Riscos e vantagens dos anticoncepcionais hormonais

Vice-presidente de anticoncepção da Febrasgo, Ilza Maria Urbano Monteiro, explica os benefícios e os riscos envolvidos no uso da pílula e outros métodos

Dos anticoncepcionais hormonais, a pílula anticoncepcional, significou uma revolução nos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres há 60 anos.

Mas desde então, a lista cresce na mesma medida que os relatos sobre seus efeitos colaterais adversos.

Náuseas, dores de cabeça, enjoos, redução de libido, mudanças de humor e, em casos mais graves, tromboses, já foram relatados a ponto de um artigo publicado em 2005 pela revista “Archives of General Psychiatry” apontar que de 20% a 30% das usuárias de anticoncepcionais hormonais experimentam efeitos colaterais que incluem até depressão.

Enquanto isso, os estudos sobre anticoncepcionais masculinos hormonais foram interrompidos em 2016 porque 3% dos homens testados apresentaram propensão à depressão e outros transtornos de estado de ânimo.

A ginecologista e vice-presidente de anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Ilza Maria Urbano Monteiro explica quais os riscos envolvidos na contracepção hormonal e o que as mulheres podem fazer para se proteger, caso optem por esse tipo de contracepção.

Depois de se informar, lembre-se, é sempre importante consultar uma médica de sua confiança que conheça o seu histórico clínico.

Quais são os métodos hormonais disponíveis no Brasil hoje e Qual deles tem o melhor custo-benefício?

Imagine que você vai tomar a pílula de R$ 10 durante cinco anos. Por ano, você gasta cerca de R$ 360; em cinco anos serão mais de R$ 1.500. O DIU hormonal custa cerca de R$ 1 mil e tem durabilidade maior, assim como o implante, que sai ainda mais barato e dura três anos. Pensando em eficácia e em dinheiro, os métodos que não dependem de uso diário são mais vantajosos.

Como a mulher pode descobrir se deve usar métodos hormonais ou não?

Ninguém deveria usar métodos hormonais sem falar com um médico ou enfermeiro.

No entanto, é necessário que a mulher busque um profissional e tenha aconselhamento contraceptivo.

Já que há muita informação disponível e acessível.

Precisamos de mulheres bem informadas, tranquilas em relação às informações e que estejam dispostas a encontrar os melhores métodos para si.

Quais são os riscos que o anticoncepcional hormonal pode trazer?

A pílula hormonal ainda é um método muito usado por conta da facilidade de acesso.

No Brasil, em torno de 80% das mulheres sexualmente ativas usam algum tipo de anticoncepcional hormonal, das quais 28% usam a pílula.

Dependendo do método escolhido, o mecanismo de ação é o bloqueio da ovulação, a alteração do muco cervical (evitando a penetração dos espermatozóides), a alteração da motilidade tubária ou a inadequação provocada no endométrio.

Dizemos, então, que os hormônios que agem deixam de ser os da mulher; ela passa a usar os hormônios que está tomando.

Muitas mulheres se queixam dos efeitos colaterais dos hormônios. Quais são eles?

Pode ocorrer, por exemplo, o sangramento intermenstrual, o escape. Essa é a principal razão para as mulheres abandonarem o anticoncepcional: sangramento fora do período menstrual, desconforto da cólica fora de hora, a sensação de ter menstruado duas ou três vezes no mês.

É uma coisa que não combina com uma vida na qual a sexualidade é bastante presente.

Há também o fato de associar-se a pílula, por exemplo, ao ganho de peso, já que os componentes dela estimulam a retenção de líquido, especialmente a injeção.

Outro problema é a acne, causada especialmente pelos anticoncepcionais sem estrogênio.

A mudança de humor também pode ocorrer, dependendo do organismo de cada mulher.

Há quem precise tomar cuidado se tiver, por exemplo, histórico de depressão ou algum parente com essa doença.

O efeito colateral mais perigoso é a trombose. O uso de alguns tipos de pílula pode aumentar de 1,2 a 1,8 vezes a chance de desenvolver trombose arterial, quadro que causa AVC ou infarto agudo do miocárdio. Já o risco de ter trombose venosa fica de três a seis vezes maior ao tomar contraceptivo oral.

Quais as chances de uma usuária de anticoncepcional hormonal ter trombose?

Se for depender apenas da pílula em si, isso é raro. Mas pode ser que alguma coisa já estivesse no organismo e, quando entra o estrogênio, que realmente aumenta o fator de coagulação, ele deflagra o processo de trombose, às vezes de maneira muito grave.

É possível diagnosticar esse risco?

Os fatores de risco podem ser diagnosticados com exames.

Entre 10 mil mulheres que usam o anticoncepcional à base de levonorgestrel, o mais usado no mundo, cerca de oito e nove podem ter trombose.

Geralmente, a trombose, se for aparecer, aparece no primeiro ano. Raramente isso acontece a partir do segundo ano de uso do anticoncepcional hormonal.

Existe risco de câncer ou infertilidade associado ao uso de anticoncepcionais hormonais?

O câncer de mama, por exemplo, é bem raro se for associado ao anticoncepcional.

Porém, mais uma vez, deve-se observar o fator de risco. Se a mulher tiver fator de risco para câncer, pode ser que ocorra.

A pílula do dia seguinte é, como dizem, uma ‘bomba de hormônios’?

Eu não sei da onde tiraram isso. A pílula possui progestágeno, o hormônio da ovulação.

Quantitativamente falando, ela tem mais ou menos a mesma quantidade de hormônio de duas pílulas anticoncepcionais comuns.

Pode provocar sim sangramento irregular, já que interfere, dessa maneira, na ovulação.

Mas só funciona se a mulher ainda não tiver ovulado, porque a pílula interfere nesse processo.

Não é bomba! Bomba era a primeira pílula que saiu nos anos 1960.

Mulheres com doenças como lesões causadas por HPV podem ter o problema agravado pelo anticoncepcional hormonal?

Não. O hormônio não interfere na lesão que já está lá. Estatisticamente, isso não é possível.

No entanto, o que acontece é que, com o uso da pílula, muitas mulheres param de usar camisinha e ficam, portanto, mais suscetíveis a doenças sexualmente transmissíveis.

Quais métodos não hormonais são seguros?

O DIU é um método bastante eficaz. Existem o de cobre e o prata, que causam um processo inflamatório no útero, incompatível com a sobrevida do espermatozóide.

O que significa que, ao longo da viagem que o espermatozóide faz até o óvulo, ele perde a cauda ou fica sem forças para continuar nadando.

Quem entende bem o próprio corpo pode controlar o ciclo com aplicativos, acompanhando o muco ou a temperatura basal.

Portanto, esses métodos naturais podem ter até 90% de eficácia.

O diafragma era ótimo também, mas praticamente caiu em desuso.

Todos os métodos contraceptivos, exceto a Depro-Provera, têm retorno imediato à fertilidade após um mês da paralisação do uso.

E a camisinha, claro, que além de ser o melhor método contra a gravidez, previne também contra as infecções sexualmente transmissíveis.

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Fonte: Globo online

Foto: Shutterstock

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