Novas variantes da Covid-19: o que são e o que muda na vacinação

As novas linhagens do coronavírus são mais transmissíveis e isso acarreta no aumento da mortalidade

De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, o Brasil já soma mais de 200 casos de Covid-19  provocados pela variante do coronavírus inicialmente identificada em Manaus.

Desses, muitos são de pessoas que não estiveram no Amazonas nem em contato com quem tenha viajado pela região. Ou seja, a linhagem P1 está produzindo em número significativo infecções autóctones, que ocorrem sem “importação”.

“As variantes virais são amostras (geralmente derivadas de pacientes) que possuem mutações que as diferem do isolado original de Wuhan. Essas mutações podem acontecer em qualquer parte do genoma do vírus e são um processo normal na evolução do mesmo. Elas surgem ao acaso, mas se conferem uma vantagem para determinados vírus, estes vírus podem se tornar os mais abundantes em certas regiões, tendo uma importância epidemiológica maior”, explica o cientista chefe do Laboratório de Genômica Médica do Centro Internacional de Pesquisas (CIPE) do A.C.Camargo Cancer Center , Dr. Emmanuel Dias-Neto.

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Quais são as variantes da Covid-19?

Além da linha P1, há também B.1.1.7, variante identificada inicialmente no Reino Unido, a 501Y.V2, variante encontrada inicialmente na África do Sul, e a B.1.526, variante encontrada em Nova York, sendo a do Reino Unido e da África do Sul já identificadas em cidades brasileiras.

A infectologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, Dra. Beatriz Quental, explica que existem diversas de variantes da SARS-CoV-2 circulando no mundo e, certamente, muitas ainda aparecerão. “Estas variantes aparecem por mutações do vírus, que vão acontecendo naturalmente ao longo do seu processo evolutivo. Contudo, atualmente, existem 3 variantes de maior importância: a cepa B.1.1.7 – do Reino Unido; a P.1 – brasileira; e a B.1.351 – da África do Sul”, explica a médica.

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O que são as novas cepas?

De acordo com o infectologista da Central Nacional Unimed (Unimed), Dr. Leon Capovilla, as novas cepas são vírus que apresentaram pequenas mutações no seu RNA, que podem ou não alterar o padrão de replicação ou infecção já conhecido, principalmente por modificações na proteína Spike.

Como surgem as novas variantes?

Dr. Dias-Neto explica que as variantes podem surgir em qualquer lugar, mas tendem a surgir onde se tem mais pessoas infectadas, o que faz com que o número de partículas virais seja maior. “Países que têm uma população muito grande e altos níveis de infecção, têm também maior probabilidade de apresentarem variante’, explica.

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As novas variantes da Covid-19 são mais transmissíveis?

Capovilla explica que as novas cepas são mais transmissíveis e isso acarreta no aumento da mortalidade. “As cepas inglesa e brasileira apresentam alterações sugestivas de escape da imunidade por anticorpos. Para as cepas inglesa e sul-africana já possuímos maiores evidências para menor efetividade de vacinas de vetores virais, que expressam a proteína Spike (Janssen e AztraZeneca), e para vacinas de partículas recombinantes da proteína Spike (Novavax)”, explica o infectologista.

Além disso, o Dr. Dias-Neto explica que um vírus que consegue escapar de uma resposta imune vai ser transmitido mais facilmente e para mais pessoas. “Quando escapa da resposta imune, ele pode levar a uma doença mais séria e consequentemente mais mortal. Outro ponto importante é que as variantes podem ter a capacidade de infectar grupos que antes não eram infectados, como por exemplo, crianças”, ressalta.

Contudo, ainda são necessários mais estudos para entender a real influência destas novas variantes na evolução da pandemia.

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Quais os impactos das variantes na vacinação?

Desse modo, os principais riscos que as novas cepas trazem para o Brasil são de mutações com escape imune para as vacinas que possuímos hoje, e cepas com maior infectividade (maior transmissão) e virulência (maior gravidade).

Capovilla explica que existe a possibilidade de redução da imunogenicidade das vacinas para as novas cepas, mas que elas ainda assim apresentariam alguma efetividade residual mesmo nos piores cenários.  “Até o momento, as vacinas de vírus inativados se mostraram mais resistentes para essas mutações. Enquanto mantermos os vírus circulando na sociedade por falta de medidas não farmacológicas (uso de máscara e higiene de mãos) e distanciamento social, estaremos favorecendo o surgimento de novas cepas, que podem eventualmente gerar casos mais graves ou maior transmissão. Mas ainda estamos enfrentando a pandemia de SARS CoV2 (Covid-19) e não é o momento para reduzir esforços para contenção desta doença”, alerta o médico.

O Dr. Dias-Neto explica que existe a possibilidade das variantes não serem anuladas por vacinas que estão sendo aplicadas no dia a dia. “Tem poucos estudos com a Coronavac, por exemplo, em variantes isoladas. A de Oxford já demonstrou não ter efetividade contra a variante sul-africana. Então não se sabe como as duas se comportam com a variante brasileira. Isso é um tema de muito interesse”, explica.

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A vacinação continua importante?

Além disso, a Dra. Beatriz explica que apesar das novas cepas, a vacinação permanece extremamente importante para reduzir a transmissão da Covid-19, bem como reduzir o risco de complicações graves da doença. “Os vírus se espalham de acordo o com fluxo de pessoas. Desta forma, se não houver estratégias de prevenção, tanto por parte da população, quanto por parte do governo, certamente teremos disseminação das novas variantes”, alerta a Dra. Beatriz.

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As vacinas vão perder o efeito diante das novas variantes da Covid-19?

A vacina da Pfizer e da BioNTech se mostrou eficaz para as variantes do Reino Unido e da África do Sul.

Já a vacina produzida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca mostrou não oferecer proteção contra doenças leves e moderadas causadas pela mesma variante.

As vacinas produzidas pela Johnson & Johnson e pela Novavax foram menos eficazes contra a variante sul-africana.

 

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Fonte: Guia da Farmácia

Fotos: Shutterstock

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