Medicamentos ansiolíticos e antidepressivos diminuem o efeito do anticoncepcional?

Nos últimos tempos, tem-se observado que os avanços na ciência e a inovação tecnológica contribuem para o desenvolvimento de medicamentos e a ampliação do leque de alternativas disponíveis e utilizadas para a obtenção de resultados concretos, definidos e mensuráveis em termos de saúde, que contemplam: a cura de doenças, a amenização dos sinais e sintomas, a interrupção do processo evolutivo da afecção e, até mesmo, a prevenção. Mas há remédios que diminuem o efeito do anticoncepcional?

Um dos caminhos para alcançar esses objetivos é a racionalização da farmacoterapia, além, claro, da associação às Mudanças no Estilo de Vida (MEVs), em especial no cenário das doenças crônicas, que são as que prevalecem quando se tem um perfil de população que envelhece.

Nesse contexto, identificam-se algumas barreiras que podem comprometer o êxito de uma terapia, entre elas, a ocorrência de Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRMs) que são causas de Resultados Negativos Associados aos Medicamentos (RNMs).

As Interações Medicamentosas (IMs) surgem como exemplo de PRMs e segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), correspondem a uma resposta farmacológica ou clínica, causada pela combinação de medicamentos, diferente dos efeitos de dois medicamentos dados individualmente, podendo seu resultado final ser o aumento ou a diminuição dos efeitos desejados e/ou os eventos adversos.


Podem decorrer entre medicamento-medicamento, medicamento-alimentos, medicamento-exames laboratoriais e medicamento-substâncias químicas e são classificadas da seguinte forma:

  • Origem: farmacocinética, quando um medicamento altera a absorção, a distribuição, o metabolismo ou a excreção de um segundo medicamento; e farmacodinâmica, constatada com a potencialização (sinergismo) ou inibição (antagonismo) do efeito de outro medicamento (PRYBYS; GEE, 2002).
  • Gravidade: menor, moderada e maior.

O estilo de vida atual, decorrente desde a industrialização e propagado com a modernização, trouxe inúmeros benefícios, agilidade, variedade de serviços e produtos, além da independência para a mulher, no tocante à contracepção, cabendo aqui a tomada da decisão pelo momento gestacional.

Mas, também, estes momentos de upgrade instituem consequências sobre a saúde humana, disseminando, cada vez mais, na população, transtornos, como a ansiedade e a depressão, que para tratá-los, recorrem-se, muitas vezes, aos medicamentos ansiolíticos e antidepressivos, que quando utilizados em combinação a outros tratamentos farmacológicos, podem constituir fontes potencias de interações entre classes terapêuticas.

A respeito das possibilidades de ocorrência de IM entre substâncias ansiolítica (clonazepam e diazepam – benzodiazepínicos), antidepressiva (fluoxetina – inibidor da receptação de serotonina) e contraceptiva (anticoncepcional) oral (estradiol/levonorgestrel), após pesquisa realizada na base de dados Drugdex (Micromedex®), disponível no site do Portal CAPES, obtiveram-se as seguintes informações:

Medicamento Contraceptivo oral Interagem? Gravidade da interação Efeito (resultado) da interação Conduta
clonazepam estradiol/levonorgestrel NÃO
diazepam estradiol/levonorgestrel SIM Menor Aumento da resposta do benzodiazepínico, por diminuição da biotransformação. Pode acontecer também para o alprazolam, triazolam e clordiazepóxido Pode ser necessária a redução da dosagem do diazepam em pacientes fazendo uso de contraceptivosesteroidais. Entrar em contato com os profissionais prescritores dos tratamentos
fluoxetina estradiol/levonorgestrel NÃO

 

Medicamentos ansiolíticos e antidepressivos diminuem o efeito do anticoncepcional?

Classicamente, o que se encontra na literatura é que o efeito do anticoncepcional é prejudicado pelo uso de antimicrobianos do tipo antibióticos.

Vale ressaltar que os fármacos selecionados para a breve pesquisa são os encontrados na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), ou seja, aqueles que a população tem acesso gratuitamente via Sistema Único de Saúde (SUS); mas existem muitos outros exemplos de substâncias que compõem as classes terapêuticas dos ansiolíticos, antidepressivos e contraceptivos orais, podendo surgir outros perfis de efeitos, o que exigirá outras condutas para solucionar as ocorrências e atingir a finalidade dos tratamentos.

Não há dúvidas de que as IMs podem estar por trás de um insucesso farmacoterapêutico e é bem neste panorama que a atribuição clínica do farmacêutico constitui uma prática primordial para a promoção do Uso Racional de Medicamentos (URM), sendo fundamental na prevenção ou resolução dos PRMs, sejam eles interações medicamentosas e/ou eventos adversos (PRADO et al., 2016).

Assim, evidencia-se a missão desse especialista na cadeia de cuidados centrados no paciente, ao assumir grande responsabilidade na melhoria dos serviços de saúde prestados, o que garante a segurança, lapida a qualidade, promove a adesão à terapêutica e, com isto, proporciona o alcance do uso correto e adequado de medicamentos (PAULA et al., 2015).

Um papel clínico bem desempenhado culminará na valorização e reconhecimento da função social e diferenciada do profissional farmacêutico por seus colegas que compõem a equipe multiprofissional e, sobretudo, pela sociedade.

O uso concomitante de contraceptivos orais, adesivos ou injetáveis com determinadas classes de medicamentos pode trazer efeitos mais do que indesejáveis, como a diminuição ou até mesmo a anulação do efeito do anticoncepcional. Clique aqui e baixe o eBook gratuitamente.

REFERÊNCIAS

MICROMEDEX® 2.0, (electronic version). Truven Health Analytics, Greenwood Village, Colorado, USA. Disponível em: http://www.micromedexsolutionscom.ez115.periodicos.capes.gov.br/. Acesso em: 8 de dez. 2017.

PAULA VC, BARRETO RR, SANTOS EJV, SILVA AS, MAIA MBS. Avaliação de eventos clínicos adversos decorrentes de interações medicamentosas em uma unidade de terapia intensiva de um hospital universitário. Bolet inform Geum. 2015; 6(3): 83-90.

PRADO MAMB, FRANCISCO PMSB, BARROS MBA. Diabetes em idosos: uso de medicamentos e risco de interação medicamentosa. Ciência e Saúde Coletiva. 2016; 21(11): 3447-3458.

PRYBYS, K., GEE. A. Polypharmacy in the elderly: clinical challenges in emergency practice., n.1, p. 145-151, 2002.

Por: CAMILA DE ALBUQUERQUE MONTENEGRO – Farmacêutica com habilitação em indústria, especialista em Gestão Farmacêutica, Atenção Farmacêutica e Farmacoterapia Clínica, doutora em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos (área Farmacologia) e professora adjunta da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) (área Assistência Farmacêutica).

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Sobre o colunista

Farmacêutica industrial, especialista em Atenção Farmacêutica e Farmacoterapia Clínica, Doutora em Produtos Naturais e  Sintéticos Bioativos (PgPNBS) e Professora Adjunta da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

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