Milhares no Brasil tomaram vacina vencida contra Covid-19

Cerca de 26 mil doses da AstraZeneca fora da validade foram aplicadas em 1.532 municípios

Pelo menos 26 mil doses vencidas da vacina AstraZeneca foram aplicadas em diversos postos de saúde do país, o que compromete sua proteção contra a Covid-19.

Os dados constam de registros oficiais do Ministério da Saúde (MS).

Até o dia 19 de junho, os imunizantes com o prazo de validade expirado haviam sido utilizados em 1.532 municípios brasileiros.

A campeã no uso de vacinas vencidas é Maringá, onde vacinou 3.536 pessoas com o produto da AstraZeneca fora da validade (primeira dose em todos os casos).

Depois aparecem Belém (PA), com 2.673, São Paulo (SP), com 996, Nilópolis (RJ), com 852, e Salvador (BA), com 824.

No entanto, as demais cidades aplicaram menos de 700 vacinas vencidas, sendo que a maioria não passou de dez doses.

Além disso, outras 114 mil doses da vacina AstraZeneca que foram distribuídas a estados e municípios dentro do prazo de validade já expiraram.

No entanto, não está claro se foram descartadas ou se continuam sendo aplicadas.

AstraZeneca é a vacina mais usada no Brasil. Ela responde por 57% das doses aplicadas neste ano. A imensa maioria foi utilizada de acordo com as orientações do fabricante.

Todos os imunizantes expirados integram oito lotes da AstraZeneca importados ou adquiridos por consórcio. Um deles passou da validade no dia 29 de março.

O que venceu há menos tempo estava válido até 4 de junho.

O lote pode ser conferido na carteira individual de vacinação. Quem tiver recebido uma dose de um desses oito lotes de AstraZeneca após a data de validade  deve procurar uma unidade de saúde para orientações e acompanhamento.

Além disso, de acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19, quem tomou imunizante vencido precisa se revacinar pelo menos 28 dias depois de ter recebido a dose administrada equivocadamente.

Dessa maneira, na prática, é como se a pessoa não tivesse se vacinado.

O plano define, também, que cada indivíduo vacinado seja identificado com o lote da imunização recebida, o produtor da vacina e a dose aplicada.

Isso é feito justamente para acompanhamento do Ministério da Saúde e eventual identificação de erros vacinais.

O sistema de informações do MS (DataSUS) também identifica todas as pessoas imunizadas com um código individual, acompanhado de informações sobre idade.

E também o grupo prioritário de vacinação, data da imunização e lote da vacina recebida.

Já a data de validade de cada lote vacinal consta de outro sistema do governo federal, o Sala de Apoio à Gestão Estratégica (Sage).

Que também registra os comprovantes de entrega dos imunizantes contra Covid-19 por estado.

Em cada um desses recibos há informações públicas sobre o número do lote vacinal, a data de validade, o fabricante e a data de entrega.

Informações

O levantamento  mostra também que, até essa data, um total de 25.935 doses de oito lotes de AstraZeneca foram aplicadas fora da validade.

Metade desses lotes veio do Instituto Serum da Índia; a outra metade, da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

As vacinas desses lotes foram distribuídas, então, de janeiro a março pelo governo federal para todos os estados do país antes do vencimento.

Portanto, elas somam quase 3,9 milhões de doses, das quais cerca de 140 mil não foram utilizadas dentro do prazo de validade.

Dessas, então, até o dia 19 de junho, 26 mil tinham sido aplicadas já vencidas.

Vacina vencida

Paraná e Pará têm a maior quantidade de registros de doses após o vencimento.

Em Maringá e Belém, por exemplo, quase todas as doses vencidas foram ministradas especificamente nos dias 22 de abril e 11 de maio.

A capital do Pará também registrou 27 doses aplicadas após vencimento de outro lote, identificado como “CTMAV501”, que veio da Opas e expirou em 30 de abril.

São Paulo também está entre os estados com maior quantidade de registros de doses aplicadas depois do vencimento: foram 3.648 unidades dos oito lotes vencidos de AstraZeneca ministrados (1.820 delas do mesmo lote indiano “4120Z005”).

Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmou cerca de 4.000 doses ministradas após validade.

A pasta disse que “orienta os municípios sobre a aplicação da vacinação contra a Covid-19 e a importância da verificação da data de validade antes do uso do frasco de uma vacina, inclusive com documentos técnicos com todas as condutas necessárias. Todas as grades são distribuídas dentro do prazo de validade.”

Dessa maneira, os casos constatados de aplicação de vacina fora da validade, de acordo com a pasta, são avaliados individualmente para definição da conduta apropriada definida pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI).

A validade das vacinas contra Covid-19 depende da tecnologia e também dos insumos utilizados no desenvolvimento do imunizante.

Essas informações integram os dados analisados, entãio, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para regulação dos imunizantes utilizados no país.

Fonte: Folha de S.Paulo

Foto: Shutterstock

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