O emprego dos sonhos

Todos os anos, centenas de empresas disputam um lugar na lista das melhores companhias para se trabalhar. Conheça os diferenciais das vencedoras

Em 1981, o jornalista Robert Levering foi convidado para escrever um livro sobre as melhores empresas para se trabalhar. Durante estudo de campo junto aos gestores das empresas e seus funcionários, ele constatou que as considerações dos funcionários nada tinham a ver com programas e práticas para funcionário.

Da descoberta surgiu o livro As 100 Melhores Empresas para Trabalhar na América e na sequência, A Great Place to Work: what makes some employers so good – and most so bad (Um excelente lugar para trabalhar – por que alguns empregadores são tão bons e outros tão ruins). Os conceitos apresentados nas obras deram origem à instituição Great Place to Work® (GPTW), que visa disseminar maneiras das empresas criarem um bom ambiente de trabalho.

Desde a fundação, o Great Place to Work® abriu unidades em 53 países. Durante um ano normal, o Great Place to Work® trabalha com mais de 6.200 empresas, representando mais de 12 milhões de funcionários. No Brasil, a entidade publica, desde 1997, um ranking com a lista das 100 melhores empresas para se trabalhar.

Para elaborar o ranking divulgado ao redor do mundo, a relação de confiança é a essência da pesquisa. O entendimento dos pilares dessa relação gerou o Modelo Great Place to Work®, construído a partir de duas visões complementares: o Trust Index© e o Culture Audit©.

O Trust Index© – ou Índice de Confiança – é extraído a partir do questionário respondido pelos funcionários. As respostas são agrupadas em cinco dimensões: Credibilidade, Respeito, Imparcialidade, Orgulho e Camaradagem. Essas dimensões explicam o que é um excelente lugar para se trabalhar na visão dos funcionários: um lugar onde você confia nas pessoas para quem trabalha; tem orgulho do que faz e gosta das pessoas com quem trabalha.

Respondem o questionário todos os colaboradores da empresa que tenham mais de 3 meses de casa. Essa pesquisa representa 2/3 do peso do processo. A pesquisa quantitativa com 58 afirmativas (62%) e as duas questões abertas (5%).

O Culture Audit© é obtido a partir da análise das práticas culturais, descritas em um segundo questionário, respondido pela empresa, que permite compreender o que é um excelente lugar para se trabalhar na visão da liderança: é uma organização que atinge seus objetivos; com pessoas que dão o melhor de si; e que trabalham em equipe. O preenchimento desse material corresponde a 1/3 (33%) do peso da nota para o processo e é avaliado sobre 5 critérios: Variedade, Originalidade, Abrangência, Calor Humano e Integração.

Todas as empresas participantes precisam, na pesquisa com os colaboradores (Trust Index©), atingir um número mínimo de respondentes para que o resultado represente o todo de modo estatístico. Tendo a adesão mínima necessária de respondentes, o resultado deve conter a nota final (Índice de confiança), igual ou superior a 70%.

“As empresas que atingirem essa porcentagem terão seus comentários e suas práticas e políticas de gestão avaliados (Culture Audit). Assim, teremos as notas referentes a todas as etapas. Com a média final de cada empresa, montamos o ranking”, explica a consultora de inteligência de mercado do Great Place to Work®, Carla Costa.

Saúde em destaque

Em 2014, o GPTW lançou a primeira edição do ranking 1 específico das empresas do setor da Saúde. Conduzida em parceria com a revista IT Mídia, a pesquisa Melhores Empresas para Trabalhar – GPTW Saúde foi realizada somente com empresas com 50 ou mais funcionários. Puderam participar hospitais, clínicas, laboratórios, operadoras de saúde e indústrias farmacêuticas.

Os resultados revelaram que as empresas do setor da saúde, em geral, são bons locais para se trabalhar. As companhias premiadas na lista GPTW – Saúde têm, em média, 113 candidatos para cada vaga aberta, número 24% a mais do que nas premiadas na lista nacional. Entre aqueles que já são colaboradores, os bons resultados permanecem. Os índices revelam que 85% dos colaboradores têm orgulho de contar para seus amigos e familiares que trabalham na empresa.

Muito deste bom resultado pode ser atribuído ao papel da liderança, considerado pelo GPTW um item crucial para criar e manter um bom ambiente de trabalho. Na pesquisa do segmento saúde, 81% dos funcionários dessas empresas confiam, de forma geral, na credibilidade de seus gestores na gestão de seus funcionários e na condução dos negócios.

“Essa confiança não é conquistada por acaso. Práticas importantes relacionadas à gestão de pessoas diferenciam essas empresas da maioria do mercado. Os colaboradores dessas organizações aprovam as práticas relacionadas ao cuidado com o bem-estar do funcionário; de contratar pessoas competentes e alinhadas com os valores da empresa”, explica Carla.

Dentro desse ambiente de confiança, a capacidade de retenção dessas empresas torna-se uma característica marcante. A taxa de turnover das empresas premiadas na lista saúde 2013 foi de apenas 19,9%, taxa esta bem abaixo da média nacional. Segundo a pesquisa, o principal fator de retenção para essas pessoas são as oportunidades de crescimento e desenvolvimento que essas empresas proporcionam: 41% consideram este o principal motivo de permanecer na companhia.

Na prática

Entre as farmacêuticas, a multinacional AstraZeneca foi eleita, pela 10ª vez consecutiva, como uma das melhores empresas para trabalhar no Brasil pelo Great Place to Work®. Além disso, a empresa figura entre as “Melhores do Setor Indústria” e “As empresas com Maior Escolaridade”, apresentando 82,1% de colaboradores com nível superior ou acima.

“Vemos evolução dentro do Great Place to Work®. Desde que começamos a participar, estamos entre as 100 melhores, mas a cada ano, progredimos um pouco. No ano de 2013, conseguimos ser a 20ª melhor no geral, mas a primeira farmacêutica. E quando começamos, havia 400 participantes. Estando entre as 100, estávamos entre os 25% melhores colocados. Agora, são mais de 1.100 companhias, o que significa que hoje estamos entre 9%. O número de empresas avaliadas triplicou, mas conseguimos nos manter dentro do grupo”, revela o diretor de Recursos Humanos e Comunicação da AstraZeneca, Miguel Monzu.

Entre as iniciativas realizadas pela empresa, as quais colaboraram para a boa colocação, estão: curta-sexta, com o expediente até às 14 horas; véspera de feriado light, com também até às 14 horas; horário flexível; home office; dia de folga no mês do aniversário e, em caso de promoção; bolsa de estudos; aposentaria privada; auxílio academia; transporte fretado; grêmio recreativo com serviços de manicure, pedicure e cabeleireiro; entre outros.

Para o executivo, a boa performance da Astrazenaca, assim como de boa parte das empresas ligadas à saúde, está relacionada ao core business do setor, que é cuidar de gente. “O objetivo final do nosso negócio é melhorar a vida das pessoas, investir em medicamentos inovadores, que salvam vidas, criar terapias para doenças que até então não tinham saída. Não faria sentido uma companhia preocupada com saúde não olhar para dentro da casa”, reflete.

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Mas além das questões ideológicas, a concorrência também leva às empresas a buscar programas de qualidade de vida para os funcionários. “O setor da indústria farmacêutica é um grupo fechado, com um número pequeno de companhias. A competição por talentos e retenção dos melhores funcionários é muito grande. Existe a necessidade de criar atrativos para trazer e manter gente boa”, destaca Monzu.

De acordo com Carla, esta realidade pode e deve ser almejada por toda empresa, mesmo as nacionais e de pequeno porte. “Todas podem se tornar excelentes ambientes de trabalho, construídos a partir da qualidade da relação entre as pessoas, principalmente entre colaboradores e gestores. Quando os funcionários tornam-se o principal ativo da empresa, os processos acontecem de forma mais fluída e bons resultados tentem a aparecer naturalmente. Inspirar e engajar os funcionários com os valores e as metas da organização são práticas cruciais para os resultados nos negócios.”

 

Autor: Flávia Carbó

Público feminino

Edição 267 - 2015-02-01 Público feminino

Essa matéria faz parte da Edição 267 da Revista Guia da Farmácia.

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