Dez mitos e verdades sobre alergias respiratórias

Clima frio, medicação inadequada, atividade física, animais de estimação ... afinal, o que impacta o dia a dia de quem é alergico?

Leves ou graves, as alergias respiratórias já afetam parte da população e têm impacto significativo na qualidade de vida. O tema costuma gerar muitas dúvidas e crenças, que podem eventualmente atrapalhar o tratamento adequado.
Para começar, é importante esclarecer: o que são as alergias respiratórias? “Elas decorrem de uma resposta exagerada do sistema imunológico a alérgenos que ficam no ar (inalantes) e que geram sintomas como espirros, coriza, coceira no nariz, congestão nasal, tosse, falta de ar, chiado no peito, opressão torácica, etc.”, diz a membro do Departamento Científico de Rinite da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), Dra. Gabriella Melo Fontes Silva Dias.
Rinite, rinossinusite, asma brônquica alérgica, rinoconjuntivite e otite média serosa são exemplos desse conjunto de doenças que afetam o sistema respiratório superior (nariz, garganta, seios paranasais, ouvidos, laringe, etc.) e os olhos.
“No Brasil, as alergias respiratórias vêm aumentando, como no restante do mundo desenvolvido. Por volta de 30% da população brasileira é alérgica, sendo a maioria de casos de rinossinusite alérgica. A asma brônquica ocorre em aproximadamente 10% de nossa população”, estima o alergologista do Hcor, Dr. Dewton de Moraes, lembrando que as alergias têm maior prevalência entre as pessoas jovens.
Segundo ele, os principais sintomas na rinossinusite alérgica são: espirros em salvas (muitos, em sequência); prurido nasal (coceira), ocular e faríngeo; coriza hialina e obstrução nasal; que podem se seguir de cefaleia frontal e maxilar; obstrução dos ouvidos; rouquidão; tosse; etc. Já na asma, o quadro principal caracteriza-se por tosse, sibilância (chiado no peito) e dispneia (falta de ar).
“Os causadores mais comuns das alergias respiratórias são os aeroalérgenos, como a poeira doméstica, principalmente os ácaros, mofos (fungos), epitélios de animais (cão, gato, etc.) e pólens. As alergias a pólens são comuns na Região Sul do Brasil, sendo raras no restante do nosso território”, explica o Dr. Moraes.
Segundo a Dra. Gabriella, como geralmente são problemas hereditários, ter parentes próximos com histórico acaba sendo um fator de risco. “Além disso, pacientes que já possuem outra doença alérgica cutânea, como a dermatite atópica, também têm mais chances de desenvolver alergias respiratórias.”
“Infecções virais respiratórias na infância precoce, prematuridade, assim como exposição ao tabaco e a outros irritantes de vias aéreas, até mesmo a poluição do ar, também são fatores de risco que aumentam bastante a possibilidade do desenvolvimento de alergias”, diz o Dr. Moraes.

Com base nessas informações, a seguir, conheça dez mitos e verdades sobre alergias respiratórias.

1. O frio provoca alergias respiratórias.
Mito. Segundo a médica alergista e imunologista do Hospital Moinhos de Vento, Dra. Helena Fleck Velasco, o frio em si não é um alérgeno direto, mas pode contribuir indiretamente para o desenvolvimento de alergias respiratórias ou agravar os sintomas em pessoas já sensíveis.
“Ambientes fechados e mal ventilados favorecem a acumulação de alérgenos, como ácaros da poeira, pelos de animais domésticos e mofo. No tempo frio, as pessoas tendem a passar mais tempo dentro de casa, onde a exposição a esses alérgenos pode ser maior, aumentando o risco de reações alérgicas”, diz a Dra. Helena.
Como o ar frio é frequentemente seco, também pode irritar as vias respiratórias. “Por isso, o tempo frio também está associado a um aumento nas infecções respiratórias, como gripes e resfriados, que podem inflamar e sensibilizar as vias respiratórias. Isso pode fazer com que o sistema imunológico reaja de forma mais agressiva aos alérgenos, exacerbando os sintomas de alergias respiratórias”, completa a especialista.
2. Cuidados com o ambiente são indispensáveis.
Verdade. Segundo o Dr. Moraes, os cuidados com o ambiente são a principal medida a ser tomada no tratamento dos indivíduos alérgicos. “Os alérgenos ambientais são os principais vilões no desencadeamento das alergias”, afirma (confira as dicas no quadro a seguir).
3. Alergias têm origem apenas genética.
Mito. De fato, existe uma predisposição a ter alergia, herdada geneticamente, principalmente nos casos de asma, rinite alérgica e dermatite atópica, segundo o membro do Departamento Científico de Rinite da ASBAI, Dr. Giovanni Di Gesu. Mas esta não é a única causa. “A herança genética e o meio ambiente, além de hábitos de vida, explicam o aumento expressivo na prevalência das doenças alérgicas nas últimas décadas”, diz.
4. Alergias podem ser curadas.
Mito. “Alergia não tem cura, mas tem tratamento”, afirma a Dra. Helena. Segundo ela, muitos pacientes podem desenvolver tolerância ao alérgeno que antes causava alergia, porém nunca será uma cura definitiva.
Para não desmotivar o paciente, o Dr. Di Gesu, adota uma abordagem positiva no dia a dia. “Evito dizer: ‘sua alergia não tem cura!’ Ao ouvirem essa frase, os pacientes geralmente entendem que o médico está dizendo que não há tratamento. Ficam desmotivados e sem esperança. É importante transmitir a ideia de que, com a evolução e a segurança dos tratamentos disponíveis, é possível controlar as doenças alérgicas e garantir uma melhor qualidade de vida para os nossos pacientes”.
5. Medicamentos para alergias respiratórias devem ser usados apenas nas crises.
Mito. O uso da medicação depende da intensidade da alergia de cada indivíduo. Segundo a Dra. Helena, pessoas com quadros persistentes moderados e graves devem utilizar medicamentos contínuos para prevenir as crises. Já aquelas que têm crises muito eventuais podem usar a medicação apenas durante esses períodos.  “Nos casos mais graves em que os cuidados ambientais e o tratamento medicamentoso não foram suficientes para o controle da doença, pode-se instituir um tratamento imunoterápico, com vacinas específicas para os alérgenos responsáveispela doença do indivíduo”, completa o Dr. Moraes.
6. Todos os antialérgicos usados no controle podem causar sonolência.
Mito. Isso ficou no passado. Hoje, os antialérgicos mais modernos, chamados de segunda geração, não penetram o Sistema Nervoso Central (SNC) e, por esta razão, não provocam sonolência como os mais antigos, segundo o Dr. Di Gesu.
7. Quem tem quadros como asma não pode praticar atividades físicas.
Mito. “A asma não é uma contraindicação para a prática de exercícios físicos, a não ser em momentos de crises agudas. Alguns indivíduos asmáticos costumam apresentar agravamento dos sintomas durante os exercícios, o que se denomina asma por exercício. Mesmo estes pacientes podem realizar atividades físicas, desde que corretamente orientados e pré-medicados”, explica o Dr. Di Gesu.
8. A lavagem nasal pode ajudar nas crises de alergias respiratórias.
Verdade. A lavagem nasal auxilia nas crises, ajudando a retirar as secreções produzidas e evitando que o acúmulo de secreção evolua para um quadro mais grave, como uma infecção bacteriana, de acordo com a Dra. Helena. Além disso, no tempo seco, a lavagem nasal auxilia umidificando as mucosas.
Para pacientes alérgicos, o Dr. Moraes recomenda a lavagem nasal várias vezes ao dia com soro fisiológico, para reduzir o contato com poeira, mofos, epitélios de animais e poluentes do ar atmosférico.
9. Produtos com cheiro forte devem ser evitados.
Verdade. Cheiros fortes podem irritar a mucosa nasal e devem ser evitados por pacientes com rinite alérgica. “No entanto, se o tratamento da rinite está correto, muitos pacientes começam a tolerar perfumes e outros cheiros”, pondera a Dra. Helena. Segundo o Dr. Di Gesu, odores de produtos de limpeza, perfumes e fumaças, por exemplo, podem agravar uma alergia já instalada e também podem ser causadores de rinites relacionadas aos mais diversos ambientes de trabalho.
10. Pessoas alérgicas não podem ter animal de estimação.
Mito. Não há problema de os alérgicos terem seu bichinho de estimação. No entanto, vale a ressalva: depende da alergia. “É importante avaliar o tipo de alergia e fazer uma consulta para saber qual é o pet mais indicado, pois a pessoa pode ser alérgica a um animal e não a outro. Além disso, é importante, nesses casos, estar com as alergias bem controladas”, destaca a Dra. Helena.
Para o alérgico conviver bem com pets, o Dr. Di Gesu orienta evitar que o animal circule no quarto, suba na cama ou no sofá, em que as roupas de cama, colchões, travesseiros ou estofados se tornam reservatórios de partículas microscópicas de epitélio (pele) do animal. “Essa descamação de pele tem grande capacidade de penetrar em mucosas dos olhos ou do aparelho respiratório, sensibilizando os indivíduos predispostos ou agravando quadros alérgicos preexistentes”, explica.

Dicas para prevenir alergias respiratórias

O alergologista do Hcor, Dr. Dewton de Moraes; e a membro do Departamento Científico de Rinite da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), Dra. Gabriella Melo Fontes Silva Dias orientam:
  • Limpeza dos ambientes: é a medida mais importante para os alérgicos, afinal, a causa mais comum das alergias respiratórias está relacionada com ácaros da poeira, que se alimentam principalmente de resíduos de pele (humana ou de animais).
  • Chega de poeira: a limpeza deve ser realizada com pano úmido, vassouras e espanadores não são recomendados. No caso de aspiradores de pó, eles devem ter filtro HEPA (de alta eficiência) ou filtro de selo de água.
  • Cortinas, tapetes, objetos decorativos que acumulem poeira, bichinhos de pelúcia, colchões e travesseiros velhos devem ser evitados.
  • Hábitos saudáveis: a prevenção inclui a adoção de hábitos saudáveis desde a infância, como amamentação com leite materno, dieta balanceada, sono regular, atividade física constante e administração de estresse, além de evitar tabagismo e alcoolismo.
  • Acompanhamento médico: manter as vacinas em dia e fazer acompanhamento regular com o médico alergista também são atitudes fundamentais.
Fonte: Guia da Farmácia
Foto: Shutterstock

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