Sequelas neurológicas são observadas em pacientes infectados por Covid

O sistema nervoso pode ser comprometido de forma direta ou secundária, passando desde dores musculares a um AVC

Muito tempo passou desde que a pandemia da Covid-19 se tornou uma realidade, mudando hábitos individuais e coletivos em todo o mundo.

O comportamento do coronavírus, entretanto, continua surpreendendo a comunidade científica.

O que se sabe até o momento é que, além dos sintomas iniciais e do comprometimento dos pulmões, a infecção pelo coronavírus pode deixar sequelas neurológicas importantes, que variam de leves a graves.

É o que explica o neurologista da A Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP), Fernando Freua.

No início da pandemia, alguns sintomas chamaram atenção por serem inusitados, como a anosmia (perda do olfato), que foi rapidamente associada à infecção por coronavírus.

Mas em algumas pessoas esse sintoma pode perdurar por meses.

De acordo com  Freua, há algumas teorias, ainda em discussão, sobre o motivo pelo qual o coronavírus afeta a capacidade olfativa.

No entanto, algumas pessoas precisam de reabilitação – feita com treinamento olfatório – para recuperar a capacidade de sentir odores.

 Confusão mental

As manifestações neurológicas resultantes da Covid-19 são as mais prevalentes, depois das respiratórias.

Elas podem ser o surgimento ou agravamento de enxaquecas, dores musculares persistentes, crises convulsivas, perda de memória recente, dificuldade de concentração e confusão mental.

“A confusão mental pode ser provocada por uma resposta inflamatória do organismo à infecção ou pela encefalopatia provocada pelo vírus. Um estudo francês, realizado com imagem funcional, que avalia o metabolismo cerebral, verificou certo declínio cognitivo em pacientes pós-Covid. Mas há relatos inclusive de pacientes que desenvolveram síndrome parkinsoniana também e isso é, provavelmente, por ação direta do vírus no Sistema Nervoso Central. Então, o espectro das sequelas neurológicas do paciente infectado por Covid-19 é muito amplo”, afirma o médico.

Outra complicação que pode ocorrer é a síndrome de Guillain-Barré.

Que é a inflamação das raízes nervosas, que pode gerar perda de sensibilidade, perda de força.

E, se não tratado da maneira correta, pode levar o paciente à deficiência respiratória grave.

Existem alguns casos de Guillain-Barré Atípico, também, que, portanto, afeta o Sistema Nervoso Autônomo.

E, dessa maneira, pode levar a oscilações da frequência cardíaca e da pressão arterial.

 O quadro conhecido como “despertar difícil”, de acordo com Freua, se tornou frequente em pacientes, então, com quadro mais grave da doença e que ficaram internados e sedados por muito tempo.

“Nesses casos, quando se retira a sedação, o paciente demora um pouco mais do que o normal para acordar ou voltar a um sistema neurológico de alerta”, comenta.

Oclusão vascular

Mas o neurologista acredita que a complicação neurológica mais preocupante da infecção por Covid-19 está ligada, então, a obstruções vasculares.

“Para mim o sintoma mais preocupante da doença ocorre por uma ação indireta do vírus em pacientes que têm o que a gente chama de tempestade citotóxica, uma resposta inflamatória muito exacerbada à infecção”.

Esses pacientes ficam com sangue pró-coagulante, o sangue fica com uma facilidade maior de coagular.

Nesse caso, veias ou artérias cerebrais podem ser ocluídas e o dano pode ser fatal.

As oclusões vasculares provocadas pela resposta infecções por Covid-19 constituem, portanto, outro espectro amplo de desdobramentos perigosos da doença.

Sequelas neurológicas em pessoas infectadas pela Covid-19

“No começo da pandemia nós vimos pacientes jovens, na terceira ou quarta década de vida, com Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemisférico, perdendo metade de um hemisfério cerebral por conta de uma oclusão de vasos cerebrais. Houve relatos de pacientes que tiveram oclusão na chamada artéria espinal anterior, que resultou em infarto na medula e ficaram paraplégicos por conta dessas complicações vasculares”.

O neurologista explica que ainda é difícil predizer qual paciente infectado por Covid-19 está mais propenso, então, a desenvolver esses incidentes secundários ou ficar com sequelas.

”Cada caso deve ser observado atentamente, sob diversos aspectos, já que, com exceção dos casos em que o paciente já tem um histórico tromboembólico, a infecção pode tomar rumos muito diferentes”, explica Freua.

Fonte:  A Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP)

Foto: Shutterstock

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