Mesmo com todos os holofotes apontados para a pandemia do novo coronavírus que atingiu o mundo, a chegada do inverno também alerta para a maior incidência de doenças do sistema respiratório.
Isso se dá por conta das oscilações de temperatura e da baixa umidade relativa do ar que, associadas aos ambientes fechados e à maior proximidade entre as pessoas, favorecem a circulação e transmissão dos vírus respiratórios, explica a médica alergista e membro do Departamento Científico de Asma da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Dra. Faradiba Sarquis Serpa.
“Além do ar frio e seco, o uso de roupas guardadas por muito tempo também costuma agir como um fator irritante para as vias respiratórias, desencadeando ou agravando as crises alérgicas, como rinite e asma”, alerta.
Embora diversos vírus possam provocar ou agravar doenças respiratórias, como gripe, resfriado e pneumonia, a Dra. Faradiba esclarece que os quadros alérgicos têm origem genética e se manifestam a partir do momento em que os genes interagem com fatores ambientais, como ácaros, fungos, pelos de animais, fumaça, poluição, entre outros.
“É muito comum as pessoas confundirem os sintomas das doenças respiratórias e das alergias, mas os quadros gripais, por exemplo, cursam com febre, dores musculares e queda do estado geral, o que não ocorre nas crises de rinite alérgica.”
Entretanto, a médica acrescenta que, apesar de os tratamentos serem totalmente diferentes, “os vírus podem desencadear crises de asma e rinite, assim como as pessoas também podem apresentar crise alérgica na vigência de quadro gripal”.
Sendo assim, um ato aparentemente básico de higiene, como lavar as mãos adequadamente, tão preconizado para combater a disseminação do novo coronavírus, continua sendo a principal arma para prevenir o aparecimento de outras inúmeras doenças infectocontagiosas, alerta a infectologista da DaVita Serviços Médicos, Dra. Elisa Miranda Aires.
“Pelo fato do confinamento e de todos os ensinamentos de higiene que a pandemia do Covid-19 trouxe à população, deveria haver uma tendência de queda nos casos de infecção pelos vírus respiratórios neste ano. Outro aspecto que contaria para essa diminuição de casos é o fato de creches e escolas estarem fechadas, já que são locais de fácil disseminação e contágio.”
A infectologista acrescenta que, na falta de água e sabão para a lavagem das mãos, o uso de álcool 70% é um eficiente antisséptico para superfícies, objetos e pele.
“Ele tem propriedades microbicidas capazes de eliminar os germes mais frequentes que causam infecções. Por isso, é importante lavar as mãos sempre que estiverem visivelmente sujas e também ao tocar em objetos e/ou ambientes compartilhados.”
Confira, a seguir, os sintomas e tratamento das principais doenças respiratórias típicas do inverno*.
1. Sinusite
Causa
- De origem alérgica ou infecciosa, é um processo inflamatório que acomete os seios da face.
Sintomas - Secreção e obstrução nasal, dor de cabeça, tosse e sensação de peso ou pressão na face ao realizar movimentos de abaixar e levantar.
Tratamento
- Em quadros alérgicos, o medicamento é usado para controlar os sintomas. Nos casos de sinusite bacteriana, é necessário o uso de antibióticos.
2. Rinite
Causa
- É a inflamação das mucosas do nariz, podendo se manifestar de forma alérgica, que é a mais comum, ou até mesmo de maneira infecciosa.
Sintomas
- Espirros, coriza, coceira no nariz ou olhos e obstrução nasal.
Tratamento
- Manter a casa sempre limpa para evitar o contato com os alérgenos, como mofo e poeira, além do uso de medicamentos para controlar a inflamação e tratar as crises.
3. Asma
Causa
- É uma doença crônica que gera a inflamação das vias respiratórias, geralmente desencadeada por alérgenos, como ácaros, fungos, pelos de animais, pólen e alguns poluentes, como fumaça de cigarro e de queimadas, assim como a poluição de indústrias e tráfego.
Sintomas
- Falta de ar, chiado no peito e tosse.
Tratamento
- Manter os hábitos de higiene para reduzir o contato com os alérgenos e uso de medicamentos, sendo, na maioria das vezes, por via inalatória (bombinhas).
4. Otite
Causa
- A otite média aguda é uma infecção bacteriana ou viral, geralmente decorrente de uma complicação do resfriado ou de alergias. Embora ocorra em qualquer fase da vida, é mais comum entre os três meses e três anos de idade.
Sintomas
- Dor de ouvido, diminuição da audição, febre, perda de apetite, secreção local. Nos casos mais graves, pode ocorrer ruptura da membrana do tímpano e ser eliminada uma secreção purulenta misturada com sangue.
Tratamento
- Depende da causa e da idade, mas pode envolver analgésicos, como paracetamol; Anti-Inflamatórios Não Esteroides (AINEs), como ibuprofeno; anti-histamínicos; ou antibióticos.
5. Laringite/faringite
Causas
- Podem ser infecciosas e decorrentes de vírus respiratórios, como rinovírus, adenovírus, coronavírus, influenza, parainfluenza e vírus sincicial respiratório, entre outros, ou até de origem bacteriana.
Sintomas
- Desconforto ou dor na garganta, principalmente ao engolir, febre, mal-estar, dor de cabeça, rouquidão ou até edema na região cervical.
Tratamento
- As recomendações mais atuais enfatizam que a penicilina V administrada por via oral durante dez dias, ou penicilina benzatina G aplicada como uma única injeção intramuscular, representam as opções de tratamento recomendadas para a maioria dos pacientes. Outras opções são amoxacilina oral, cefalosporinas, como a cefalexina ou cefadroxil, clindamicina e macrolídeos, como a claritromicina.
6. Gripe
Causa
- Infecção respiratória causada pelo vírus Influenza.
Sintomas
- Febre, congestão nasal, dor no corpo, dor de cabeça, fadiga, tosse seca, perda de apetite e cansaço.
Tratamento
- Vacina contra a gripe todos os anos, analgésicos para aliviar os sintomas e solução salina para a lavagem do nariz.
7. Resfriado
Causa
- Infecção viral que acomete as vias respiratórias superiores. Existem mais de 200 tipos de vírus causadores de resfriado, sendo os mais comuns pertencentes à família do Rinovírus.
Sintomas
- Coriza em geral transparente, leve cansaço, espirros, tosse, dor ou coceira na garganta, lacrimejamento, e dor no corpo, febre baixa e de curta duração.
Tratamento
- Não existe nenhum medicamento que cure resfriado. O tratamento consiste, assim, em aliviar os sintomas com o uso de analgésicos e antitérmicos, como paracetamol e dipirona. Repouso, beber bastante líquido e lavar as narinas com soro fisiológico também são medidas que auxiliam na recuperação.
8. Bronquite
Causa
- É a inflamação dos brônquios e pode ser classificada como aguda, decorrente de alguma infecção viral ou exposição ao alérgeno, ou crônica.
Sintomas
- Tosse seca por até um mês, falta de ar e chiado no peito (aguda) ou tosse seca ou com secreção há mais de três meses, falta de ar e chiado no peito (crônica).
Tratamento
- Em casos agudos, o fim do quadro viral ou eliminação da exposição a alérgenos tendem a melhorar a bronquite. O uso de broncodilatadores pode ser indicado em alguns casos.
9. Pneumonia
Causa
- Infecção dos pulmões causada, na maioria das vezes, por bactérias, mas também pode ser decorrente de vírus.
Sintomas
- Tosse com ou sem secreção, prostração, febre, mal-estar e falta de ar.
Tratamento
- Repouso e uso de antibióticos em caso de infecção bacteriana.
10. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)
Causa
- É a obstrução da passagem do ar pelos pulmões provocada, geralmente, pela exposição ao tabagismo e a outros tipos de fumaça, como do fogão a lenha.
Sintomas
- Tosse com ou sem secreção por mais de três meses, falta de fôlego, sensação de cansaço e chiado no peito.
Tratamento
- Eliminar a exposição ao cigarro e/ou fogão a lenha, reabilitação pulmonar, vacina contra gripe todos os anos, vacina pneumocócica, e broncodilatadores inalatórios com ou sem corticoide inalatório associado, dependendo de cada caso.
*Fontes: médica alergista e membro do Departamento Científico de Asma da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Dra. Faradiba Sarquis Serpa; infectologista da DaVita Serviços Médicos, Dra. Elisa Miranda Aires; e pneumologista e presidente da Comissão de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), Dra. Danielle Cristine Campos Bedin
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