A missão conjunta da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da China sobre as origens da Covid-19 crê que o novo coronavírus muito provavelmente foi transmitido de morcegos para os humanos por meio de um outro animal.
O relatório dá as primeiras respostas sobre o início da crise sanitária, tópico que continua a gerar tensão entre Pequim e o Ocidente.
Com base nas conclusões de uma equipe de investigação da OMS que passou 27 dias em Wuhan, cidade no centro da China onde surgiram os primeiros casos de Covid-19, o relatório completo ainda será divulgado.
A análise mais completa até o momento sobre a origem da pandemia, não traz grandes surpresas e recomenda estudos mais aprofundados sobre várias, porém pouco prováveis, teorias.
A única exceção é a hipótese de que o patógeno teria escapado do Instituto de Virologia de Wuhan — suposição promovida sem qualquer embasamento pelo ex-presidente americano Donald Trump.
De acordo com a missão de especialistas é “extremamente improvável” que isso tenha acontecido. Incidentes deste tipo, ressalta o documento, são raros e sequer há registros de patógenos próximos ao coronavírus em laboratórios da cidade antes de dezembro de 2019.
“Todas as hipóteses estão sobre a mesa e merecem estudos mais aprofundados e abrangentes”, disse o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Ele reconheceu que recebeu o relatório, mas se recusou a comentá-lo mais a fundo.
Novas descobertas
As descobertas vêm à tona quase 14 meses após a notificação dos primeiros casos de Covid-19 em Wuhan, na província central de Hubei.
Desde então, a pandemia já infectou mais de 126 milhões de pessoas e matou 2,7 milhões.
Apesar das vacinas desenvolvidas em tempo recorde, variantes mais contagiosas se alastram pelo planeta e levam diversas regiões a implementarem quarentenas.
Composta por 17 especialistas internacionais e 17 especialistas chineses; a missão investigadora crê ser “entre provável e muito provável” que o vírus tenha pulado de um morcego para um animal intermediário e, então, para os humanos. Vírus similares, afirmaram, foram encontrados em pangolins.
Covid-19 teria origem animal
Os especialistas recomendam ainda estudos adicionais sobre animais domesticáveis que possam ser suscetíveis ao Sars-CoV-2, o causador da Covid-19, como gatos e visons.
De acordo com o relatório, também não está claro se o mercado central de Huanan foi o marco zero do vírus, ou apenas o lugar onde começou a circular em maior escala.
O local, onde os primeiros pacientes frequentavam ou trabalhavam, vendia carnes exóticas e animais vivos.
Além disso, o documento lista uma possível, mas “improvável”, cadeia de transmissão entre animais e humanos por meio de carnes congeladas. Isso havia sido descartado pela OMS, porém há vozes influentes na China que defendem que o vírus chegou a Wuhan por meio de embalagens contaminadas.
A inclusão da hipótese aumentou ainda mais o ceticismo ao redor do relatório, já alvo de críticas antes mesmo dos especialistas desembarcarem em Wuhan.
Funcionários do governo americano acusam a China de omitir informações sobre a pandemia, apontando para informações inicialmente escondidas pelas autoridades locais de Hubei.
Washington afirma que os chineses tentam reescrever a história da pandemia, baseando-se no controle da pandemia em seu território.
Disputas políticas
Seguindo a onda dos americanos, outros governos ocidentais também acusam a OMS de ser demasiadamente mansa diante da China.
A demanda por uma investigação independente sobre origem do vírus, por si só, foi fortemente impulsionada pelos americanos.
Críticos também apontam para a falta de transparência e acusam Pequim de manipular o relatório, não divulgado dados brutos e sinalizando que vários dos cientistas chineses responsáveis pela coleta dos dados posteriormente analisados pela missão da OMS têm filiação com o governo.
A divulgação do documento supostamente atrasou devido a negociações com o governo chinês que, por meses, pôs obstáculos para que a missão internacional chegasse à Wuhan.
A missão da OMS nunca teve por finalidade identificar exatamente a origem do vírus, já que isso costuma levar anos.
Até hoje, por exemplo, não se pode afirmar com acurácia qual espécie de morcego é responsável pelo ebola, algo estudado há 40 anos.
Sabe-se, contudo, que os morcegos carregam coronavírus e, até hoje, o patógeno mais próximo do Sars-CoV-2 de que se tem conhecimento foi encontrado em morcegos.
Fonte: Estadão
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