda irreversível da visão no mundo, tendo registrado 2,4 milhões de novos casos recentemente. Já no Brasil, a Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) estima que 1 milhão de homens e mulheres convivam com o problema.

“O glaucoma é uma doença que afeta o nervo óptico causando a perda irreversível de suas fibras nervosas. Geralmente, está associado a um aumento da pressão intraocular e pode ser desenvolvido desde o período intrauterino, porém, é mais incidente a partir dos 60 anos de idade”, revela o Dr. Cury Júnior.

De acordo com o especialista em cirurgia refrativa, catarata e glaucoma, e membro da American Academy of Ophthalmology e da International Society of Refractive Surgery, Dr. Marco Olyntho Júnior, na doença, a perda da visão é provocada por danos ao nervo óptico, que simbolicamente representa um cabo elétrico com milhões de fios que se conectam aos fotorreceptores, que são as estruturas responsáveis por transformar o que se enxerga em impulsos elétricos. “Estes impulsos são conduzidos pelo nervo óptico até a região posterior do cérebro, que é a região responsável pelo processamento das imagens recebidas pelo olho. Ainda não se sabe ao certo o que causa o glaucoma, nem existe um tratamento específico. Através da análise do nervo óptico no exame oftalmológico ou com o uso de exames que medem o campo visual e a sensibilidade dos fotorreceptores é possível diagnosticar e avaliar a progressão da doença, que acomete inicialmente a periferia da visão, por isso dificilmente o paciente percebe seu início; progressivamente as fibras nervosas, ou seja, os fios que formam o nervo óptico, começam a morrer e consequentemente perdem a capacidade de transmitir as imagens para o cérebro”.

O glaucoma apresenta diversas formas de desenvolvimento, acometendo crianças na sua forma congênita, associado a outras doenças oculares; por transmissão familiar e pelo envelhecimento. “A melhor forma de controlá-lo é com o diagnóstico precoce e tratamento adequado. O glaucoma pode ser tratado com sucesso, mas a detecção antecipada é vital”, orienta o Dr. Olyntho Júnior.

DMRI apresenta baixa de visão progressiva

A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) acomete a área central da retina, chamada de mácula, e evolui com baixa de visão progressiva. “O tecido da retina vai perdendo progressivamente suas células. A doença afeta de maneira crescente os pacientes a partir dos 60 anos de idade e até 20% das pessoas acima dos 80 anos”, diz o Dr. Cury Júnior.

Segundo o chefe do setor de retina do Hospital de Olhos (H.Olhos), Dr. Antonio Sérgio Leone, a DMRI  ocorre com a degeneração de células responsáveis pelo metabolismo retiniano e tem como consequência a perda da função das células fotorreceptoras. “Afeta os olhos com a perda da região mais nobre da retina, que é a região macular. Estima-se que aproximadamente 30 milhões de pessoas são afetadas no mundo pelos vários estágios da doença”.

O tratamento da DMRI depende das fases da doença. “No início do quadro é possível a administração de complexos vitamínicos com elementos específicos para a nutrição retiniana. Quando o quadro evolui, com sangramentos intra ou sub-retinianos, o tratamento requer o uso de medicamentos de aplicação intraocular. Estudos genéticos e de segmentos populacionais permitem agrupar as pessoas com mais riscos de ter a doença, por isso a presença de familiares com o problema merece atenção dos demais. Alguns hábitos são associados à patologia, como tabagismo e exposição excessiva à luz ultravioleta”, revela o Dr. Leone.

Olho seco pode estar associado a fatores ambientais

A síndrome do olho seco é provocada por alterações na composição ou produção das lágrimas, prejudicando a lubrificação dos olhos. “Olho seco é uma doença multifatorial das lágrimas e da superfície ocular (pálpebras, conjuntiva e córnea) que causa sintomas de desconforto, alterações visuais, instabilidade do filme lacrimal e está associada à hiper-osmolaridade do filme lacrimal e à inflamação da superfície ocular. No último consenso sobre a síndrome do olho seco (DEWS 2017) foram acrescentadas as alterações neurossensoriais”, explica a especialista em córnea e doenças oculares externas do H.Olhos, Dra. Luciana Olivalves.

O olho seco pode ocorrer por deficiência de lágrima, por evaporação da lágrima ou por uma associação dos dois fatores. “Existe uma alteração inicial no filme lacrimal, quantitativa e/ou qualitativa, que, associada aos fatores ambientais, variações hormonais e condições sistêmicas, desencadeia o quadro de olho seco. Estudos epidemiológicos indicam que mulheres e idosos possuem maior risco para o problema. Doenças sistêmicas como artrite reumatoide, diabetes e alterações da tireoide elevam o risco para desenvolver olho seco. Os usuários de lente de contato e de medicações sistêmicas como anti-histamínicos, anti-hipertensivos, antidepressivos e reposição hormonal apresentam sintomas de olho seco com maior frequência. A prevalência da doença varia consideravelmente, dependendo da população avaliada e fatores associados. A incidência é similar em todo o mundo, com taxas variando entre 7% e 33%”, comenta a Dra. Luciana.

Segundo ela, as lágrimas artificiais ajudam a melhorar o filme lacrimal, tanto na quantidade como na qualidade da lágrima, dependendo da sua composição. “Se for olho seco de grau leve, o ideal é usar as lágrimas artificiais quatro vezes ao dia, associadas à pomada ou gel lubrificante à noite, antes de deitar. Se for moderado, as lágrimas artificiais devem ser sem preservativos, para que possam ser usadas várias vezes ao dia. Muitas vezes há necessidade de utilizá-las em conjunto com anti-inflamatório tópico.

Conjuntivite: casos aumentam no inverno

A conjuntivite é a inflamação da conjuntiva, membrana transparente e rica em vasos sanguíneos que reveste o globo ocular. Existem vários tipos de conjuntivite: as infecciosas (viral, bacteriana, fúngica, parasitária), as alérgicas, as químicas e as tóxicas.

“As conjuntivites virais são de extrema importância devido ao fato de serem contagiosas e por cursarem muitas vezes de forma arrastada e com complicações importantes, decorrentes do processo viral. Em geral, ataca os dois olhos (de forma assimétrica) e pode durar de sete a 15 dias. Já as conjuntivites alérgicas não são contagiosas, mas cursam de forma crônica com exacerbações em determinadas épocas do ano, principalmente no outono e no inverno. As conjuntivites virais são contagiosas, ocorrem em surtos e não têm uma faixa etária definida”, revela a Dra. Luciana.

De acordo com o Dr. Cury Júnior, o problema é acentuado no inverno, já que a transmissão se dá pelo contato. “É nessa época do ano que as pessoas ficam agrupadas em ambientes fechados”.

De janeiro até o dia 19 de maio de 2018, a capital paulista registrou aumento de 769% no número de surtos de conjuntivite. Segundo a Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), foram notificados 200 surtos de conjuntivite, com 804 casos. No mesmo período de 2017, foram 26 surtos com 102 casos.

Catarata é reversível e deve ser tratada com cirurgia

A catarata é a maior causa de cegueira reversível no mundo. Segundo o Ministério da Saúde (MS), o número de cirurgias de catarata no Brasil chega a mais de 700 mil por ano.

“O cristalino é uma lente natural que temos dentro do olho; quando essa lente fica opaca, chamamos de catarata. Pode ser congênita, traumática ou da forma mais comum, que aparece com a idade, após os 50 anos de idade, com o envelhecimento natural do cristalino. Todos terão catarata e a idade varia de acordo com a genética de cada um. A doença é a causa mais comum de cegueira reversível, independentemente do grau de evolução. Quando tratada cirurgicamente, a visão retorna ao normal se não houver outras doenças no olho”, diz o Dr. Kniggendorf.

Foto: Shutterstock

Sazonalidade a favor do varejo

Edição 308 - 2018-07-01 Sazonalidade a favor do varejo

Essa matéria faz parte da Edição 308 da Revista Guia da Farmácia.