Qual anti-inflamatório um paciente de idade com cardiopatia pode tomar?

Cardiopata é o portador de cardiopatia, que é termo genérico dado a todas as doenças cardíacas, qualquer que seja a sua etiopatogenia. 

Entre as cardiopatias, a hipertensão é doença com alta prevalência em nossa população e que apresenta relação direta com a idade, de modo que sua prevalência é superior a 60% em indivíduos acima de 65 anos de idade.

A questão da interação medicamentosa é uma preocupação constante, considerando que o alto consumo de medicamentos anti-hipertensivos e anti-inflamatórios pode provocar interações.

Quando se trata, então, de paciente cardiopata idoso, a atenção deverá ser intensificada, pois há potencialidade de decréscimo de função renal ou hepática, retardo do metabolismo, fatores predisponentes para interações medicamentosas e agravamento de eventos adversos.

Os fármacos anti-inflamatórios inibem a produção de Prostaglandinas (PGs), por meio de competição com o sítio ativo da enzima Cicloxigenase (COX), a qual é constituída por duas isoformas principais: a COX-1 e a COX-2.

Atualmente, os anti-inflamatórios podem ser classificados como inibidores seletivos da COX-1 (exemplo: aspirina); inibidores não seletivos da COX (exemplos: piroxicam, indometacina, diclofenaco e ibuprofeno); inibidores da COX-2 (exemplos: meloxicam e nimesulida); inibidores altamente seletivos da COX-2 (exemplos: celecoxib, etoricoxibe, lumiracoxibe).

Estudos de metanálise, que é uma técnica estatística especialmente desenvolvida para integrar os resultados de vários estudos sobre uma mesma questão de pesquisa, em uma revisão sistemática da literatura, avaliaram as consequências do uso de Anti-Inflamatórios Não Esteroides (AINEs) em relação a eventos cardiovasculares [Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCI), morte por doença cardiovascular].

Foram avaliados 31 estudos que englobaram um total de 116.429 pacientes (Fonte: Trelle S., Reichenbach S., Wandel S, et al. Cardiovascular safety of non-steroidal anti-inflammatory drugs: Network meta-analysis. BMJ 2011; DOI:10.1136/bmj.c7086). Esses autores mencionam que todas as medicações estudadas (naproxeno, ibuprofeno, diclofenaco, celecoxib, etoricoxib, lumiracoxib, rofecoxib) causaram aumento de eventos cardiovasculares.

Nessa metanálise, a medicação que acarretou menor aumento de eventos cardiovasculares foi o naproxeno. O importante é saber que o ideal é evitar por completo essa classe de medicação em pacientes com risco cardiovascular aumentado e não tomar anti-inflamatório sem a orientação de um prescritor para avaliar o risco envolvido.

Portanto, os AINEs podem antagonizar a terapia anti-hipertensiva de maneira parcial ou total, podendo não ter efeito algum sobre a pressão arterial ou até gerar crises hipertensivas.

Os anti-inflamatórios podem bloquear os efeitos anti-hipertensivos dos diuréticos tiazídicos e de alça, os antagonistas de receptores alfa e dos receptores beta-adrenérgicos, além dos agentes que inibem o sistema renina-angiotensina-aldosterona. Outros fármacos com ação analgésica, como a dipirona e o paracetamol, também podem interferir na ação dos medicamentos anti-hipertensivos.

Estudos recentes têm verificado que doses de aspirina superiores a 325 mg provocam a inibição da síntese de prostaciclinas no endotélio, provocando, portanto, efeito contrário à prevenção do IAM, pois a prostaciclina inibe a agregação plaquetária, e leva à vasodilatação.

A utilização desses fármacos requer acompanhamento por profissionais da saúde, considerando as possíveis interações que poderão ocorrer para que seja assegurado ao paciente cardiopata o seu uso racional, ou seja, a sua efetividade e a sua segurança.

Os pacientes cardiopatas apresentam diferentes cardiopatias em níveis variáveis de gravidade e, portanto, considerando a segurança do indivíduo, não é possível generalizar qual é o anti-inflamatório que deverá ser utilizado, uma vez que os AINEs, que são os mais utilizados, interferem na pressão arterial.

Quando não há alternativa, sua utilização deverá ser com doses baixas e pelo menor tempo possível. O monitoramento da pressão arterial e da função renal deve ser feito regularmente para o caso em que, na presença de qualquer dano, a farmacoterapia possa ser alterada.

Essa pergunta foi realizada através do Guia da Farmácia Responde!
Envie também seus questionamentos e dúvidas para serem respondidos por consultores especializados e publicados aqui no portal Guia da Farmácia.

Ver dúvidasEnviar dúvida

Sobre o colunista

Farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP).

9 Comentários

  1. Zenaide batista ferreira em

    Sou cardiopata e sofro com 10 hérnia de disco. Qual o relaxante muscular eficaz para o alívio das dores nas costas, mas que não prejudicam o coração?

    • Irani Oliveira em

      Minha mãe têm 90 anos e está sentindo muitas dores no ouvido, ela é hipertensa , tem problemas cardíacos, qual medicamento para dor posso dar a ela?

      • Minha mãe e cardiopata tem 75 está com muitas dores no joelho por conta da astrose e ela não está conseguindo dormir com muitas dores qual o antibiótico que ela poderia toma

    • EDER Luiz Rodrigues Garcia em

      Gostaria de saber qual as resposta para as dores nas costas e uma medicação para quem realizou recentemente um cateterismo?

  2. Ranne de Resende Andrade em

    Minha mãe tem pressão alta e tem artrose no joelho e braço tem dias que ela sente muita dor no joelho que chega até ficar inchado ela tem 80 anos,mais está bem tirando estás complicações,qual seria o anti flamatorio que deve tomar?

  3. Ulysses Canejo em

    Tenho 72 anos, coloquei 4 “Pontes Safenas” a quase 2 anos, sou hipertenso, diabetico, não bebo alcoólicos e não fumo. Estou em crise de Nervo Ciático desde dez/22. Aguardo na fila do “CER” no RJ para uma consulta com Neurocirurgião, já que a Tomografia sugere cirurgia. Médicos só me liberam Dipirona de 500mg 12/12h. As dores a cada dia aumentam e já estão se tornando insuportáveis. O que faço????

Deixe um comentário