Summit Inovação em Saúde destaca era da tecnologia e colaboração

Soluções tecnológicas e digitais que podem ser aplicadas ao setor, bem como a relação próxima entre empresas e startups foram temas de grande destaque

No último dia 8 de outubro, a Contento Comunicação e o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma) promoveram o Summit Inovação em Saúde, evento realizado em São Paulo e que reuniu, aproximadamente, mais de 200 participantes no espaço do coworking Cubo, do Itaú. Os visitantes puderam conferir tendências e realizar um rico networking com executivos do setor.

O encontro abordou cases de sucesso, trouxe conhecimento e atualização para a indústria farmacêutica e profissionais da área da saúde, bem como abordou formas práticas de promover e fazer com que o setor de saúde, de maneira global, seja inovador por meio da aplicação de novas tecnologias ou conexão com outros empresas da área e startups.

No primeiro bloco do evento, que trouxe o tema “Cenário atual de tecnologia, inovação e empreendedorismo em saúde no Brasil”, o médico e sócio fundador da I2H Innovation to Health – coorganizadora do encontro –, Dr. Carlos Ballarati, abriu os trabalhos destacando a velocidade da inovação.

“Vivemos um período em que as mudanças vão ser tão rápidas que a vida humana será irreversivelmente transformada”, apontou, destacando as previsões de que, até 2023, os computadores terão a capacidade do cérebro humano e, em 2050, terão o cérebro do mundo.

Ele também ressaltou o atual cenário do setor de hospitais, que pode se replicar por toda a área da saúde. Para ele, essas organizações deixarão de tratar doenças para focar na prevenção; mulheres terão mais poder no tratamento de saúde e poderão optar por ter filhos com idade mais avançada; o cannabis estará cada vez mais inserido nos tratamentos; haverá o mapeamento do genoma humano para aplicação da medicina personalizada; e startups atuarão fortemente na área de saúde primária.

Para o Dr. Ballarati, serão desafios e realidades latentes para o setor o aumento dos gastos com saúde, as novas demandas do consumidor que detém o poder do mercado, treinar pessoas, os “point of care” – que são os exames de ponta de dedo –, e novos players no setor, como Walmart atuando no atendimento primário. As tecnologias também serão cada vez mais presentes, como big data gerando inteligência de dados e os wearables monitorando o organismo.

O segundo palestrante da manhã foi o diretor de inovação e transformação digital do Hospital Israelita Albert Einstein, Cláudio Terra, que reforçou como a revolução digital tem sido significativa para a área da saúde, fazendo com que as empresas do setor se tornem globais e também proporcionando ganhos como menores custos. Ele reforçou, ainda, a força que as startups devem ganhar na área da saúde e enfatizou que o Einstein já é sócio de empresas com esse perfil.

Inovação aberta na saúde

Apontando desafios, tendências e oportunidades, a inovação aberta na saúde foi o tema do segundo painel do Summit, que começou com a palestra do gerente de inovação da Janssen, Rodrigo Rodrigues.

Ele contou um pouco da história da Johnson & Johnson, que começou no mercado com a criação de suturas e gases estéreis e, hoje, é grande potência no segmento, completando 80 anos no País. Para seguir com essa força no mercado, um dos alicerces da empresa é a inovação e, para tanto, as startups têm sido estratégicas.

“Players estabelecidos precisam de inovação com baixo custo. Nesse sentido, a cooperação para novos recursos, ideias e tecnologias é fundamental. Tanto que, hoje, temos centros de inovação e casas de startups”, pontuou.

A colaboradora da Dasa, Claire Bottero, seguiu, no segundo painel, apontando mais tendências da área da saúde. Mais uma vez, reforçou-se a importância da cooperação nessa área.

“Várias startups têm participado de projetos de saúde, seja para a gestão, experiência dos clientes e telemedicina”, destacou. Na sua apresentação, também reforçou a transformação do papel de toda a área da saúde, que antes era voltada para o tratamento de doenças e, hoje, é focada na prevenção, com os pacientes liderando os cuidados e o apelo digital com cada vez mais evidência.

Farma 4.0: indústria e varejo do futuro

Este foi o tema do terceiro painel, que contou com a participação de Bárbara Morais, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC). Ela mostrou alguns pilares essenciais para a entidade seguir com mesma força nestes mais de 100 anos de história. Entre eles, está a tecnologia aplicada por diversas formas, como Inteligência Artificial (IA), nanotecnologia e Internet das Coisas (IoT), por exemplo.

Além disso, com o mesmo pensamento de outros players do setor, que apostam na colaboração entre as empresas envolvidas na área, o HAOC também já abriga espaços para encubar startups e busca sinergia com outras grandes companhias, como Oracle e Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap). Outro grande investimento está em ações em educação médica. Nesse sentido, a entidade desenvolve uma série de cursos com leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e pontos de realidade virtual simulados.

Na sequência, o sócio diretor da SPI Integração de Sistemas, Élcio Brito, reforçou questões de destaque durante o último Fórum Econômico Mundial, que é a de “todos conectados a todo o momento”, advento que deve trazer grandes mudanças aos negócios, que devem se desenvolver em cima da IA.

“Hoje, as empresas têm de pensar num modelo de governança digital 4.0, novo modelo de governança de tecnologia, com roteiro para o plano de transformação digital”, diz.

Para finalizar, o fundador, coordenador e professor do Núcleo de Varejo Retail Lab da (ESPM), Ricardo Pastore, mostrou como o varejo farmacêutico tem mudado ao longo dos anos com o advento da era digital e de que forma as lojas podem se preparar para garantir uma experiência perfeita.

Nesse sentido, algumas soluções têm sido desenvolvidas, como o “clique e retire”, que é a compra no ambiente virtual e retirada na loja física. “Todos os elos da cadeia precisam se adaptar às demandas do novo consumidor, que pede por experiências omnichannel”, argumenta.

Farma além da pílula

Esse foi o tema que permeou o terceiro bloco de apresentações do Summit Inovação em Saúde, que começou com o diretor de unidade de negócios da IQVIA, Elton Mendonça, reforçando as mudanças de relação que o universo digital trouxe para o setor de saúde. Mas alertou que, por mais que as relações sejam mais digitais, o contato humano segue fundamental. “Em torno de 34% dos médicos gostariam de ter uma interação digital com a indústria, mas o contato humano não deixa de ter importância”, adverte.

Dando continuidade ao evento, o chief digital officer da Astrazeneca Brasil, Bruno Pina, reforçou que não se deve focar a revolução da tecnológica na saúde apenas no medicamento.

“Deve-se olhar na eficácia do diagnóstico, usando machine learning, por exemplo, e em como melhorar a assistência virtual ou promover a assistência contínua do paciente, sempre pensando nos limites éticos”, pontuou.

Novas experiências e o novo consumidor de health

O médico infectologista e epidemiologista e head de Real World Evidence, Epidemiologia, HEOR & Market Access na Techtrials, Dr. Bruno Scarpellini, deu sequência ao quinto painel do Summit, sobre “Novas experiências e o novo consumidor de Health”, reforçando a importância da inteligência de dados. “Dado é a nova moeda e quando eles estão em tempo real, podem dizer muito sobre o paciente. Entretanto, nem sempre o prontuário tem tudo. Há uma grande oportunidade nessa área”, analisou.

Prosseguindo o painel, a advogada e especialista em direito médico e hospitalar da Mattos Filho, Renata Rothbarth, comentou sobre o engajamento do paciente, que deixou de terceirizar a saúde para saber mais sobre os seus tratamentos.

“Saímos do modelo paternalista em que só o médico detinha conhecimento sobre saúde. Hoje, há um equilíbrio de forças. O canabidiol chegando com força no mercado é uma prova da tendência de se considerar mais o desejo do paciente”, destacou.

Ela também reforçou a importância de todos os envolvidos na cadeia estarem por dentro da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), especialmente em relação às informações sobre pacientes.

O executivo líder de saúde na KPMG, Daniel Greca, também participou desse painel, corroborando a importância das farmácias se aliarem a todo o setor de saúde. Para ele, a farmácia precisa estar concatenada num módulo assistencial aliado a todo o setor, fazendo com que os médicos também saibam o que aconteceu na assistência farmacêutica.

Painel startups

O Summit contou também com um painel mostrando algumas startups que têm se destacado no setor. A fundadora da Wecare Skin, Cristianne Bertolami, por exemplo, mostrou o papel de sua empresa que, desde 2016, cuida da pele de pacientes oncológicos e desenvolve soluções para que esse grupo possa ter mais qualidade de vida e sucesso em seu tratamento.

Na sequência, a fundadora da CUCO Health, Lívia Cunha, mostrou o case de sua startup, que tem a proposta de atuar na adesão ao tratamento, criando alertas para tomada de medicamentos e gerando dados de comportamento de consumo que podem ser úteis para médicos e farmacêuticos.

“Sabemos que menos da metade dos pacientes crônicos segue seus tratamentos como deveria. Constatamos que a taxa de adesão de nossos usuários antes do uso da CUCO era de 40%. Com o tratamento digital, passou a aproximadamente 75%”, diz.

Outra startup que se apresentou no Summit foi a Hilab, empresa criada pela Hi Technologies, por meio de seu diretor de marketing, Jose Restrepo. A empresa se intitula, hoje, como o menor laboratório do mundo, realizando exames precisos com apenas uma gota de sangue.

O dispositivo Hilab, desenvolvido com tecnologias Microsoft e Intel, introduziu no mercado uma nova categoria em análises clínicas que associa IoT e IA para entregar, em apenas alguns minutos, resultados de exames laboratoriais validados e assinados digitalmente por uma equipe de biomédicos. Também visa democratizar a saúde, estando presente em cidades que não têm laboratórios clínicos.

“Esperamos que as farmácias tenham a liberação de entregar os serviços da Hilab ainda no início do próximo ano, com a atualização da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) 44, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas. Hoje, estamos presentes em quase todas as redes, com crescimento de 30% a 40% no canal farma”, diz.

Nesse painel, também esteve presente o CEO da startup de reconhecimento facial Hoobox, Paulo Gurgel Pinheiro. Ele apresentou a solução proposta pela empresa, que permite, a pacientes tetraplégicos, comandar cadeiras de rodas por meio de expressões faciais para controlar o equipamento, sem exigir sensores corporais.

Smart Pharma: a nova jornada no varejo farmacêutico

Para iniciar esse ciclo, a cofundadora da startup de tecnologia Neomode, Fabíola Paes, discorreu sobre o trabalho desenvolvido pela empresa, que automatiza todo o processo de vendas do varejo, unificando a loja física com canais on-line de venda em apenas um lugar.

“O novo consumidor não quer atrito, não quer pagar frete e quer receber seus produtos rapidamente”, ressalta, citando dados que apontam para algumas tendências. Segundo Fabíola, números de 2018 indicam que o 89% dos clientes começam a comprar na loja física e terminam a experiência na loja física. Contudo, 28% dos consumidores entram no e-commerce e terminam a compra no ambiente físico; e 27% começam no celular e terminam no ponto de venda (PDV).

Dando sequência, o head de investimentos da DUPAR S/A, family office dos sócios fundadores da Pague Menos, Holanda Jr., contou um pouco sobre os investimentos e desafios da Pague Menos pelo País. Ele citou, por exemplo, algumas ações de sucesso desenvolvidos pela rede, como “clique e retire”, “planos de assinatura” e o programa Desconto Só Meu, serviço de desconto personalizado de acordo com o hábito de compra das pessoas no PDV. Também destacou o papel da Clinic Farma, serviço de Atenção Farmacêutica que já realiza 170 mil atendimentos por mês.

“Serviços como estes aumentam a frequência de visitas de nossos clientes na loja e, consequentemente, o tíquete médio. Além disso, são importantíssimos para o acompanhamento da saúde do paciente. Realizamos mais de 12 mil verificações de interações medicamentosas”, relatou.

Por fim, Victor Batista dos Santos, da Ótima Inteligência e Inovação, mostrou o case que a empresa desenvolveu com a Drogaria Conceito, fundada em 2008 e que hoje detém 30 lojas. A Ótima desenvolveu uma universidade corporativa para os colaboradores dessas unidades, com o objetivo de contribuir com a disseminação da inovação. Os resultados são visíveis. “Constatamos que os funcionários que participaram bateram 33% a mais da meta do que aqueles que não participaram”, revelou.

Tendências e desafios na indústria e varejo farmacêuticos

O último painel do Summit se deu em torno do tema “Tendências que estão moldando e transformando a indústria farmacêutica”, e teve início com o vice-presidente LATAM do Close-UP International, Paulo Paiva, que reforçou o risco que a ruptura traz para o varejo farmacêutico.

“Hoje, em torno de 11% das redes têm rupturas, número que sobe para 45% nas farmácias independentes. Este é o maior motivo de troca de PDV pelo consumidor”, alerta.

O CEO da Sensorweb, Douglas Pesavento, deu continuidade ao ciclo de palestras falando sobre os desafios de logística na indústria farmacêutica. “Vivemos num País de dimensões continentais, com problemas de logística e falsificação de medicamentos, que chegam a 20% do setor”, alerta, salientando que a resposta para estes problemas está na automação.

“Temos muitos registros manuais, morosos e ineficientes. Portanto, tecnologias como IoT, para sensoriamento remoto de toda a cadeia; identificação única dos produtos, com a rastreabilidade; e integração de sistemas são chaves para a eficiência”, conclui.

Por sua vez, o coordenador das engenharias na Fiap, John Paul Lima, comentou que as empresas ainda são grandes “dinossauros”, que precisam ter mais agilidade. Ele exemplificou que o telefone durou 75 anos para se disseminar, enquanto para aplicativos como o Pokémon Go, foram necessários apenas 19 dias.

Na área da saúde, Lima reforçou a importância dos wearables, que são uma das maiores revoluções do setor. “Com os wearables, o médico pode acompanhar o paciente com o chip implantado de qualquer lugar do mundo”, constata.

O especialista da Fiap ainda arriscou algumas soluções que podem surgir para o futuro com base no avanço tecnológico. “Quem sabe o médico não poderá imprimir o medicamento na hora, personalizando o fármaco para aquele paciente”, sugere.

O fundador e CEO da Benext, Daniel Deividison, empresa que projeta e desenvolve interfaces de voz (VUI – Voice User Interfaces), criando “actions” e “skills” para os ecossistemas do Google Assistente e AmazonAlexa, encerrou o Summit prevendo que o futuro está na voz.

“Até 2020, 50% das buscas serão feitas por voz e teremos oito bilhões de assistentes de voz até 2023”, projeta. Para ele, o Brasil tem grande potencial de crescimento nesse mercado, já que o português é o segundo idioma mais falado na busca por voz. Ele finalizou a palestra com um questionamento. “E se as respostas nas buscas fossem como uma conversa? Não seria mais simples e intuitivo?”, questionou. 

Foto: Shutterstock

Era da tecnologia e colaboração

Edição 324 - 2019-11-11 Era da tecnologia e colaboração

Essa matéria faz parte da Edição 324 da Revista Guia da Farmácia.