Sem exageros

As festas de fim de ano não são motivo para descuidar da alimentação. Afinal de contas, é possível comemorar sem prejudicar a saúde 

Dezembro é um mês de festas e confraternizações e, com isso, a possibilidade de cair em tentação e exagerar na ingestão de alimentos gordurosos, doces e bebidas alcoólicas aumenta, e muito. O problema é que o que parece ser momentâneo pode ter reflexos na saúde do festeiro tanto a curto quanto em médio prazo.

Os resultados dos abusos podem provocar alterações no funcionamento do organismo, como intestino preso ou diarreia, gosto amargo na boca ao acordar, baixa resistência imunológica, inchaço, alergias, indisposição, náuseas e dores de cabeça. Isso sem falar no ganho rápido de peso e na sobrecarga geral no funcionamento do organismo.

“Um dos motivos que levam a tantos problemas é que os alimentos consumidos nesta época são ricos em gorduras, que podem causar desconfortos e sensação de mal-estar, por ter uma digestão mais lenta”, explica a nutricionista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, Érica Oliveira Pedron. Para ela, a fim de preparar o organismo para o período de possíveis exageros, é preciso ter sempre uma alimentação saudável e equilibrada, não somente para manter o peso ideal, mas também a fim de garantir uma saúde plena.

“Para o bem do organismo, é importante ter consciência e não abusar dos alimentos calóricos e gordurosos durante as festas”, diz. O consumo de bebida alcoólica também deve ser moderado. “O álcool é uma toxina para o organismo e precisa ser metabolizado e eliminado. Ele inibe a produção do hormônio antidiurético, aumentando a perda de água pela urina. Por isso a hidratação com água, água de coco e chá de ervas é necessária para o corpo”, completa.

Os desconfortos gástricos são alguns dos sintomas mais comuns associados ao exagero na alimentação rica em gorduras e também na ingestão de bebidas alcoólicas. Segundo o gerente médico da Hypermarcas, Dr. Alexandre Feliciano Ferreira, a ingestão de bebidas ao se alimentar torna a digestão mais lenta. Isso acontece porque os líquidos diluem o suco gástrico, causando lentidão nas fases iniciais do processo. Além disso, o hábito aumenta a distensão abdominal, principalmente a ingestão de bebidas gasosas, como refrigerantes e cervejas, e causa a sensação de inchaço.

“É possível se alimentar e ingerir líquidos, porém isto deve ser feito sem exageros para evitar desconfortos. Alimentos gordurosos também podem causar os sintomas, pois tornam todo o processo digestivo mais lento. As moléculas de gordura são quebradas com mais dificuldade nas fases iniciais da digestão e os alimentos gordurosos permanecem no estômago por mais tempo. Isso prolonga a sensação de saciedade, porém pode facilitar a existência de queimação”, explica.

Ainda segundo o médico, os sintomas de má digestão podem ser evitados com algumas medidas, como comer devagar, não exagerar na ingestão de grandes quantidades de alimentos, não ingerir bebidas gasosas em grandes quantidades durante as refeições, não realizar exercícios físicos após as refeições e evitar a ingestão de alimentos ricos em gorduras.

E para aliviar o desconforto causado pela azia e má digestão, por exemplo, é possível fazer uso de antiácidos, mas, principalmente, investir na ingesta de alimentos que possam atuar na causa do problema.

Para a nutricionista Érica, enquanto não houver consciência dos benefícios de uma alimentação saudável, cada vez será maior o consumo de medicamentos para eliminar ou reduzir os efeitos colaterais causados pelos exageros alimentares. “O uso de antiácidos frequente pode alterar o pH gástrico, interferir na digestão de proteínas e alterar a absorção de alguns nutrientes. Também pode haver interações com muitos diferentes fármacos, por isso é importante consultar o médico ou o farmacêutico”, ressalta.

Segundo ela, o ideal é saber controlar os sintomas incômodos, com mudanças no estilo de vida, como perder peso ou cortar os alimentos prejudiciais. “Uma opção natural é a utilização de chás digestivos, como alecrim, cidreira, erva-doce e hortelã”, diz.

Auxílio medicamentoso

Os antiácidos aliviam a azia, o estufamento e a má digestão. “O medicamento atua neutralizando o excesso de ácido clorídrico no estômago. Já os indicados para problemas digestivos e relacionados ao fígado atuam ajudando a eliminar as toxinas do fígado, causadas pela ingestão em excesso de alimentos e/ou bebidas”, explica o gerente médico da Hypermarcas, Dr. Alexandre Feliciano Ferreira. Esses medicamentos são isentos de prescrição médica e podem ser usados pelos consumidores, aliviando os sintomas das desordens gástricas e hepáticas. É muito importante lembrar que caso os sintomas persistam, um médico deverá ser consultado.

Para aqueles que sofrem com os males da ressaca, os analgésicos são os mais indicados, para aliviar as dores de cabeça. Por isso, mantenha seu estoque abastecido e privilegie a exposição dos produtos de venda livre no balcão e no checkout.

Há quem recorra ao uso dos isotônicos, que são compostos de sais minerais que agem com papel de hidratação e restabelecem o equilíbrio dos eletrólitos no organismo. “Muitos também possuem carboidratos de rápida absorção para dar energia”, diz a nutricionista da Clínica Fluyr Saudável, Maiara Fidalgo. 

Além dos desconfortos

A ingestão prolongada de alguns alimentos e bebidas pode gerar diversos problemas. “Muitos estudos já comprovam que o exagero de determinados alimentos pode causar doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão, problemas cardíacos, obesidade e câncer”, diz Érica.

E há que se pensar em complicações mais sérias e com consequências futuras, como o aumento nos níveis glicêmicos, de colesterol e triglicérides. Segundo o diretor de Promoção da Saúde Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Dr. Weimar Sebba Barroso, quem se cuida pouco tende a exagerar mais; já quem investe em alimentação saudável e exercícios físicos durante todo o ano tende a não exagerar nas ceias de fim de ano. “Podemos traçar esses dois perfis para determinar o nível dos exagerados. Vale lembrar que, dependendo do comportamento do indivíduo nessa época, podem se desencadear processos de ganho de peso, dislipidemias e o desequilíbrio do organismo como um todo, sem contar que o excesso no consumo de álcool pode levar a quadros como o de pancreatite”, diz.

Para manter o controle, o ideal é fazer pequenas refeições ao longo do dia da ceia, como um iogurte desnatado, frutas e alimentos integrais. “Isso ajudará no controle da compulsão alimentar por alimentos calóricos e gordurosos”, explica Érica.

Ao montar o prato, as pessoas devem abusar das saladas e escolher pequenas quantidades de cada alimento preferencial, sem privação, nem exageros, diz a nutricionista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, Simone Spadaro. Segundo ela, uma boa ceia é rica em oleaginosas, carnes proteicas e frutas típicas da estação que fazem muito bem à saúde.

A nutricionista da Clínica Fluyr Saudável, Maiara Fidalgo lembra que, depois de comer e beber de tudo, sem controle, não adianta apelar, nem esperar por um milagre. “O ideal é voltar à rotina saudável equilibrada, consumindo frutas, verduras, legumes, cereais integrais, preparações assadas e grelhadas, carnes magras. Ingerir muita água, chás naturais e praticar atividade física”, indica.

Famosas na atualidade, as dietas detox auxiliam na eliminação de toxinas acumuladas pelo excesso cometido entre Natal e Ano-Novo, como abuso de gorduras e álcool. “Em geral, as receitas são baseadas no consumo de frutas, hortaliças, sucos e chás com fibras e propriedades diuréticas e termogênicas. Porém, é preciso ter cautela na hora de aderir à prática: uma dieta detox rígida, em que apenas a ingestão de líquidos é permitida, tem tempo médio de um a dois dias”, alerta Simone.

Captura de Tela 2015 12 09 as 15.21.49

Autor: Adriana Bruno

Saúde na América Latina

Edição 277 - 2015-12-01 Saúde na América Latina

Essa matéria faz parte da Edição 277 da Revista Guia da Farmácia.

Deixe um comentário