Em uma ferida úmida e com exsudato, o curativo pode ser feito com qual forma farmacêutica semissólida e qual tem a absorção mais rápida?

O tratamento das feridas cutâneas inclui métodos clínicos e cirúrgicos, sendo o curativo um dos tratamentos clínicos mais frequentemente utilizados. É importante salientar que a escolha do curativo a ser utilizado deve ser baseada no conhecimento das bases fisiopatológicas da cicatrização e da reparação tecidual, sem nunca esquecer o quadro sistêmico do paciente. As feridas podem ser agudas ou crônicas, de acordo com o tempo de reparação tissular. Também podem ser classificadas de acordo com a causa, presença ou ausência de microrganismos, presença ou ausência de ruptura no tecido superficial (abertas ou fechadas).

As feridas crônicas são aquelas que apresentam um processo de cicatrização complicado por processos infecciosos em decorrência de outras doenças existentes (úlcera de pressão, pé diabético, úlcera varicosa). Há muitos fatores que interferem no processo de cicatrização como, por exemplo, infecção, oxigenação, alimentação e hidratação, higienização, sono, idade, doenças presentes, fármacos (corticosteroides, quimioterápicos, radioterápicos), drogas (nicotina), presença de hemorragia, localização, profundidade, entre outros.

O curativo, como função básica, evita a contaminação da ferida e absorve a secreção. Curativos mais tecnológicos podem ter outras funções como possibilidade de trocas gasosas e drenagem das secreções, promover uma rápida regeneração da pele e manter a área da lesão úmida para proteger terminações nervosas e proporcionar o alívio imediato da dor. O tratamento de feridas cutâneas é dinâmico e é dependente da evolução das fases da reparação tecidual, sendo, assim, importante ressaltar que não existem curativos ideais para tratar toda e qualquer ferida. Não é possível generalizar um procedimento sem que se faça uma avaliação para se estabelecer o curativo mais adequado e, cabe o profissional da saúde fazer a melhor escolha, considerando as características apresentadas e pelas condições do paciente.

Em relação às formas farmacêuticas e quanto à permeabilidade através da pele, a composição da formulação é importante para se avaliar o grau a ser atingido porque as formas farmacêuticas creme, loção ou pomada podem ter ou não, em sua constituição, promotores de absorção e matérias-primas que apresentam capacidade de penetrabilidade diferentes, dependendo de sua origem (sendo que as matérias-primas de origem animal apresentam maior penetrabilidade, seguidas das de origem vegetal e as de origem mineral) e devem ser selecionadas dependendo da localização do problema (quais camadas atingidas), ou seja, para problemas mais superficiais ou mais profundos. Para feridas, os cremes são formas farmacêuticas que apresentam maior consistência e, portanto, a espalhabilidade ficará dificultada. Já as pomadas cicatrizantes, que apresentam consistência mole, podem ajudar no processo de cicatrização de vários tipos de feridas, entretanto, dependendo da origem da ferida, há um tipo específico de pomada e o profissional da saúde é quem deverá avaliar qual deles será o mais indicado para a ferida em questão.

A avaliação é uma parte fundamental do processo de tratamento das lesões da pele, pois só o diagnóstico preciso do tipo e estágio da lesão vai permitir a correta tomada de decisão sobre as medidas a ser implementadas e os recursos que serão utilizados. Portanto, deve-se manter a umidade na interface do curativo, remover o excesso de exsudação, permitir troca gasosa, fornecer isolamento térmico, se constituir em barreira para proteção contra os microrganismos, não deixar resíduos no leito da ferida e permitir a retirada sem provocar trauma. Saliente-se, entretanto, que dependendo da situação da ferida, poderá ser necessária utilização de mais de um tipo de curativo durante a cicatrização.

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Sobre o colunista

Farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP).

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