Introdução
A menopausa é um processo natural do organismo feminino. Ela marca o fim do período reprodutivo e a entrada em uma nova fase da vida. Fase essa que desperta dúvidas, medos e apreensões sobre o futuro.
De forma geral, a menopausa ocorre entre os 45 e 55 anos, com a média em torno dos 51 anos. Cerca de 70% das mulheres atingem a menopausa espontânea ao redor dos 50 anos. Deve-se afirmar que a mulher chegou na menopausa quando ela completa um ano sem menstruar1.
O Dia Mundial da Menopausa
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2030 haverá 1 bilhão de pessoas com sintomas da menopausa. Atualmente, no Brasil, são cerca de 18 milhões de mulheres nessa condição. A menopausa é uma fase que requer acompanhamento médico individualizado a fim de se evitar possíveis doenças e transtornos emocionais2.
E para debater o tema e conscientizar sobre a importância dos cuidados com a saúde feminina, acompanhamento médico e a busca por qualidade de vida, a International Menupause Society (IMS), em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS), designou o dia 18 de outubro como Dia Mundial da Menopausa3.
O Guia da Farmácia conversou, com exclusividade, com especialistas que esclarecem as principais dúvidas sobre o tema.
Quais são as diferenças entre menopausa e climatério
A menopausa é um termo, uma definição médica, que se refere a um período no qual a mulher fica 12 meses consecutivos sem menstruar.
Já o período que antecede e sucede a menopausa, caracterizado pelo conjunto de sinais e sintomas relacionados a queda da produção hormonal dos ovários e parada dos ciclos menstruais, é denominado de climatério. “A idade média costuma ser entre 48 e 51 anos”, diz a ginecologista especialista em Reprodução Humana pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Dra. Paula Beatriz Fettback.
Ainda de acordo com a OMS, o climatério corresponde ao período de vida da mulher compreendido entre o final da fase reprodutora até a senilidade. “É um período amplo que abrange as mudanças hormonais que ocorrem antes, durante e após a menopausa.
Dentro desse período ocorre a menopausa, que é a fase específica que marca o final da menstruação e da fertilidade. Clinicamente, é definida como a ausência de menstruação por 12 meses consecutivos”, complementa a ginecologista especialista em Reprodução Assistida da Febrasgo, Dra. Karina Tafner.
Como saber se a mulher está entrando na menopausa?
Identificar que uma mulher está entrando na menopausa envolve a avaliação de sintomas e a realização de exames. Segundo a Dra. Karina, os sintomas mais comuns são:
- Irregularidades menstruais: ciclos menstruais que se tornam irregulares, com intervalos mais curtos ou mais longos do que o normal, com fluxo mais intenso ou mais leve.
- Ondas de calor: sensações súbitas de calor que “do pescoço para cima”, acompanhada de sudorese e calafrio.
- Alterações de humor: mudanças emocionais, como irritabilidade e ansiedade.
- Dificuldades para dormir: insônia ou sono interrompido.
- Secura vaginal: desconforto ou dor durante a relação sexual.
- Diminuição da libido: redução do interesse sexual.
Exames Clínicos
- Dosagem de hormônios
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- FSH (Hormônio Folículo Estimulante): níveis elevados de FSH podem indicar que a mulher está entrando na menopausa
- Estradiol: níveis baixos de estradiol, o principal hormônio sexual feminino, também podem ser indicativos.
- História clínica: a avaliação dos sintomas e a história menstrual são fundamentais para diagnóstico da transição menopausal.
“Importante lembrar que a mulher só irá perceber estes sintomas se estiver menstruando naturalmente, sem nenhum hormônio como a pílula anticoncepcional, por exemplo”, alerta a Dra. Paula.
O que é menopausa precoce? Por que acontece?
A menopausa precoce é aquela que a última menstruação ocorre antes dos 40 anos de idade. Segundo o ginecologista especialista em reprodução humana, diretor clínico da MAE (Medicina de Atendimento Especializado), Dr. Alfonso Massaguer, ela afeta de 1 a 5% das mulheres e não possui causa definida. “Alguns fatores podem predispor a menopausa precoce como: histórico familiar, cirurgias ovarianas (como endometriose nos ovários), laqueadura, tratamentos oncológicos (como quimioterápicos), doenças autoimunes (como lúpus), tabagismo e alcoolismo”, explica.
Mulheres que passam pela menopausa precoce podem enfrentar desafios emocionais e lutas com a fertilidade. “Elas também podem ter riscos específicos em relação à saúde que devem ser abordados, com monitorazação e tratamento contínuos. Cerca de três em cada 100 mulheres entrarão na menopausa antes dos 40 anos”, pontua a Dra Karina.
Os impactos da menopausa na vida da mulher
A Dra. Karina afirma que os sintomas da menopausa podem ter um efeito profundo na qualidade de vida das mulheres, com destaque para:
- Saúde física: os sintomas físicos, como ondas de calor e insônia, podem levar a um cansaço extremo e dificultar a realização de atividades diárias.
- Saúde mental: as alterações de humor e a ansiedade podem resultar em estresse, afetando o bem-estar emocional e a capacidade de lidar com as responsabilidades diárias.
- Vida sexual: a secura vaginal e a diminuição da libido podem levar a problemas de relacionamento e a sentimentos de insegurança.
- Vida social: sintomas como ondas de calor e insônia podem fazer com que as mulheres se sintam menos dispostas a participar de atividades sociais.
- Autoestima: as mudanças no corpo e nos níveis de energia podem afetar a autoconfiança e a percepção de si mesmas.
Como viver bem nesta nova fase da vida?
Segundo o Dr. Massaguer, o primeiro passo é entender este período da vida e todos os sintomas relacionados. “Muitas mulheres sofrem caladas por desconhecer que muitos sintomas estão relacionados ao climatério (menopausa). Sintomas como irritabilidade e tensão, que pioram com alteração do sono, são tidos como traços de personalidade”, comenta.
Ela explica que muitas mulheres até se sentem culpadas, quando na realidade a causa é este período de transição hormonal. Este é um de muitos exemplos de problemas que poderiam ser, em grande parte, resolvidos pela simples compreensão desta fase da vida. “Não apenas a mulher deveria ser orientada. Toda família deveria compreender este período tão importante para a vida da mulher, principalmente os parceiros e filhos, muitas vezes adolescentes”, completa.
Como a atividade física e a alimentação ajudam nessa fase?
A alimentação e a atividade física desempenham papéis importantes durante a menopausa, ajudando a aliviar sintomas, manter a saúde e melhorar a qualidade de vida.
“Estes fatores são crucias para que a mulher consiga passar por este período de uma forma mais equilibrada e saudável. A atividade física regular e uma dieta correta são com certeza pilares do tratamento em todos os momentos, contribuindo para uma melhor produção de neurotransmissores, menor liberação de radicais livres e no equilíbrio físico e mental importantes para a autoestima e longevidade”, afirma a Dra. Paula.
Uma alimentação balanceada pode melhorar a energia, o humor e a digestão, contribuindo para um melhor bem-estar geral. “A alimentação rica em frutas, verduras, grãos integrais e gorduras saudáveis pode ajudar a reduzir o risco de doenças cardíacas, que aumentam após a menopausa. Além disso, a ingestão adequada de cálcio e vitamina D é essencial para prevenir a osteoporose, que pode se tornar uma preocupação com a diminuição dos níveis de estrogênio”, comenta a Dra. Karina.
Ela acrescenta que exercícios de resistência e atividades de impacto são fundamentais para fortalecer os ossos e prevenir a osteoporose. “A atividade física libera endorfinas, que melhoraram o humor e ajudam a aliviar a ansiedade e a depressão e podem também ajudar a combater a insônia, promovendo um sono mais reparador”, afirma.
Reposição hormonal: o que é e quando é indicada?
A reposição hormonal é um tratamento que implica na utilização de hormônios como estradiol e progesterona. “É indicado naquelas mulheres com sintomas como ondas de calor e alteração no sono, mas que não possuam contraindicações como suspeita ou histórico de tumores hormônio dependentes ou trombose”, esclarece o Dr. Massaguer.
Os hormônios podem ser utilizados por via oral, transdérmica, vaginal, intramuscular, implantes e até por dispositivos intrauterinos (DIUs). “A indicação e tipo de tratamento dependerá de uma avaliação médica, que analisará sintomas, histórico familiar e pessoal, além de exame físico e complementares, com checkup sanguíneo e de exames de imagem (mamografia e ultrassom)”, pontua.
Toda mulher pode fazer reposição hormonal?
Nem todas as mulheres são candidatas à reposição hormonal. De acordo com a Dra. Karina, primeiro deve haver indicação para que seja realizada e ela deve ser iniciada em até 10 anos da parada da menstruação. “Chamamos de janela de oportunidade”, comenta. Ele destaca que algumas contraindicações incluem:
- Câncer de mama ou qualquer câncer estrogênio dependente.
- Doenças cardiovasculares: antecedentes de trombose venosa profunda ou doenças coronárias.
- Doenças hepáticas: comprometimento significativo da função hepática.
- Hipertensão não controlada ou grave.
“A reposição hormonal pode ser uma opção eficaz para muitas mulheres que enfrentam sintomas severos da menopausa, mas é fundamental que a decisão seja feita em conjunto com um médico, levando em consideração os riscos e benefícios individuais. Cada caso é único, e um plano de tratamento personalizado é sempre o melhor caminho”, diz a Dra. Karina.
Medicamentos fitoterápicos podem ajudar a combater os sintomas da menopausa?
Existem várias substâncias naturais e fitoterápicos que podem ajudar a atenuar os sintomas da menopausa. “Embora os fitoterápicos possam ajudar algumas mulheres, é fundamental consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer tratamento, mesmo os naturais. Eles podem interagir com medicamentos e não são adequados para todas as pessoas”, alerta a Dra. Karina, que cita os principais deles:
- Soja e isoflavonas: têm uma estrutura química semelhante ao estrogênio, o que pode ajudar a aliviar sintomas como ondas de calor e secura vaginal.
- Sálvia:p ode ajudar a reduzir as ondas de calor e suores noturnos. Suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias podem também contribuir para o bem-estar geral.
- Linhaça: têm propriedades semelhantes ao estrogênio e pode ajudar a reduzir a severidade das ondas de calor, além de melhorar a saúde cardiovascular.
- Ginseng: pode ajudar a aliviar a fadiga e melhorar o humor, além de ter efeitos positivos na libido.
- Ácidos Graxos Ômega-3: podem ajudar a reduzir a inflamação e melhorar a saúde cardiovascular, além de potencialmente ajudar com alterações de humor.
Conclusão
A menopausa é um ciclo natural e inevitável para as mulheres e se dá clinicamente 12 meses após a última menstruação. O período anterior e posterior a ela é o climatério e com ele surgem os sintomas da queda hormonal, como ondas de calor, ressecamento da pele, dos cabelos e da vagina, perda da libido, entre outros. Cerca de 70% das mulheres atingem a menopausa espontânea ao redor dos 50 anos.
A menopausa requer uma série de cuidados e atenção com a saúde feminina, tanto física quanto emocional. Existem inúmeras formas de aliviar os sintomas desde medicamentos fitoterápicos até a terapia de reposição hormonal. Porém, a adoção de hábitos saudáveis, boa alimentação e a prática regular de atividade física são cruciais para que a mulher não perca a qualidade de vida.
Referências
- Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo (SBEM-SP). Disponível em: https://www.sbemsp.org.br/18-10-e-o-dia-mundial-da-menopausa/. Acesso em: 17/10/2024.
- Rádio Senado. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/radio/1/pautas-femininas/2023/07/13/menopausa-e-depressao-influencia-dos-hormonios-na-saude-feminina. Acesso em: 17/10/2024.
- Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Disponível em: https://sp.unifesp.br/noticias/dia-mundial-da-menopausa. Acesso em: 17/10/2024.
Foto: Shutterstock
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