
Os efeitos do HPV na saúde da mulher – uma das principais causas do câncer de colo do útero –, são amplamente conhecidos. Mas e entre os homens? A pesquisa “Saúde do Homem Brasileiro: HPV e Vacinação”, realizada pela Ipsos a pedido da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e com apoio da farmacêutica MSD, revela que ainda predominam a desinformação e crenças equivocadas sobre o vírus. O tema, aliás, ainda é cercado de tabus.
O estudo, que ouviu homens das classes A e B, foi divulgado durante o lançamento da campanha “Cuide do Seu”, da MSD, com apoio da SBU, que incentiva a prevenção ao HPV (Papilomavírus Humanos), Infecção Sexualmente Transmissível (IST) que causa lesões genitais e pode evoluir para câncer de pênis.
O Guia da Farmácia acompanhou o evento, que contou com a presença de atletas de várias modalidades, artistas, influenciadores, comentaristas esportivos e jornalistas no Museu do Futebol, em São Paulo (SP), no dia 22 de outubro.
“Há muitos anos, a MSD abraçou a causa do câncer de colo de útero, que envolve rastreamento, tratamento precoce e vacina, e falamos muito sobre isso com as mulheres. Agora, é essencial incluir os homens nessa conversa, já que o vírus é amplamente transmitido. Quanto menor a circulação do HPV, menor o risco da infecção, que também pode causar outros problemas à saúde masculina”, afirmou a diretora médica da MSD Brasil, Marcia Abadi.
“Está na hora de falar sobre essa problemática para os homens porque eles só vão ao médico quando têm um problema. Uma pesquisa do CDC, nos EUA, mostra que 38 mil casos de câncer são diagnosticados devido ao HPV, sendo que 42%, ou seja, quase metade, são em homens. É muito sério esse tema e muitos homens não sabem o que é o HPV”, ressaltou o diretor da MSD Brasil, Fernando Cerino.

Atletas de peso de várias modalidades, artistas, influenciadores e comentaristas esportivos no lançamento da campanha “Cuide do Seu”, da MSD com apoio da SBU
De fato, o estudo mostra que apenas 35% dos entrevistados agendam consultas médicas regularmente, indicando que a maior parte tem uma postura mais reativa de buscar apoio apenas quando necessário.
“Como urologistas, enfrentamos o desafio de levar o homem ao consultório. Após a fase do pediatra, tem um gap significativo porque eles passam muitos anos sem acompanhamento médico e só procuram ajuda quando há uma necessidade de fato, uma lesão, por exemplo. Diferentemente das mulheres, que mantêm o hábito do check-up e da prevenção, os homens ainda carecem dessa cultura e isso é algo que precisamos mudar”, afirmou a Dra. Maria Claudia Bicudo, urologista, professora da Faculdade de Medicina do ABC e coordenadora do Departamento de Comunicação da SBU-SP, que apresentou os dados da pesquisa durante o evento.
Apenas 5% dos entrevistados afirmaram já ter tido HPV, um número que reflete o que as pessoas se sentiram à vontade para declarar na pesquisa. Isso indica que a ocorrência real pode ser maior, sugerindo possível subnotificação de casos.
Atitudes em relação a saúde
Segundo o estudo, os principais aspectos que influenciam os homens em relação à saúde são:
- vontade de manter um bom estilo de vida (52%);
- longevidade e qualidade de vida (51%);
- histórico familiar de doenças (39%);
- recomendações médicas (5%).
As doenças mais temidas entre eles são: câncer, doenças cardíacas, depressão e transtornos mentais, nesta ordem.
A maioria (52%) se informa sobre saúde com médicos e profissionais de saúde; 43% em sites e portais de notícias e 42% na TV.
Conhecimento sobre HPV
O estudo aponta que o conhecimento é limitado sobre o impacto específico do HPV na saúde masculina.
Apesar de 65% afirmarem conhecer o HPV, essa não é a IST mais lembrada. Entre as infecções sexualmente transmissíveis mais conhecidas entre eles estão: a Aids (88%), a sífilis (85%), a gonorreia (82%) e a herpes genital (75%).
O levantamento também destaca que ainda há crenças equivocadas sobre o tema: 64% dos homens não acham que é verdade que o HPV pode causar câncer ou verrugas genitais.
“Existem mais de 200 tipos de vírus HPV e eles são divididos em vírus de baixo e de alto risco. Os vírus de alto risco têm a capacidade de penetrar na célula, modificar o DNA e isso pode levar ao câncer”, explicou a urologista.
Outro dado preocupante é que 45% acham que é verdade que a infecção por HPV é sempre evitada pelo uso de preservativos. A Dra. Maria Claudia lembra que, embora essencial, o uso de camisinha é insuficiente no caso do HPV e até gera uma falsa sensação de segurança, afetando negativamente a prevenção. Por isso, é fundamental ter a proteção da vacina. “Certamente é melhor prevenir do que tratar a doença”, afirmou.
A pesquisa revela ainda que a maioria dos homens sabe que o câncer de colo de útero (69%) e o câncer de pênis (65%) são causados pelo HPV. Mas 39% citaram também o câncer de próstata, porém esta condição não está relacionada ao HPV. Por isso, há espaço para melhorar o conhecimento em relação aos canceres que afetam a população masculina.
Vacina contra o HPV ainda é desafio entre os homens
A pesquisa indica que 41% dos entrevistados já tomaram alguma vacina contra o HPV, com maior adesão entre jovens de 20 a 29 anos (52%).
A grande maioria foi imunizada na rede pública (80%), enquanto 20% recorreram à rede privada.
Entre os vacinados, 62% receberam a versão quadrivalente, disponível no SUS, e 17% a nonavalente, oferecida apenas na rede particular; 19% não souberam responder ou não lembraram.
Apesar dos números animadores, a Dra. Maria Claudia destaca que os índices ainda não refletem a realidade da população em geral e reforça a importância de ampliar a conscientização sobre a vacina do HPV.
“Precisamos disseminar informação e combater mitos para que seja possível vacinar o maior número de pessoas”, afirma. Segundo ela, campanhas que mostrem os benefícios da imunização individual e familiar são fundamentais para reduzir as lacunas de informação e fortalecer a prevenção.
Metodologia da pesquisa
O estudo foi realizado em duas etapas para coleta de dados. A fase qualitativa ocorreu de 14 a 20 de janeiro de 2024, com 300 entrevistas online de autopreenchimento feitas com homens das classes A e B1, de 20 a 45 anos, em todas as regiões do país. A grande maioria, 88%, se autodeclarou heterossexual, 7% homossexual e 5% bissexual. Além disso, 61% têm filhos, sendo a maior parte na faixa etária de 9 a 14 anos, idade indicada no calendário vacinal para imunização contra o HPV.
Já na fase qualitativa (de 19/11/24 a 03/12/24) foram feitas 14 entrevistas virtuais em profundidade, e três grupos de discussão presenciais em São Paulo, com homens que se autodeclararam heterossexuais casados e solteiros, além de homossexuais, das classes A e B.
Fotos: Divulgação MSD
