Em 2021, a Weleda completa 100 anos, com presença em mais 50 países. Começando sua história na Suíça como um laboratório farmacêutico que cultivava plantas medicinais em um jardim biodinâmico próprio, hoje é líder mundial em medicamentos antroposóficos e cosméticos naturais.
A Weleda foi fundada pelo filósofo Rudolf Steiner, criador da antroposofia; pela médica antroposófica e visionária Ita Wegman e pelo químico Oskar Schmiedel. A antroposofia busca despertar o que há de melhor em cada pessoa por meio do desenvolvimento da autoconsciência e da conexão com a natureza para que ela possa contribuir com a evolução da humanidade.
Há um princípio muito importante na antroposofia que norteia a empresa até os dias de hoje: a de que o ser humano é parte da natureza e, portanto, há semelhanças entre ambos. Por isso, os produtos são feitos apenas com ingredientes naturais.
No Brasil, a Weleda começou suas atividades em 1959, por intermédio da Dra. Gudrun Bukhard. Filha de alemães e estudiosa da antroposofia, ela começou a importar os medicamentos da Weleda para tratar seus pacientes.
Desde então, o portfólio no Brasil só cresceu com a fabricação de medicamentos em laboratório próprio no País e a importação dos cosméticos naturais.
Em entrevista exclusiva à revista Guia da Farmácia, a CEO da empresa no Brasil, Maria Claudia Villaboim Pontes, conta um pouco mais dessa história. “Podemos dizer que a Weleda não é só um produto em um frasco, mas promove todo um estilo de vida mais saudável e consciente”, resume.
Acompanhe mais detalhes a seguir.
Guia da Farmácia • Boa parte do portfólio da Weleda é constituída por medicamentos antroposóficos. Qual a melhor definição prática para esses produtos?
Maria Claudia Villaboim Pontes • Medicamentos antroposóficos são dinamizados e feitos com ingredientes naturais – de cultivos orgânicos e biodinâmicos – a partir de substâncias minerais, vegetais ou animais. O processo de dinamização da antroposofia é exclusivo e manual.
A medicina antroposófica tem uma visão humanizada, com olhar para saúde física, mental e emocional do paciente; além de compreender a biografia (história) de cada um.
Os medicamentos antroposóficos reestabelecem o equilíbrio de todas essas esferas do indivíduo, proporcionando a recuperação sem interferir no funcionamento natural do organismo.
Guia • Como a sra. diferenciaria os antroposóficos, dos fitoterápicos ou homeopáticos, por exemplo?
Maria Claudia • Os três se utilizam de ingredientes naturais para tratar a saúde. Porém, a antroposófica busca compreender o contexto entre mente, corpo e emoções do paciente e, com base na sua própria visão da natureza, propõe terapias e tratamentos que estimulam o equilíbrio natural do organismo. Consequentemente, há uma melhora do sistema imunológico e das defesas do corpo.
Em outra ponta, a homeopatia consiste em prescrever a um doente, sob uma forma diluída e em pequeníssimas doses, uma substância que, em doses elevadas, é capaz de produzir num indivíduo sadio sinais e sintomas semelhantes aos da doença que se pretende combater. É uma abordagem diferente, mas que também visa o estímulo das defesas do corpo.
Já a fitoterapia é uma terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas.
Guia • A companhia possui algum parque fabril no País? Se sim, qual a capacidade produtiva?
Maria Claudia • Sim, temos uma fábrica em São Paulo (SP) destinada exclusivamente à produção de nossa linha de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs). Nossa capacidade anual instalada é de 7milhões de unidades de produto acabado.
Além disso, temos uma chácara de cultivo biodinâmico em São Roque (SP), onde cultivamos a maior parte das plantas que usamos em nossos medicamentos e vários parceiros biodinâmicos no entorno de São Paulo.
Guia • Hoje, o portfólio da empresa conta com quantos produtos? Quais são os carros-chefes?
Maria Claudia • São mais de 70 produtos, sendo 22 medicamentos e 50 cosméticos. Os carros-chefes são o Ansiodoron, um auxiliar no tratamento da insônia; em cosméticos, o Baby Creme para prevenção de assaduras de bebês; além do hidratante multifuncional Skin Food.
Guia • De que forma a Covid-19 alterou os planos ou negócios da companhia?
Maria Claudia • Assim como para todos, a Covid-19 foi, sem dúvida, nosso maior desafio no ano passado, mas também um período de muito aprendizado e resiliência. Não mudamos a meta, mas tivemos de avaliar constantemente as mudanças que ocorriam nas necessidades dos consumidores e adaptamos estratégias e ativações já planejadas.
Por exemplo, vimos uma crescente busca por tratamentos naturais e soluções que envolvem a saúde mental. Foi uma oportunidade única para trabalharmos nossa linha de estresse e ansiedade que cresceu 30% no ano passado.
No início da pandemia, tivemos uma procura muito intensa pelo Previgrip, auxiliando na prevenção de gripes e resfriados. Em apenas 10 dias, vendemos o equivalente a três meses.
Trabalhamos muito em equipe e fomos ágeis para repensar nossa comunicação com consumidor e com médico. Além disso, tivemos de adaptar a capacidade fabril para entregarmos os produtos com demanda elevada.
Guia • Apesar da pandemia, a empresa conseguiu alcançar crescimento de quantos por cento de 2019 para 2020? Quais foram os maiores alicerces para os resultados?
Maria Claudia • Crescemos 20% em 2020, mesmo com a pandemia. Devemos esse resultado incrível a toda a equipe envolvida – sua capacidade de resiliência, cooperação e, principalmente, agilidade para mudança diante de um cenário de incerteza.
Ajustamos os planos de marketing sem comprometer a ativação de nenhum produto, adequamos a capacidade produtiva da fábrica com a crescente demanda de medicamentos auxiliares em prevenção e ansiedade, trabalhamos com estratégias robustas nos canais digitais, expandimos a nossa distribuição em grandes redes e atuação geográfica. No fim do ano, atingimos o Nordeste.
Guia • E quais são as expectativas de crescimento da empresa para 2021? Onde estarão concentrados os principais investimentos?
Maria Claudia • Esperamos um crescimento de 20% em faturamento neste ano. Concentraremos nossos investimentos, principalmente, nos carros-chefes da companhia – Ansiodoron e Bryophyllum (um auxiliar para angústia e irritação).
Para os cosméticos, nossos investimentos se mantêm nos lançamentos que tivemos no fim do ano: linha de hidratantes Skin Food, o Baby Creme de Calêndula pocket size e o carro-chefe Chá Misto da Mamãe.
Guia • A busca por produtos com formulação mais natural, movimento que começou na alimentação e, hoje, se dissemina para outras categorias, traz mais força aos negócios da Weleda. Essa é uma tendência?
Maria Claudia • Sem dúvida. As pessoas estão se tornando mais conscientes sobre como as empresas fazem, quais seus valores por trás de seu marketing, qual sua verdade e também o consumidor tem se questionando mais, se preocupando com a origem do que consomem e com as consequências de seu consumo no planeta.
Os consumidores têm buscado soluções que não agridam o organismo, não causem dependência ou ocasionem outros efeitos adversos.
Guia • Hoje, qual a importância do varejo farmacêutico para os negócios da empresa?
Maria Claudia • O varejo é fundamental para que haja de fato a conversão de compra, além do esclarecimento dos farmacêuticos sobre o que são nossos produtos. Ainda que durante a pandemia tenhamos visto um aumento significativo dos canais on-line, a maioria das pessoas ainda opta por comprar seus produtos de saúde e higiene pessoal nas farmácias.
Setenta por cento de nossos medicamentos são vendidos em farmácias, principalmente no Sul e Sudeste, mas queremos ampliar nossa atuação no restante do País e aumentar nossa visibilidade nas farmácias.
Guia • Na sua visão, de que forma as farmácias poderiam potencializar as vendas de produtos naturais?
Maria Claudia • Entendo que o primeiro passo é entender o produto e como ele atua e toda a filosofia por detrás de nossa marca; depois, é entender o que busca o consumidor (atual e o potencial). Em seguida, ofertar um portfólio diversificado que atenda a essa necessidade e trabalhar fortemente a comunicação no próprio ponto de venda (PDV).
Sem dúvida, o acesso aos produtos naturais está mais fácil, mas a sinalização da categoria ainda pode evoluir bastante. Algumas redes já dispõem de espaços próprios para a exposição de produtos naturais, mas ainda estamos no começo desta jornada. Ajudar o consumidor a encontrar as várias opções que existem e entender as diferenças ainda é um desafio.
Guia • Qual a importância do atendimento capacitado para esse tipo de produtos?
Maria Claudia • O treinamento adequado é fundamental. Sempre recebemos muitos questionamentos em relação à eficácia de nossos produtos comparados aos medicamentos alopáticos.
Antes de mais nada, deve-se entender que nossos medicamentos antroposóficos atuam de forma diferente dos medicamentos tradicionais. Buscamos tratar o indivíduo como um todo, promovendo o equilíbrio do organismo de forma natural por meio de ativos naturais, enquanto a medicina alopática busca tratar um sintoma pontualmente.
Saber contar sobre nossos processos únicos, nosso cuidado com as pessoas envolvidas na produção e todo o cuidado com o meio ambiente também fazem parte de nossos produtos.
Podemos dizer que a Weleda não é só um produto em um frasco, mas promove todo um estilo de vida mais saudável e consciente. Por isso a capacitação é tão importante para nossa marca. Há muito o que contar.
Fonte: Guia da Farmácia
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