População sênior soma 35 milhões de pessoas no Brasil

Cerca de 20% dos gastos população sênior do Brasil acontece em farmácias e drogarias, o que mostra que este público é muito importante no fator de decisão de compra de produtos para a família, principalmente no varejo

Pensando na população sênior do Brasil, segundo o Contador Populacional 60+, no dia 1º de setembro de 2019, o Brasil tinha 34.186.000 habitantes com 60 anos de idade ou mais. Esta marca chega alguns anos antes do que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projetava há uma década.

Atualmente, o Brasil tem mais de 28 milhões de pessoas nessa faixa etária, representando 13% de toda população do País. Dados do IBGE mostram que, entre 2012 e 2018, houve um crescimento de 26% de idosos. Em 2035, o País terá 48 milhões de pessoas com 60 anos de idade ou mais, o que representará 21% da população.

“Seguindo o curso demográfico, em 2029, a população 60+ será maior que a de zero a 14 anos de idade, de acordo com o Ministério da Saúde (MS), o que tecnicamente declara o Brasil como um país envelhecido”, declara o fundador SeniorLab mercado & consumo 60+ e diretor do Aging2.0 Brasil, Martin Henkel.

O especialista revela que o Brasil tem uma expectativa média de vida ao nascer em 2020 de 76,7 anos em média. “Quando analisamos mulheres e homens distintamente, encontramos 80,2 anos e 73,2 anos, respectivamente. Cabe salientar que estamos falando da expectativa de vida ao nascer, ou seja: ela vale para quem está nascendo este ano. Mas existe um segundo acompanhamento pouco explorado que é a expectativa de vida para quem tem 60 anos de idade ou mais. Cada faixa etária tem uma expectativa que ganha alguns dias ou meses à medida que envelhece”, diz.

Segundo o executivo, as taxas são as seguintes:

Expectativa de vida Homens Mulheres
60 anos 80,6 84,3
65 anos 82,1 85,3
70 anos 83,8 86,6
75 a nos 86,0 88,2
80 anos 88,6 89,9

 

O que leva ao aumento da longevidade?

Ter uma população de idosos numerosa é um fator de comemoração e orgulho. O professora da disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Dr. Jairo Lins Borges, diz que isso se deve ao desenvolvimento do País. “Essa é uma característica interessante.”

O País vai ganhando idosos à medida que a condição sociocultural e econômica vai melhorando. Estamos longe de termos um País desenvolvido, mas há desenvolvimento. Dominamos doenças que matam jovens, como a tuberculose e a diarreia, por exemplo. Além disso, temos saneamento básico, na maioria das cidades brasileiras. Tudo isso faz com que as pessoas vivam mais. Isso é muito bom, mas precisamos controlar a natalidade, é preciso haver um equilíbrio, caso contrário, viveremos o que a Itália vive hoje: não há jovens para trabalhar.”

O neurologista especializado em Neurologia Cognitiva e do Comportamento pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCMUSP), Dr. Antonio Eduardo Damin, enfatiza que o Brasil ainda não está preparado para o fenômeno do envelhecimento.

Na Europa, esse processo está acontecendo há 100 anos, no Brasil, há 60 anos. “O País precisa proporcionar um envelhecimento com acesso igualitário e genuíno a toda população. É preocupante envelhecer sem ter uma infraestrutura para permitir que as pessoas que estão envelhecendo tenham independência, dignidade e qualidade de vida. Isso é mais importante do que viver mais. Não dá pra viver 100 anos miseravelmente.”

 Mulheres vivem mais

 De acordo com diversas estatísticas, mulheres vivem mais do que os homens em torno de cinco a sete anos. As possíveis explicações para isso estão em aspectos evolutivos que dizem que para a perpetuação da espécie, pós-maturidade, a mulher seria mais importante porque ela cuida da prole e depois cuidaria da prole das filhas dela. Seria, então, um mecanismo da natureza para a preservação da espécie.

O médico coordenador da USP 60+, professor de Medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), diretor do Aging2.0 e ILC Brazil, Dr. Egídio Dória, diz que outro fator interessante é que as mulheres ao longo de seu curso de vida se submetem mais a exames regulares, têm rotinas de visitas ao ginecologista e fazem acompanhamentos preventivos. “É mais fácil obter a adesão de uma mulher a uma terapia medicamentosa do que o homem.”

Outra hipótese seria a teoria de que as mulheres têm hábitos de vida melhor, sobretudo no que diz respeito às taxas de consumo de álcool e tabagismo, já que isto impacta em uma sobrevida maior. Por fim, uma outra teoria que se pode explicar é que o estrógeno também protege as mulheres.

“Se nós pegamos como exemplo as doenças cardiovasculares, elas têm ocorrido dez anos mais tarde entre as mulheres, se comparadas aos homens, e uma das explicações para isto é a terapia estrogênica”, pontua.

Como pensar em produtos e serviços para a população sênior no Brasil

 Com maior longevidade, autonomia, qualidade de vida e independência econômica, pessoas na terceira idade estão revertendo algumas regras atuais da sociedade.

Está marcado o fim de uma era em que velhice é sinônimo de doença, solidão e dependência. Com a expectativa e a qualidade de vida crescendo, conseguidas graças a avanços na medicina preventiva e curativa, os idosos já podem levar uma vida autônoma, apesar da fragilidade física.

Eles têm muito mais dinheiro – e disposição – para gastar e vão se transformar na maior força econômica do mercado consumidor, se é que já não são. Vão tomar o lugar dos jovens como centro das atenções nos campos político, social e econômico. Em lugar de ‘velhos e doentes’, serão ‘clientes preferenciais’, capazes de influenciar com seus valores e comportamento a vida de toda a sociedade”, comenta a consultora especializada em varejo farmacêutico, Silvia Osso.

De fato, as mudanças são bastante impactantes e transformam o mindset dos negócios e os planos estratégicos de marcas, produtos e serviços. “As empresas que ainda não perceberam isso perceberão em breve”, afirma Henkel, da SeniorLab.

O executivo comenta que o desconhecimento e a falta de referências dos profissionais de marketing, design e produtos acabaram conduzindo empresas para a orientação somente do jovem ou do Millennial.

“Para se ter uma ideia, a renda dos 60+ em 2019 foi de R$ 964 bilhões e boa parte dela foi gasta em moradia, subsistência e saúde, mas uma fatia nada desprezível foi para o consumo de bens, serviços e experiências”, comenta.

A psicóloga, pesquisadora e especialista em gerontologia, Candice Pomi, sinaliza que mais de 60% dos aposentados continuam trabalhando e seguem contribuindo com os pagamentos das despesas do lar, sendo provedores financeiros e afetivos de suas famílias. E que, apesar de a maioria dos idosos preferir envelhecer em casa, um terço precisa de algum tipo de assistência para as atividades do dia a dia. “Produtos e serviços que facilitem essas atividades (se alimentar, tomar banho, se vestir) ajudam tanto o idoso quanto seu cuidador.”

Para o head de Medical Affairs para a América Latina e Brasil na Bayer, Dr. Eli Lakryc, ao mesmo tempo em que a explosão populacional de idosos é uma comprovação dos avanços científicos e tecnológicos nos últimos 100 anos, ela representa também um novo desafio para a ciência. Afinal, enquanto os avanços do século 20 tiveram um efeito maior sobre doenças infecciosas, os do século 21 devem abordar problemas associados às doenças crônicas, que são cada vez mais prevalentes entre idosos.

Com isso, junto ao aumento da expectativa de vida, a tendência é de que o índice dessas doenças também aumente significativamente, caso não existam tratamentos para controlar esse crescimento.

“Entre as doenças crônicas mais comuns estão as cardiovasculares, pulmonares, derrame, câncer e diabetes. Com isso, o que muda é que agora pensamos mais em produtos e serviços que preservem a qualidade de vida dessas pessoas prevenindo e/ou controlando as doenças crônicas e seus efeitos colaterais, tornando possível a tão desejada longevidade.”

Naturalmente, existem públicos com diferentes realidades e necessidades de consumo de produtos e serviços. “O desafio do empreendedor é buscar soluções de produtos e serviços que possam atender o mais amplamente possível às diferentes condições de envelhecimento, favorecendo a acessibilidade para aqueles que apresentam restrições e oferecendo comodidade, segurança e otimização de tempo e recursos para aqueles mais saudáveis”, complementa a gerente médica da EMS, Monalisa Fernando Bocchi de Oliveira.

 Relevância para o varejo farmacêutico

 No Brasil, o público maduro é responsável pela movimentação anual de mais de R$ 1 trilhão. Segundo o Estudo de Mercado Institucional da IQVIA, a partir de 65 anos de idade, os pacientes já manifestam, pelo menos, quatro doenças crônicas, podendo chegar a seis a partir dos 75 anos de idade, e mais de 42% das pessoas sexagenárias tomam, em média, mais que cinco medicamentos por dia.

A gerente executiva da Neo Química, Natalia Niro, diz que com o aumento no número de idosos no Brasil, o varejo farmacêutico precisa se adaptar para atender às necessidades desse público que é ativo, exigente, tem alto poder de consumo e que anseia por soluções, serviços e produtos específicos.

Silvia revela que uma pesquisa da Kantar Worldpanel mostra que 80% da população brasileira com mais de 50 anos de idade tem celular (e usa WhatsApp e Facebook) e que 40% faz exercícios semanalmente. É, em geral, uma população ativa e conectada, que busca soluções para melhorar o bem-estar.

“As farmácias devem se conscientizar de que os idosos não são apenas aqueles ‘velhinhos problema’ que todos pensam vulgarmente. Os idosos brasileiros formam um grupo muito heterogêneo de cerca de 30 milhões de consumidores, a maioria mulheres, e que têm muito mais poder de influenciar hábitos de consumo nas famílias do que se imagina”, comenta, acrescentando que eles são responsáveis pela manutenção de 25% dos lares nacionais, ou seja, 47 milhões de domicílios.

“De cada cem idosos, 68 são responsáveis pelas decisões de compra da família. Sendo assim, as farmácias e seus funcionários devem preparar-se para atendê-los bem e cativá-los. São exigentes porque estão mais bem informados e sabem bem o valor do dinheiro.”

Além disso, o público na terceira idade tem o forte hábito de trocar opiniões com pessoas e também com alguém próximo, influenciando sua compra. “Sob esse prisma, ele quer lojas modernas, iluminadas, artigos de boa qualidade e bons preços onde o custo-benefício é sempre ponderado. Nos próximos anos, o segmento de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPC) deve continuar crescendo no canal farma, sobretudo para eles, em categorias de healthcare, como protetor solar, repelentes, dermocosméticos e higiene oral. Assim, entender o comportamento atual deste consumidor idoso é fundamental para aproveitar oportunidades e crescer”, finaliza Silvia.

 Perfil do público sênior no País

 Algumas preocupações

  • Manter a independência e a autonomia até nas fases finais da vida;
  • Realizar suas atividades básicas de vida e suas atividades instrumentais;
  • Manter o seu poder de decisão sobre a sua vida e sobre o que acontece;
  • Preservar a saúde ou ter condições de ter as suas doenças crônicas bem controladas;
  • Ter rentabilidade garantida com a aposentadoria, todos querem ter uma longevidade maior, mas com recursos para que possam de alguma forma aproveitar esses ganhos extras de anos de vida.

Renda média

  • A renda média do 60+ no Brasil, em 2019, foi de R$ 2.591,00, sendo que 47% da população tem renda deste valor para cima e 9% tem renda superior a R$ 6.800,00;
  • 25% dos lares brasileiros tem como principal ou única renda uma pessoa com 60 anos de idade ou mais. O efeito coronavírus na economia levou este índice para perto de 30%;
  • Os 60+ gastam 18% da sua renda em saúde/farmácia. Esta é a terceira principal despesa deles, ficando em primeiro, alimentação/supermercado e, em segundo, moradia (despesas da casa e manutenção);
  • A cada R$ 100 do orçamento de uma pessoa com mais de 65 anos de idade, R$ 15 estão ligados a medicamentos e serviços de saúde. No entanto, essa proporção se difere de acordo com as regiões do País e com a situação socioeconômica.

Doenças crônicas mais comuns

  • Hipertensão arterial sistêmica;
  • Diabetes;
  • Obesidade;
  • Ósteoarticulares;
  • Doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas (DPOCs), como é o caso da bronquite e do enfisema;
  • Neurológicas, como é o caso da doença de Parkinson e as demências.

Principais causas de morte

  • Cardiovasculares: entre elas, as principais são infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico;
  • Neoplásicas: entre todos os tipos, os principais cânceres são os de colo do útero e o câncer de mama.
  • Demências: das mais simples, como pequenos esquecimentos, até as mais complexas, como o Mal de Alzheimer.

Fontes: médico coordenador da USP 60+, professor de Medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), diretor do Aging2.0 e ILC Brazil, Dr. Egídio Dória; Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – quarto trimestre de 2019; e Fundação Getulio Vargas (FGV)

Como será a vida do idoso em 2025?

  • A expectativa de vida em 2025 vai superar os 92 anos de idade, e o idoso se tornará um dos pivôs da organização das sociedades e dos mercados;
  • Ele terá mais autonomia, sobretudo em relação aos filhos;
  • Exigirá assistência especializada;
  • A maioria dos idosos vai continuar vivendo em domicílio próprio;
  • Com grande potencial de consumo, o idoso exigirá ser tratado como cliente e não como doente;
  • Não abrirá mão do direito de se sentir atraente e sedutor;
  • Terá a sua experiência cada vez mais valorizada e reconhecida;
  • Orientará a sociedade quanto a suas necessidades e expectativas próprias, como fizeram os jovens nos anos 70 e 90.

Fonte: Instituto Sodexo

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Fonte: Guia da Farmácia

Foto: Shutterstock

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