Introdução
As perdas representam uma importante fração do faturamento das empresas varejistas de um modo geral. Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe), em 2023, as perdas atingiram a marca de 1,57%, totalizando quase R$ 35 bilhões.
A seguir, o CEO da Aozawa Consultoria, Anderson Ozawa conta, com exclusividade para o Guia da Farmácia, como prevenir as perdas no canal.
Qual a importância da prevenção de perdas as farmácias?
A prevenção de perdas no varejo farmacêutico é indispensável para proporcionar aumento da governança operacional e do resultado financeiro. No varejo farmacêutico, essas ações preventivas têm impactos na gestão dos estoques e melhora nos índices de ruptura operacional. Além da redução das quebras por vencimentos e avarias e, com isso, uma melhor experiência de compra para os clientes.
Quais são os principais tipos de perdas nas farmácias?
O varejo farmacêutico é impactado por perdas de inventário ocasionadas por exemplo, por:
- Furtos internos, que são desvios de produtos praticados por colaboradores, principalmente nos caixas. Isso se dá através de vendas sem registro para conhecidos ou cancelamentos de vendas em dinheiro e outro exemplo, como ocultação de produtos em áreas internas da empresa.
- Furtos externos, que são praticados por pessoas que se apropriam de produtos na área de vendas, por meio da ocultação em bolsas, roupas, sacolas, entre outros.
- Operação, que gera perdas através de vencimentos de produtos na loja pela prática incorreta do PVPS (Primeiro que Vence, Primeiro que Sai) ou excesso de produtos por erro na distribuição de estoque.
- Avarias, que ocorrem por armazenamento incorreto, manuseio incorreto e por excessos, que ocupam maior espaço do que o ideal e incorrem em acidentes.
- Ruptura, um tipo de perda comercial que ocorre quando um produto não está exposto no ponto de venda por um erro operacional de reposição/exposição dos estoques, ao permanecer no estoque.
- E Nível de Perdas de Inventário que, quando é alto, gera estoque virtual na loja. Com isso, não ocorre a reposição do estoque por compra, uma vez que o estoque sistêmico que o comprador utiliza para parametrizar suas compras está incorreto.
Quais os produtos integram o ranking de perdas no canal farma?
Os destaques ficam para:
- Desodorantes;
- Lâminas e aparelhos de barbear;
- Suplementos nutricionais;
- Leites especiais;
- Dermocosméticos;
- Preservativos; e
- Sabonetes íntimos.
Em relação aos medicamentos, quais podem gerar as maiores perdas?
É importante ficar atento para:
- Disfunção erétil;
- Inibidores de apetite; e
- Diabetes com uso para emagrecimento.
Todos estes itens têm alta capacidade de revenda no mercado paralelo e, por isso, chamam a atenção.
Como potencializar vendas e reduzir perdas?
Uma das estratégias utilizadas no varejo farmacêutico para potencializar as vendas é adotar um gerenciamento de categorias eficiente que possibilite determinar os produtos adequados ao mix de cada loja de acordo com as características de consumo dos clientes, vendas agregadas, up-selling.
Além da exposição em loja com um trade marketing que reflita a jornada do cliente e ofereça os produtos de acordo com seus relacionamentos mercadológicos.
Isso contribui para outra estratégia importante que é o planejamento de demanda, onde são adotados ações e métodos para alocar corretamente os produtos de acordo com a demanda segmentada das lojas, que além de gerar resultados nas vendas, melhora os resultados de perdas e a gestão do fluxo de caixa.
Como a tecnologia contribui com a redução das perdas?
Cada vez mais é importante conhecer o cliente e, para isso, o uso de um CRM com inteligência é a solução adequada para esta finalidade.
Assim, com uma equipe dedicada para análises e estratégias, o varejista conseguirá conhecer melhor o cliente individualmente e criar clusters, agrupamentos, etc.
Isso permitirá para que, operacionalmente e comercialmente, seja possível atender melhor o cliente e gerenciar melhor os estoques do negócio.
Por fim, o uso de Inventários Rotativos para gerenciar os níveis de estoque, o controle dos produtos de alta perda, e a análise sistemática das variações de inventário mais significativa para tomadas de ação mais rápidas para mitigar os riscos do negócio.
Quais tecnologias podem ser aplicadas para prevenir perdas?
Como existem vários tipos de perdas, primeiro é necessário identificar de que forma a farmácia é mais afetada.
Para isso, é preciso fazer uma análise dos inventários, o que pode identificar, por exemplo, a existência de furtos externos. De qualquer forma, algumas das tecnologias possíveis são:
- Implantação da proteção eletrônica de produtos com detecção por antenas antifurto.
- Monitoramento das operações de caixa, onde é possível utilizar imagens de câmeras de monitoramento que sincronizam com a operação de venda, inclusive o cupom fiscal. Isso proporciona um cruzamento de dados onde, se um determinado item não é registrado no caixa, o sistema indica, através da imagem da câmera, que houve uma inconformidade.
- Também é possível marcar os produtos de alta perda citados anteriormente, para um monitoramento direcionado para os itens que mais impactam os resultados da loja.

Qual é a relação entre exposição e redução de perdas?
A exposição de produtos impacta diretamente nas vendas e perdas, porém, o mandatório são as vendas.
Assim, se uma loja tem exposição agressiva de produtos de alta perda – próximo ao acesso da loja e/ou próximo aos caixas – ela deve ter, em contrapartida um monitoramento mais enfático dos colaboradores e o uso de sistemas de inibição de perdas, como a proteção eletrônica com etiquetas ou caixas acrílicas.
O uso de comunicação visual como “esta área é monitorada por câmeras”, de acordo com a legislação local, também é importante.
Conclusão
É importante como estratégia fundamental que a cultura de prevenção de perdas esteja presente no negócio para todos os colaboradores.
Esta cultura é composta por elementos visuais como:
- Comunicações;
- Avisos;
- Banners de boas práticas;
- Elementos gerenciais;
- Reuniões diárias de resultados de perdas;
- Reforço de boas práticas;
- Elementos comportamentais;
- Reconhecimento das lojas com melhores resultados de perdas dos melhores colaboradores, etc.,
Por fim, também são importantes elementos financeiros, como:
- Indicador de perda como fator de bônus;
- Prêmios por resultados de inventários;
- Campanhas de redução de vencimentos e avarias com premiação, entre outros.
A prevenção de perdas é uma cultura que deve estar no DNA de todos, para que seus elementos de gestão – pessoas, processos, auditoria, tecnologia e indicadores – possam funcionar em sinergia e harmonia para obter, com inteligência e governança, os resultados esperados.
Foto: Shutterstock
Leia mais:
Varejo farmacêutico cresce 7,2% em maio