Asma: é preciso tratar!

Desconhecimento da doença, diagnósticos inadequados e interrupção prematura do tratamento comprometem a qualidade de vida de milhares de brasileiros

A asma é uma das condições crônicas mais comuns e desafiadoras, tanto para pacientes quanto para profissionais de saúde, dada a sua necessidade de tratamento contínuo. A doença é caracterizada por uma inflamação que insiste em restringir as vias aéreas, exigindo um acompanhamento constante e um manejo cuidadoso para controlar de forma eficaz os sintomas que podem comprometer, significativamente, o dia a dia dos pacientes.
A urgência de um gerenciamento cuidadoso da asma é comprovada por estatísticas preocupantes. Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), aproximadamente 23,2% da população brasileira sofre com a asma, impactando o sistema de saúde.
Informações do Datasus revelam que, apenas em 2021, cerca de 1,3 milhão de atendimentos na atenção primária foram dedicados a pacientes asmáticos. Esses dados não somente confirmam a ampla prevalência da asma no Brasil, mas também ressaltam a necessidade crítica de implementar recursos e estratégias eficazes para o seu tratamento e controle.
Complicando ainda mais o cenário, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) reporta que somente 12% dos pacientes asmáticos alcançam um controle ade quado da doença. Esse índice alarmantemente baixo de controle pode ser atribuído a uma série de fatores, incluindo a falta de conhecimento sobre o diagnóstico correto, as dificuldades de acesso a serviços de saúde e medicamentos, e a interrupção do tratamento após a melhora dos sintomas.
Esse panorama desafiador destaca a importância fundamental de reforçar as políticas de saúde pública, com o objetivo de ampliar a educação sobre a asma e melhorar o acesso aos tratamentos necessários, assegurando, assim, uma gestão efetiva da doença.nO Dia Nacional de Controle da Asma, celebrado em 21 de junho, atua como um importante lembrete para os profissionais de saúde sobre a necessidade de identificar os sintomas mais frequentes da asma nos pacientes, tais como falta de ar, chiado no peito, cansaço, tosse e produção excessiva de muco. “É importante estar atento a esses sinais para um diag nóstico precoce e tratamento eficaz”, enfatiza a pneumologista da Saúde Digital do Grupo Fleury, Dra. Elisa Maria Siqueira Lombardi.
A médica ressalta que a presença de outras alergias, como as cutâneas, pode ser um indicativo adicional da doença, e destaca que a asma ocupacional, frequente mente subdiagnosticada, impacta significativamente aqueles que estão expostos a produtos químicos no ambiente de trabalho.

Adesão ao tratamento

A adesão ao tratamento é um componente essencial na gestão da asma, tornando-se ainda mais crítica, considerando os variados níveis de gravidade da doença. “Nota-se que pacientes com formas mais severas de asma tendem a seguir mais rigorosamente o tratamento prescrito devido ao risco elevado de exacerbações e sintomas intensos na ausência de medicação adequada. Em contrapartida, aqueles com asma de intensidade leve a moderada, muitas vezes optam por interromper o tratamento prematuramente, o que leva a uma menor adesão e possíveis complicações”, indica o pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. Elie Fiss.
A literatura revela variações significativas nas taxas de adesão ao tratamento, que podem oscilar entre 20% a 80%, a depender da população estudada. “Em São Paulo (SP), por exemplo, percebemos que a maior dificuldade está relacionada justamente à manutenção do tratamento. A adesão ao tratamento da asma, assim como ocorre com outras doenças crônicas, representa um desafio constante,” completa o Dr. Fiss.
Essa oscilação na adesão reflete a complexidade do manejo da asma, demonstrando a necessidade de um tratamento personalizado e de longa duração. Para além de prescrever as orientações apropriadas, os profissionais de saúde, inclusive os farmacêuticos, devem engajar-se ativamente na motivação dos pacientes, encorajando-os a aderir consistentemente ao plano de tratamento estabelecido para garantir o controle efetivo da doença e uma melhor qualidade de vida.

Causas frequentes

A asma é uma condição que não se adquire por meio de contágio, sendo, portanto, não transmissível. “Ela se caracteriza por uma hiper-reatividade pulmonar, uma reação exagerada dos pulmões a estímulos habituais, que são predominantemente alérgicos,” explica o pneumologista do Hospital Sírio-Libanês, Dr. André Nathan.
A origem da asma envolve uma complexa interação de fatores genéticos e ambientais. “Os gatilhos ambientais incluem ácaros, fungos, pólens, animais de estimação, fezes de barata, infecções virais respiratórias, fumaça de cigarro, poluição ambiental, ar frio e produtos químicos encontrados tanto em ambientes domésticos quanto ocupacionais”, detalha a Dra. Elisa Maria.
Além desses gatilhos, existem outros fatores que podem precipitar crises de asma, embora não sejam considerados causas diretas da doença. “Eles incluem alergias, infecções respiratórias, exposição ao ar frio, predisposição genética e refluxo gastroesofágico”, adiciona o Dr. Fiss. Essa distinção é importante para o entendimento correto da asma e para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e tratamento.

Grupos de risco

A última Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2013, ofereceu insights importantes sobre os grupos de risco para a asma. A análise de uma amostra de mais de 60 mil pessoas revelou que a maioria dos diagnósticos de asma ocorreu entre mulheres adultas, indivíduos mais jovens, residentes de áreas urbanas e de pele branca.
A Dra. Elisa Maria acrescenta que, nesse estudo, não houve associação de asma com pior escolaridade, um fato que diverge de outros estudos que encontraram uma correlação entre asma e menor nível de escolaridade.
O levantamento também indica que a Região Sul apresentou o maior número de casos, o que pode ser explicado pelo maior acesso aos serviços de saúde e pelo clima mais frio da região.
Em contraste, a Região Nordeste registrou o menor número de diagnósticos. Essa diferenciação regional sugere que fatores como clima e acesso a serviços de saúde, podem influenciar, significativamente, o diagnóstico.

Opções de tratamento

A eficácia do tratamento da asma está diretamente ligada à capacidade de controlar a doença, que, muitas vezes, é prejudicada por fatores como subdiagnóstico ou diagnósticos errôneos, falta de acesso ao tratamento, e uma deficiência no conhecimento médico atualizado sobre a doença e seus tratamentos mais recentes, conforme explica a especialista do Grupo Fleury.
A médica destaca que o tratamento da asma, geralmente, se divide em duas categorias principais de medicamentos. “A primeira é a medicação controladora, ou de manutenção, que trata a causa da asma – a inflamação dos brônquios – e ajuda a prevenir o aparecimento dos sintomas
e a ocorrência das crises de asma. Esses medicamentos incluem corticoides inalados, isolados ou em combinação com broncodilatadores de ação prolongada.”
A segunda categoria é a medicação de alívio ou de resgate, usada para amenizar os sintomas durante as crises agudas da asma. O uso correto da medicação de manutenção pode significativamente reduzir ou até eliminar a necessidade da medicação de alívio.
“No entanto, a falta de um tratamento adequado pode levar a riscos graves, como exacerbações, hospitalizações, óbitos e sequelas permanentes, deixando o pulmão com características semelhantes às de um paciente tabagista com enfisema pulmonar e bronquite crônica, com cicatrizesnos brônquios e dificuldades respiratórias crônicas”, alerta Dra. Elisa Maria.
O médico do Hospital Sírio-Libanês faz um alerta. “Os riscos da falta de adesão ao tratamento incluem a diminuição significativa da qualidade de vida e o aumento do risco de crises asmáticas graves, que podem levar à insuficiência respiratória, necessidade de internação ou até mesmo de tratamento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).” Além disso, o Dr. Fiss aponta que a asma mal controlada pode resultar em um remodelamento da via aérea, levando a uma redução permanente da função pulmonar. “Esse processo é resultado da inflamação crônica das vias aéreas, que, se não controlada adequadamente, causa um estreitamento permanente e cicatrizes nos brônquios”, reforça.
Como já explicado, a adesão ao tratamento é fundamental e os profissionais de saúde têm um papel importante nesse aspecto. “Os farmacêuticos podem auxiliar os pacientes a manusear as medicações inalatórias e reforçar a importância de não abandonar as orientações médicas”, finaliza o pneumologista Hospital Nipo-Brasileiro, Dr. Rafael Futoshi.

Prevenindo os principais gatilhos para as crises de asma

O pneumologista da Saúde Digital do Grupo Fleury, Dra. Elisa Maria Siqueira Lombardi, esclare quais são esses gatilhos e o que fazer para prevenir as crises 

Ambiente doméstico

  • • Manter limpo e arejado.
  • • Evitar itens que acumulam ácaros e mofo, como cortinas, tapetes, carpetes e bichos de pelúcia.
  • • Evitar mexer em baús e armários antigos com quinquilharias armazenadas por muito tempo.

Contato com animais

• Evitar animais domésticos dentro de casa.

Substâncias e Produtos

  • • Evitar tabagismo.
  • • Evitar o uso de sprays de produtos de limpeza ou mistura de produtos; preferir limpar com
  • água e artigos de limpeza sem cloro.
  • • Evitar perfumes e cosméticos.

Saúde e Bem-estar

  • • Manter a vacinação atualizada.
  • • Praticar atividade física regularmente quando a doença estiver controlada, evitando vias de
  • grande circulação de veículos e horários entre 10h e 16h.

Medicamentos

• Utilizar adequadamente a medicação de manutenção e não suspender por conta própria quando estiver se sentindo bem, sem orientação médica.

No ambiente de trabalho

• Em caso de sintomas, procurar avaliação médica para mudança de função para que a exposição seja cessada o quanto antes.
Fonte: Guia da Farmácia
Foto: Shutterstock

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