Temporada de alta com as baixas temperaturas

Espirros, coriza, tosse e mal-estar são alguns dos sintomas comuns às patologias que acometem o sistema respiratório durante o outono e o inverno. População parte em busca de aliados para minimizar os sintomas

Ao andar pelas ruas nos dias mais frios, é comum presenciar pessoas espirrando, com tosse ou até escutar reclamações sobre problemas respiratórios. Apesar das doenças também incomodarem pacientes no verão, é no outono e inverno que elas tornam-se alvo de atenção maior.

Diversos fatores desencadeiam as alergias respiratórias. De acordo com o alergista do Hospital Samaritano Higienópolis, Dr. Marcelo Aun, o maior contato com cobertores e agasalhos, guardados há meses, que acabam virando reservatórios de ácaros, é um dos responsáveis pelo aparecimento do problema.

Além disso, o tempo frio diminui a mobilidade dos cílios das vias respiratórias, permitindo o acúmulo de alérgenos e secreções. Por fim, o convívio em ambientes mais fechados aumenta a inalação de ácaros e a circulação de vírus respiratórios que causam piora dos sintomas daqueles que já sofrem com uma doença alérgica.

De acordo com o otorrinolaringologista do Hospital CEMA, Dr. Cícero Matsuyama, alguns estudos dizem que a procura pelo pronto atendimento de hospitais gerais ou especializados aumenta em torno de 30% nos meses de outono-inverno, chegando ao pico de 50% nos meses mais frios (julho a setembro).

Quem são elas?

Falar sobre alergias respiratórias passa, necessariamente, pelo reconhecimento de cada uma delas. Afinal, apesar de ter sintomas parecidos, cada patologia é diferente e deve ter seu tratamento adequado.

“Podemos classificar as alergias respiratórias em altas e baixas. Entre as alergias respiratórias altas, destacam-se as rinites e sinusites alérgicas, acompanhadas ou não de faringites. As baixas são as laringites e as traqueobronquites. As diferenças estão no local de acometimento e nos sintomas decorrentes das afecções, tendo característica principal de gravidade os sintomas provindos do sistema respiratório baixo”, comenta o Dr. Matsuyama.

Em geral, a rinite e a asma são as duas doenças mais frequentes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a rinite pode ser considerada a patologia de maior prevalência entre as doenças respiratórias crônicas, acometendo cerca de 20% a 25% da população em geral. Apesar dos sintomas de menor gravidade, está entre as dez razões mais comuns de atendimento primário à saúde.

Tipos de alergia

Rinite: manifesta-se por crises de espirros, coriza, coceira e entupimento nasal, podendo atingir também os olhos, os ouvidos e a garganta.

Asma: se caracteriza por crises de falta de ar, chiado e sensação de aperto no peito, normalmente acompanhados de tosse. Pode manifestar-se de formas diferentes, variando desde sintomas leves e quase imperceptíveis, até crises graves e ameaçadoras.

Sinusite: é a complicação mais comum da rinite alérgica. Trata-se de um processo inflamatório, de origem alérgica ou não, que acomete os seios da face causando dor de cabeça, sensação de peso ou pressão facial com movimentos de abaixar e levantar a cabeça, secreção nasal, obstrução nasal, tosse, podendo vir acompanhada de febre.

Bronquite alérgica: é somente um nome diferente utilizado para denominar asma.

Fonte: Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai)

Segundo o estudo ISAAC (International Study of Asthma and Allergies in Childhood) feito no Brasil, a prevalência média de sintomas relacionados à doença é de 29,6% entre adolescentes e 25,7% entre escolares, colocando o País entre aqueles com as maiores taxas mundiais de prevalência, tanto em asma como em rinite.

A asma, por sua vez, acomete aproximadamente 150 milhões de indivíduos em todo o mundo. O Brasil ocupa a oitava posição mundial em prevalência de asma, variando de 10% a 20%, dependendo da região e da faixa etária consideradas.

“Enquanto a rinite provoca sintomas nasais, como coceira, coriza, espirros e obstrução, às vezes acompanhados de coceira no céu da boca, dos olhos e lacrimejamento, a asma provoca sintomas relacionados ao pulmão, como falta de ar, cansaço, chiado no peito e tosse”, diferencia o alergologista e imunologista do Hospital Sírio-Libanês, Dr. Luis Felipe Ensina.

De acordo com o otorrinolaringologista do Hospital CEMA, os sintomas podem ser sentidos em diferentes lugares do corpo:

  • Cavidade nasal: obstrução nasal, coriza, lacrimejamento, prurido e espirros.
  • Cavidade paranasal (seios paranasais): dor na face e de cabeça, sensação de congestão facial, dor próxima do globo ocular.
  • Faringe (garganta): dor de garganta e prurido com tosse seca.
  • Laringe: rouquidão e tosse seca rouca.
  • Traqueia: falta de ar e tosse seca.
  • Brônquios: chiado no peito, falta de ar e tosse seca.

“O primeiro passo é procurar fazer o diagnóstico correto da doença e da causa dela. De acordo com cada doença e a sua causa, a orientação é totalmente diferente. Por exemplo, para o alérgico a ácaro, uma boa limpeza domiciliar e o uso de pano úmido para higienizar superfícies pode ser muito útil, ao passo que, para alérgicos a gato, a maior parte das proteínas inaladas fica em suspensão no ar e, portanto, as medidas usadas para controle de ácaros não são eficazes”, exemplifica o Dr. Aun.

Como evitar

Para deixar de sofrer com as alergias, é preciso que o paciente adote alguns pilares, segundo informa o alergologista do Hospital Sírio-Libanês. São eles: higiene ambiental, evitar o contato com substâncias causadoras da alergia (ácaros, poeira, mofo, pelos de animais e baratas). Isso inclui manter a casa sempre limpa e ventilada, colocar capas impermeáveis no colchão e travesseiro, além das terapias medicamentosas.

“Os medicamentos visam controlar a inflamação e diminuir os sintomas. Para a rinite, são usados anti-histamínicos e corticoides nasais; para a asma, broncodilatadores, corticoides inalatórios e antileucotrienos; os casos mais graves de asma podem ser tratados ainda com imunobiológicos, que têm uma ação bem específica para cada caso”, comenta.

Por fim, as imunoterapias ou vacinas para alergia, por meio de doses pequenas e crescentes da própria substância a qual o indivíduo é alérgico, sejam por via injetável (imunoterapia subcutânea) ou via oral (imunoterapia sublingual), o tratamento visa modificar a resposta imunológica exagerada que existe neste tipo de alergia.

Não somente para tratar, mas para evitar os problemas, é essencial a higienização nasal mesmo quando a pessoa não sofre com a alergia. Isso porque a hidratação é um dos fatores que ajudam na prevenção das alergias respiratórias, já que um dos responsáveis pelas doenças é o tempo seco e frio, que prejudica o funcionamento das mucosas nasais.

Tratamentos disponíveis

Cloreto de sódio: a higienização nasal é importante no tratamento das alergias. Deve ser feita com o cloreto de sódio, que pode ser administrado através de diferentes dispositivos.

Bombinhas: conhecido como “bombinha”, o aerossol dosimetrado é uma das formas utilizadas para se fazer chegar a medicação para a asma nos pulmões. Outros dispositivos, como os nebulizadores e os inaladores de “pó seco”, têm a mesma função. Entre os medicamentos usados, estão os corticoides, broncodilatadores ou até a associação de ambos.

Corticoides de uso tópico: nasal para rinite e inalado para asma, são a principal arma no controle das doenças. São eficazes e seguros e permitem reduzir a necessidade de corticoides orais, que causam mais efeitos colaterais.

“A higienização é importante, pois ela limpa as cavidades nasais. Seu uso facilita a remoção de secreção, promovendo alívio dos sintomas. No caso das rinites inflamatórias e alérgicas, ela também ajuda a eliminar os alérgenos presentes no muco, atuando na melhora do quadro”, avalia a gerente médica da GSK, Mariana Sasse.

Segundo ela, a higienização pode ser realizada livremente, sempre que necessário, ou no mínimo duas vezes ao dia, imediatamente antes do uso do tratamento farmacológico. O mais importante é a ação mecânica de limpeza promovida pelo jato. O princípio ativo ou a concentração adequada deve ser aquela indicada pelo médico.

Porém, nem sempre o paciente consegue fugir todo o tempo das alergias respiratórias. É o caso dos filhos de quem têm algum tipo de alergia. Segundo o alergologista do Hospital Sírio-Libanês, quem tem pai ou mãe alérgico, tem 40% de chances de vir a ter uma alergia respiratória.

Além disso, a OMS cita alguns outros fatores de risco para o desenvolvimento de doenças respiratórias (não somente alérgicas, mas crônicas): hábito de fumar cigarro ou tabagismo passivo; poluição doméstica; poluição ambiental; alérgenos; e exposição a riscos ocupacionais (como poeira e substâncias químicas).

Foto: Shutterstock

Polêmica nos fármacos

Edição 306 - 2018-05-01 Polêmica nos fármacos

Essa matéria faz parte da Edição 306 da Revista Guia da Farmácia.