Milhões de pessoas morrem todos os anos em consequência de infecções bacterianas, mesmo quando tratadas com antibióticos. Em muitos casos, os medicamentos não funcionam porque as bactérias se tornaram resistentes a eles.
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), a resistência bacteriana aos antibióticos foi diretamente responsável por 1,27 milhão de mortes em todo o mundo em 2019. Estima-se que 4,95 milhões de óbitos estejam associados a essa resistência.
Neste artigo, tratamos da resistência das bactérias aos antibióticos. Já o termo resistência antimicrobiana (RAM) se refere a todos os tipos de micróbios – como bactérias, fungos, vírus e parasitas –, que se adaptaram para serem resistentes aos tratamentos usuais.
O problema: medicamentos existentes já não funcionam tão bem ou simplesmente não fazem mais efeito. Muitas vezes não existem alternativas disponíveis. Mesmo doenças facilmente tratáveis, como infecções urinárias, podem ser fatais.
A OMS classifica as bactérias como perigosas com base em vários critérios:
- Taxas de mortalidade
- Incidência (número de infecções)
- Impacto na saúde
- Desenvolvimento de resistência
- Transmissibilidade
- Evitabilidade
- Opções de tratamento
- Desenvolvimento de novos medicamentos
Bactérias mais perigosas
As bactérias recebem uma pontuação para cada critério e são dessa forma são classificadas. A lista 2024 da OMS contém 24 patógenos prioritários. Abaixo, estão listados os mais perigosos.
1. Klebsiella pneumoniae
Klebsiella é um tipo de bactéria presente nos intestinos e nas fezes humanas. A Klebsiella pneumoniae pode causar pneumonia, envenenamento do sangue e infeccionar feridas. Se a bactéria entrar no sistema nervoso, pode causar meningite.
Nos hospitais, a Klebsiella pneumoniae pode evoluir e se tornar a chamada superbactéria, que se espalha rapidamente, além de ser multirresistentes, o que faz com que os tratamentos com vários antibióticos sejam ineficazes.
A Klebsiella pneumoniae também é resistente aos carbapenêmicos, os chamados antibióticos de reserva, que são utilizados somente em último caso, quando não há outra alternativa. O uso indiscriminado destes antibióticos promove o desenvolvimento de resistência.
2. Escherichia coli (E. coli)
Assim como a Klebsiella, a bactéria Escherichia coli (E. coli) é geralmente encontrada no intestino humano e de animais, mas também pode ser encontrada no meio ambiente, nos alimentos e na água.
A maioria dos tipos de E. coli são inofensivos. No entanto, alguns podem causar doenças, como diarreia, infecções urinárias, pneumonia e sepse. Os níveis de E. coli no rio Sena em Paris geraram debates acalorados durante os Jogos Olímpicos de 2024 na capital francesa.
A E. coli é resistente às cefalosporinas de terceira geração – um antibiótico comumente prescrito que também é usado para tratar infecções sexualmente transmissíveis, como a gonorreia. A E. coli também é resistente aos carbapenêmicos.
3. Acinetobacter baumannii
Em 2012, os pesquisadores descreveram a Acinetobacter baumannii como um “patógeno bacteriano oportunista emergente” associado a infecções hospitalares.
O risco de infecção aumenta conforme o tempo em que os pacientes permanecem hospitalizados. Pessoas com sistemas imunológicos vulneráveis estão particularmente em risco. A Acinetobacter baumannii também é resistente aos carbapenêmicos.
4. Mycobacterium tuberculosis
A Mycobacterium tuberculosis (TB) causa tuberculose – uma infecção bacteriana dos pulmões potencialmente fatal. Algumas cepas desta bactéria são multirresistentes, ou seja, não respondem mais a vários medicamentos.
Em 2023, a tuberculose causou 1,25 milhões de mortes. “A tuberculose voltou a ser provavelmente a principal causa de morte no mundo devido a um único agente infeccioso, depois de ter sido ultrapassada pela covid-19 durante três anos”, afirmou a OMS.
A Mycobacterium tuberculosis é resistente à rifampicina, um antibiótico usado para tratar infecções como tuberculose e lepra.
5. Salmonela typhi
A Salmonella typhi causa febre tifoide, que afeta principalmente pessoas que vivem em regiões com saneamento precário em partes da África, Ásia e América Latina. Cerca de 9 milhões pessoas são infectadas por ano.
A Salmonella Typhi é resistente à fluoroquinolona, que podem desencadear vários efeitos colaterais. Por Isso, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) restringe seu uso.
6. Espécies de Shigella
Existem quatro espécies de Shigella: Shigella sonnei, Shigella flexneri, Shigella boydii e Shigella dysenteriae. Essa bactéria causa diarreia, dores abdominais e febre.
Elas se espalham através de alimentos e água contaminados, mas também são transmitidas sexualmente. A Shigella é resistente às fluoroquinolonas.
7. Enterococcus faecium
A Enterococcus faecium vive na flora intestinal, também chamada de microbioma. Essa bactéria pode causar doenças graves em pessoas com diabetes ou doenças renais crônicas, além de infecções urinárias e no sistema nervoso. Essa bactéria é resistente à vancomicina.
8. Pseudomonas aeruginosa
A Pseudomonas aeruginosa causa infecções no sangue, pulmões, trato urinário e outras partes do corpo, geralmente após cirurgias em hospitais. Pessoas com sistema imunológico enfraquecido devido a doenças ou medicamentos estão particularmente em risco. Essa bactéria é multirresistente, inclusive contra carbapenêmicos.
Fonte: G1
Foto: Shutterstock
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