Saúde prevê gastar R$ 250 milhões para pôr ‘kit-covid’ em farmácias populares

Hidroxicloroquina e azitromicina fazem parte do 'kit covid' mesmo sem eficácia comprovada, pois tornaram aposta do governo Jair Bolsonaro contra a doença

Mesmo com mais de 2,5 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina encalhados nos estoques, o Ministério da Saúde planeja gastar até R$ 250 milhões para oferecer o medicamento, além do antibiótico azitromicina, no programa Farmácia Popular.

O plano prevê reembolsar farmácias conveniadas para que distribuam de graça os produtos que compõem o chamado “kit covid”.

Essas drogas não têm eficácia comprovada contra o novo coronavírus, mas se tornaram aposta do governo Jair Bolsonaro para enfrentar a pandemia.

Agora, a ideia é usar dinheiro público para distribuir gratuitamente em farmácias.

Os comprimidos de hidroxicloroquina encalhados não fazem parte do kit que poderá, dessa maneira, passar a ser distribuído gratuitamente.

No Farmácia Popular, os estabelecimentos conveniados entregam, por exemplo, medicamentos de graça ou com até 90% de desconto e recebem reembolso pelo valor que pagaram à indústria.

Com os mesmos R$ 250 milhões previstos para distribuir o “kit-covid” seria possível ao governo comprar 13,18 milhões de doses da vacina produzida pela Universidade de Oxford e pela AstraZeneca, ao preço de R$ 18,95 por unidade, suficiente para imunizar quase 7 milhões de pessoas.

O estudo para inserir o medicamento no Farmácia Popular corre em sigilo no ministério desde o começo de julho.

Nesta semana, a proposta recebeu aval da área jurídica e chegou às mãos do ministro Eduardo Pazuello.

Será preciso prescrição médica para retirar o “kit covid”.

De acordo com a tabela de preços definida pelo governo federal, custa R$ 25 cada caixa com dez comprimidos de sulfato de hidroxicloroquina 400 mg.

Esse medicamento indicado na bula para artrite reumatoide, lúpus e malária. Já dez comprimidos do antibiótico azitromicina 500 mg valem R$ 35 – valores considerando o ICMS de São Paulo.

Estoque

Desde o início da pandemia, Bolsonaro turbinou a produção de cloroquina no Laboratório do Exército, que fez mais de 3,2 milhões de comprimidos.

Em novembro havia mais de 400 mil unidades em estoque.

O País também recebeu cerca de 3 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e da farmacêutica Sandoz, mas ainda não conseguiu distribuir nem 500 mil unidades.

Além da baixa procura, o fármaco foi enviado em caixas com 100 ou 500 comprimidos e precisa ser fracionado – com custo repassado a Estados e municípios.

No entanto, o presidente tem insistido em divulgar o medicamento mesmo após uma série de estudos, realizados em diferentes países, não conseguirem comprovar qualquer benefício.

A pasta de Pazuello passou a recomendar o uso desde os primeiros sintomas da Covid-19. O próprio Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, disseram que se trataram com essas drogas.

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Fonte: Estadão

Foto: São José dos Quatro Marcos/Luiz Carlos Bordin

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