{"id":28800,"date":"2020-07-20T11:15:53","date_gmt":"2020-07-20T14:15:53","guid":{"rendered":"https:\/\/guiadafarmacia.com.br\/?p=28800"},"modified":"2021-05-24T10:31:21","modified_gmt":"2021-05-24T13:31:21","slug":"hidroxicloroquina-amb-defende-autonomia-do-medico","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/guiadafarmacia.com.br\/hidroxicloroquina-amb-defende-autonomia-do-medico\/","title":{"rendered":"Hidroxicloroquina: AMB defende autonomia do m\u00e9dico"},"content":{"rendered":"

A Associa\u00e7\u00e3o M\u00e9dica Brasileira acompanha diversos estudos e pesquisas sobre a utiliza\u00e7\u00e3o de f\u00e1rmacos para tratamento ou quimioprofilaxia da Covid-19 que est\u00e3o em curso no mundo inteiro. A avalia\u00e7\u00e3o \u00e9 de que, at\u00e9 o momento, n\u00e3o existem estudos seguros, robustos e definitivos sobre a quest\u00e3o. Mesmo nos mais recentes, especialmente os da \u00faltima semana, h\u00e1 v\u00e1rias fragilidades que impedem que sejam considerados conclusivos. Limita\u00e7\u00f5es foram alertadas pelos pr\u00f3prios autores, mas solenemente ignoradas por aqueles que parecem torcer pelo coronav\u00edrus.<\/p>\n

Os holofotes da sociedade voltados para a pandemia, e em especial para a classe m\u00e9dica, por vezes acabam alimentando vaidades e ofuscando a percep\u00e7\u00e3o sobre a t\u00eanue fronteira entre o campo t\u00e9cnico-cient\u00edfico e o campo pol\u00edtico\/ideol\u00f3gico\/partid\u00e1rio.<\/p>\n

Quando, em 22 de maio, a revista\u00a0The Lancet<\/em>\u00a0divulgou resultados de uma pesquisa que comprovaria a aparente aus\u00eancia de efeitos da hidroxicloroquina no combate \u00e0 Covid-19, causou espanto a rea\u00e7\u00e3o de algumas pessoas e entidades: estavam comemorando!!!<\/p>\n

Ficava claro ali que a discuss\u00e3o havia sido politizada. Afinal, o que justificaria tamanha euforia diante de not\u00edcia t\u00e3o frustrante para a sa\u00fade da popula\u00e7\u00e3o? E justamente em um momento de aus\u00eancia de tratamentos efetivos\u2026<\/p>\n

Dias depois, a\u00a0The Lancet<\/em>\u00a0veio a p\u00fablico para se desculpar e informar que iria \u201cdespublicar\u201d o estudo, a pedido dos autores. As \u201ccertezas\u201d ca\u00edram por terra e o alarmismo contra o uso do f\u00e1rmaco silenciaram diante da perplexidade do caso.<\/p>\n

Infelizmente, pouco se aprendeu com o epis\u00f3dio. M\u00e9dicos, entidades, pol\u00edticos, influenciadores e palpiteiros seguem monitorando estudos sobre o uso de hidroxicloroquina em pacientes acometidos pela Covid-19. Uns procurando provas de que se trata da salva\u00e7\u00e3o. Outros, de que \u00e9 puro placebo. Ou pior: veneno (mesmo diante do fato de que os efeitos adversos s\u00e3o limitados e conhecidos h\u00e1 mais de cinco d\u00e9cadas). Muitos sair\u00e3o da pandemia apequenados, principalmente m\u00e9dicos e entidades m\u00e9dicas que escolherem manipular a ci\u00eancia para us\u00e1-la como arma no campo pol\u00edtico-partid\u00e1rio.<\/p>\n

\u00c9 bastante prov\u00e1vel que cheguemos ao final da pandemia sem evid\u00eancias consistentes sobre tratamentos. E tamb\u00e9m sobre diversos outros aspectos pr\u00f3prios de uma nova enfermidade. Pois estudos adequados e robustos s\u00e3o caros e demorados. E estamos falando de uma medica\u00e7\u00e3o barata, que, portanto, n\u00e3o tem, nem ter\u00e1 financiamento da ind\u00fastria que suporte os investimentos necess\u00e1rios para minimizar as incertezas.<\/p>\n

\u201cAn\u00e1lises criativas\u201d dos atuais estudos permitem quaisquer tipos de interpreta\u00e7\u00f5es. E v\u00eam sendo usados de forma irrespons\u00e1vel pelos que tentam extrair deles conclus\u00f5es que nem mesmo os autores se atreveram a patrocinar. Nesse cen\u00e1rio, os estudos recentes n\u00e3o podem ser considerados conclusivos, tampouco verdade cient\u00edfica, pois carecem de evid\u00eancias.<\/p>\n

O derby pol\u00edtico em torno da hidroxicloroquina deixar\u00e1 um legado sombrio para a medicina brasileira, caso a autonomia do m\u00e9dico seja restringida, como querem os que pregam a proibi\u00e7\u00e3o da prescri\u00e7\u00e3o da hidroxicloroquina. Essa restri\u00e7\u00e3o vai contra a pr\u00f3pria Declara\u00e7\u00e3o de Helsinque: \u201cNo tratamento de um paciente individual, em que n\u00e3o existem interven\u00e7\u00f5es comprovadas ou outras interven\u00e7\u00f5es conhecidas foram ineficazes, o m\u00e9dico, ap\u00f3s procurar aconselhamento especializado, com consentimento informado do paciente ou de um representante legal, pode usar uma interven\u00e7\u00e3o n\u00e3o comprovada se, no julgamento do m\u00e9dico, oferecer esperan\u00e7a de salvar vidas, restabelecer a sa\u00fade ou aliviar o sofrimento.\u00a0Essa interven\u00e7\u00e3o deve ser posteriormente objeto de pesquisa, destinada a avaliar sua seguran\u00e7a e efic\u00e1cia.\u00a0Em todos os casos, novas informa\u00e7\u00f5es devem ser registradas e, quando apropriado, disponibilizadas ao p\u00fablico\u201d.<\/p>\n

A AMB \u00e9 signat\u00e1ria da Declara\u00e7\u00e3o de Helsinque, da WMA, juntamente com associa\u00e7\u00f5es m\u00e9dicas de centenas de pa\u00edses. E tem o compromisso de defender a preserva\u00e7\u00e3o da autonomia do m\u00e9dico. Tamb\u00e9m defender\u00e1 o Parecer 4\/2020 do Conselho Federal de Medicina, que disciplina o assunto.<\/p>\n

\u00c9 importante lembrar que o uso\u00a0off label\u00a0<\/em>de medicamentos \u00e9 consagrado na medicina, desde que haja clara concord\u00e2ncia do paciente. E que, sem a pr\u00e1tica do\u00a0off label<\/em>, diversas doen\u00e7as ainda estariam sem tratamento. N\u00e3o se trata de apologia a este ou \u00e0quele f\u00e1rmaco. Trata-se de respeito aos padr\u00f5es \u00e9ticos e cient\u00edficos constru\u00eddos ao longo dos s\u00e9culos.<\/p>\n

N\u00e3o podemos permitir que ideologias e vaidades, de forma intempestiva, alimentadas pelos holofotes, nos fa\u00e7am regredir em pr\u00e1ticas j\u00e1 t\u00e3o respeitadas. N\u00e3o se pode clamar por ci\u00eancia e adotar posicionamentos embasados em ideologia ou partidarismo, ignorando pr\u00e1ticas consolidadas na medicina. Isso \u00e9 um crime contra a medicina, contra os pacientes e, sobretudo, contra a pr\u00f3pria ci\u00eancia.<\/p>\n

OMS suspende em definitivo os testes com hidroxicloroquina<\/a><\/p>\n

Foto: Shutterstock<\/p>\n

Fonte: Associa\u00e7\u00e3o M\u00e9dica Brasileira<\/p>\n

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