Vacinas em farmácias: Imunização acessível a todos

População e entidades defendem a regulamentação das vacinas em farmácias e drogarias. Acessibilidade e preço são principais diferenciais para o público

A população é a favor da vacinação nas farmácias. Ao menos foi isso que concluiu uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (Ibope), que revelou a aprovação de 52% das pessoas sobre a implementação do serviço de imunização nas farmácias e drogarias.

Ainda que a permissão para os estabelecimentos oferecerem as vacinas já seja prevista pela Lei 13.021/14, que trata sobre o exercício e a fiscalização das atividades farmacêuticas e, com ela, a regulamentação vigente sobre o controle sanitário para estabelecimentos privados de vacinação, alguns impasses impedem o serviço.

“Para garantirmos padrão de qualidade, aguardamos a regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que está em fase final de consulta pública e tratará sobre os requisitos mínimos para a vacinação. Com a regulamentação, cerca de 1.500 farmácias começarão a praticar o serviço, triplicando a oferta de locais privados. Em médio prazo, serão ao menos cinco mil farmácias associadas à Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) com possibilidade de imunizar a população”, explica o presidente executivo da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto.

Farmacêutico preparado

Para que o serviço de imunização seja feito, a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) já possui algumas ações que ajudam o profissional de saúde a se preparar:

• Projeto Assistência Farmacêutica Avançada: foram criados oito serviços que visam a atender a uma ampla gama de necessidades de saúde dos pacientes. São eles: hipertensão, diabetes, colesterol, revisão da medicação, autocuidado, imunização, parar de fumar e perda de peso.

• Road Shows Care Centers: evento itinerante com palestras ligadas a habilidades clínicas dentro das farmácias.

• Pós-graduação latu sensu: com reconhecimento do Ministério da Educação (MEC), os profissionais participantes são diplomados como especialistas em Farmácia Clínica e Serviços Farmacêuticos.

Fonte: presidente executivo da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto

Apesar disso, algumas cidades trabalham em sua regulamentação. É o caso, por exemplo, de São Paulo capital que publicou, em novembro último, a Lei Municipal 16.739/17. A nova lei garante a realização de serviços como aplicação de medicamentos injetáveis, incluindo vacinas.

O presidente do Conselho Federal de Farmácias (CFF), Walter da Silva Jorge João, explica que a regulamentação da Anvisa deverá trazer, por exemplo, a descrição do ambiente onde as vacinas serão aplicadas, qual será a estrutura necessária para a conservação dos insumos e outros pontos importantes, como os requisitos necessários ao farmacêutico que executará a vacinação.

Tomando São Paulo como exemplo, a regulamentação municipal permitirá, também, medições como como de pressão arterial e diabetes, aplicação de inalação ou nebulização, Atenção Farmacêutica, entre outros. “os farmacêuticos poder ão exercer a profissão de modo pleno nas farmácias, aproveitando todas as modificações e os avanços que a Lei 13.021/14 traz para a profissão e para a saúde das pessoas atendidas”, comemora o presidente do Conselho Regional de farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), Pedro Eduardo Menegasso.

“Nossa estimativa é de que o custo da vacina vendida nas farmácias seja até 40% inferior em alguns casos. O preço da vacina de gripe, por exemplo, que varia entre R$ 120 a R$ 180, poderia ser aplicada a R$ 70,00”, frisa ele.

O levantamento do Ibope identificou que 81% dos entrevistados demonstraram plena segurança em tomar vacina em farmácias. Quando perguntados sobre quais os locais para tomar vacina, 93% mencionaram o posto de saúde; 29%, o hospital; 29%, as clínicas de imunização; 11%, as farmácias; e 1%, outros lugares.

Grande parte dos entrevistados (82%) disse que usaria a farmácia para sua imunização e 88% acreditam que amigos ou familiares fariam o mesmo. Entre os principais pontos positivos vistos pela população, está o preço. Os entrevistados entendem que a oferta de imunização no canal farma terá custo menor do que o praticado em clínicas particulares de imunização.

“A regulamentação é urgente e necessária para que a Lei 13.021/14 venha, de fato, beneficiar a população, ampliando o acesso à prevenção de doenças por meio da imunização, especialmente na população adulta. A vacina contra a gripe, por exemplo, é garantida pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) apenas para algumas faixas etárias e grupos prioritários. Quem não se enquadra nesses grupos apenas tem acesso às vacinas na rede privada, a preços que não são acessíveis a todos. Nas farmácias, temos certeza, o custo das doses será menor”, revela Jorge João.

A afirmação do executivo é confirmada por Mena Barreto. Segundo ele, como as grandes redes têm uma escala muito grande, a perspectiva é de que o valor cobrado seja menor do que o praticado, hoje, nas clínicas privadas. O poder de compra das grandes redes pode baratear esse custo para a população.

“Nossa estimativa é de que o custo da vacina vendida nas farmácias seja até 40% inferior em alguns casos. O preço da vacina de gripe, por exemplo, que varia entre R$ 120 a R$ 180, poderia ser aplicada a R$ 70,00”, frisa ele.

Pacientes sem informação

Ainda que as vacinas sejam de suma importância para prevenir diversas doenças, grande parte da população desconhece pontos essenciais da imunização. De acordo com a pesquisa do Ibope, somente três em cada dez entrevistados sabem que existem em torno de 50 tipos de vacinas que previnem mais de 20 doenças imunizáveis.

Metade dos entrevistados disse que a proteção dada por vacinas perde-se após um tempo e 44% disseram que cada vacina possui uma idade correta para ser tomada. Quando questionados porque não tomam vacina, 26% disseram por falta de informação, 22% pelo preço e 12% devido à falta de acesso.

Além disso, enquanto somente 65 milhões de pessoas têm acesso à vacinação na rede pública e em clínicas privadas credenciadas, outras 141 milhões sequer foram imunizadas pela dificuldade de acesso.

Para o presidente da Abrafarma, esse é um dos maiores desafios na adesão do cliente, que ainda carrega alguns mitos, como a não necessidade de tomar a vacina se a doença já foi erradicada, a possibilidade de o organismo combater as doenças naturalmente, sem precisar da vacina, ou mesmo que elas podem fazer mais mal do que bem para a saúde.

“É preciso investir na educação do usuário. Ou seja, a ampliação desse mercado dependerá da capacidade das redes de empoderar o farmacêutico para que ele possa atender bem e explicar ao consumidor a importância da imunização, o motivo e o tipo de vacina que ele deve tomar”, comenta Barreto.

O estudo comprova, ainda, que as farmácias podem ser aliadas no acesso à saúde e qualidade de vida. Segundo o CFF, existem no Brasil 36 mil postos do Sistema Único de Saúde (SUS) e 700 clínicas particulares autorizadas a praticar a vacinação, além de 75 mil farmácias regularizadas pelo órgão.

Após a regulamentação da Anvisa, 111.700 pontos de atendimento estarão disponíveis para imunização. Isso representa crescimento de 200% na cobertura vacinal do País.

Além disso, enquanto somente 65 milhões de pessoas têm acesso à vacinação na rede pública e em clínicas privadas credenciadas, outras 141 milhões sequer foram imunizadas pela dificuldade de acesso.

O presidente do CFF fala sobre a ampliação do acesso do serviço, um dos principais diferenciais da vacinação em farmácias. “Citemos apenas um exemplo: as mães precisam ir aos postos de saúde pelo menos dez vezes para garantir proteção aos seus filhos, no primeiro ano de vida deles. Esses postos de saúde estão acessíveis apenas durante os dias úteis, em que elas estão trabalhando, porque, em sua grande maioria, elas são provedoras dos lares”, alerta.

Segundo ele, onde os serviços de vacinação em farmácias foram implantados, como nos Estados Unidos, as coberturas contra a gripe, por exemplo, aumentaram de 32,2% para 40,3% em dez anos.

“O Brasil precisa da vacinação em farmácias, a sociedade quer, os farmacêuticos podem e existem estrutura e recursos humanos para isso. Desde a publicação das Resoluções/CFF de números 585 e 586/13 e da publicação da Lei 13.021/14, os farmacêuticos e as farmácias estão respaldados a cuidar da saúde das pessoas e isto inclui a prevenção de doenças, que tem na vacinação um dos seus mais fortes pilares”, finaliza Jorge João.

Foto: Shutterstock

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Edição 301 - 2017-12-01 Novo ano em vista

Essa matéria faz parte da Edição 301 da Revista Guia da Farmácia.