Diante das notícias das celebridades infectadas e dos recordes diários de novos casos de Covid-19 em países como Estados Unidos, França e Reino Unido, a efetividade das vacinas voltou a virar motivo de discussão nas redes sociais.
No Brasil, por exemplo, uma das postagens que geraram mais polêmica foi um tuíte da advogada Janaina Paschoal, deputada estadual em São Paulo pelo Partido Social Liberal (PSL).
Ela escreveu: “Vivemos um momento tão intrigante, que pessoas vacinadas, com todas as doses, pegam covid-19 e recomendam a vacinação. Parece piada. Ninguém acha, no mínimo, curioso?”
A publicação tem cerca de 14 mil curtidas e 6 mil compartilhamentos.
Efeitos colaterais
Até o momento, os principais efeitos colaterais observados são leves e passam naturalmente após alguns dias. Entre os principais incômodos listados, destacam-se, então:
Dor e vermelhidão no local da picada, febre, dor de cabeça, cansaço, dor muscular, calafrios e náuseas.
Os eventos mais graves, como anafilaxia, trombose, pericardite e miocardite (inflamações no coração), são consideradas raros pelas autoridades — e os benefícios de tomar as doses superam, de longe, os riscos observados, asseguram as agências.
Diversos imunizantes
Já a respeito da discussão sobre a eficácia e o fato de indivíduos vacinados pegarem e transmitirem o coronavírus, o pediatra e infectologista Renato Kfouri esclarece que a primeira leva de vacinas contra a Covid-19, da qual fazem parte CoronaVac e os produtos desenvolvidos por Pfizer, AstraZeneca, Janssen, entre outras, tem como objetivo principal reduzir o risco desenvolver as formas mais graves da doença, que estão relacionados a hospitalizações e mortes.
A meta principal desses imunizantes, portanto, nunca foi barrar a infecção em si, mas tornar essa invasão do coronavírus menos danosa ao organismo.
Vacina da gripe
Esse mesmo racional se aplica à vacina contra a gripe, disponível há décadas.
A dose, oferecida todos os anos, não previne necessariamente a infecção pelo vírus influenza, mas evita as complicações frequentes nos grupos mais vulneráveis, como crianças, gestantes e idosos.
Analisando o cenário mais amplo, essa proteção contra as formas mais severas têm um impacto direto em todo o sistema de saúde:
Diminuir a gravidade das infecções respiratórias é sinônimo de prontos-socorros menos lotados, maior disponibilidade de leitos de enfermaria ou UTI.
E, claro, mais tempo para a equipe de saúde tratar os pacientes de forma adequada.
Hospitalizações
E os dados mostram que as vacinas estão cumprindo muito bem esse papel:
De acordo, então, com o Fundo Commonwealth, a aplicação das doses contra o coronavírus evitou, até novembro de 2021, um total de 1,1 milhão de mortes e 10,3 milhões de hospitalizações só nos Estados Unidos.
Já o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Europa (ECDC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) calculam que 470 mil indivíduos com mais de 60 anos tiveram as vidas salvas em 33 países do continente desde que a vacinação contra a Covid-19 começou por lá.
O que explica a situação atual?
Mesmo diante das informações sobre o papel principal dos imunizantes, é inegável que a frequência de reinfecções ou de diagnósticos positivos entre vacinados aumentou nos últimos tempos.
E isso, então, pode ser explicado por três fatores.
Segundo, passado praticamente um ano desde que as doses começaram a ficar disponíveis em algumas partes do mundo (inclusive no Brasil), os especialistas aprenderam que a imunidade contra a Covid pós-vacinação não dura para sempre.
“Ou seja: a vacina continua protegendo contra as formas mais graves, como esperado”, conclui.
Efeitos dos imunizantes entre os vacinados contra a Covid-19
Os gráficos do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) mostram claramente esse efeito das vacinas na prática.
Contudo, a taxa de hospitalizações por Covid-19 entre os não vacinados é muito superior quando comparada aos indivíduos que haviam recebido suas doses até novembro.
Ainda de acordo com o CDC, algo parecido acontece com o risco de infecção e de morte pelo coronavírus.
Até outubro, indivíduos não vacinados (linha preta) tinham um risco 10 vezes maior de testar positivo e um risco 20 vezes superior de morrer por covid na comparação com quem já havia recebido a dose de reforço (linha azul escuro).
Mas o que aconteceu mais recentemente, a partir de dezembro, com a chegada da variante ômicron?
Mais atualizados, os gráficos do sistema de saúde de Nova York, também nos EUA, mostram uma diferença gritante.
A partir do início de dezembro, a curva de casos, hospitalizações e mortes na cidade sobe vertiginosamente entre os não vacinados..
E, se mantém estável, ou com um ligeiro aumento, entre quem tomou as doses.
Num relatório recente, a Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido chegou a uma conclusão parecida.
Uma das análises incluída no artigo foi feita na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e mostra que, caso o indivíduo seja infectado com a ômicron, o risco de hospitalização é 81% menor se ele tiver tomado as três doses do imunizante.
Já uma segunda pesquisa, feita pela própria agência, demonstra, então, que as três aplicações de vacinas têm uma efetividade de 88%.
Embora ainda não se saiba quanto tempo dura essa proteção e se haverá necessidade de reforços nos próximos meses.
Hacker
Infelizmente, não existem dados semelhantes sobre a realidade brasileira.
Os ataques aos sistemas de informática do Ministério da Saúde (MS) no início de dezembro ainda não foram 100% resolvidos.
E, portanto, impossibilitam o acesso aos números de hospitalizações e mortes por infecções respiratórias das últimas semanas.
Importância da vacina
Para Kfouri, todas essas evidências só reforçam, portanto, a importância da vacinação num contexto de circulação da ômicron e aumento de casos.
“É absolutamente errado pensar que não adianta tomar as doses porque todos vão ficar doentes mesmo assim. A vacina consegue transformar a covid numa enfermidade mais simples, que pode ser tratada em casa na maioria das vezes”, afirma.
“Só vamos sair da pandemia com uma alta cobertura vacinal da população, incluindo as crianças, e o respeito aos cuidados básicos, como o uso de máscaras, a prevenção de aglomerações e a lavagem das mãos”, completa o especialista.
Fonte: G1
Foto: Shutterstock