Se existe uma experiência pela qual dificilmente alguém ainda não passou na vida é a sensação de dor, seja ela crônica ou aguda. Aliás, mais de 90% da população mundial já sentiu ou irá sentir a dor na forma aguda. Já no caso da dor crônica, estima-se que ela afete a 20,5%, chegando a atingir mais de 1,5 bilhão de pessoas ao redor do mundo.
As informações são do neurocirurgião e coordenador do Centro da Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, Dr. Cláudio Fernandes Corrêa. “De acordo com a Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED), 37% dos brasileiros já apresentam a dor nessa segunda modalidade, o que equivale a 60 milhões de pessoas”, completa.
E de acordo com a sociedade Internacional para o Estudo da Dor (IASP), ela é caracterizada como uma experiência sensitiva e emocional desagradável e compromete a qualidade de vida e o dia a dia do indivíduo, especialmente quando se torna crônica.
Ela ocorre em resposta ao estímulo/lesão de terminações nervosas sensíveis, se desenvolvendo em diferentes níveis, tipos e regiões do corpo, dependendo do que a ocasiona. Como já dito, pode se apresentar na forma aguda ou crônica, onde se diferencia por tempo de duração e causa.
Em algumas situações, o quadro doloroso perde o caráter de alerta e passa a ser uma doença, explica o Dr. Corrêa, acrescentando que a dor é um sinal vital que avisa o indivíduo quando algo não vai bem no organismo, dando condição para que o acometido procure por ajuda profissional. “Sem esse sinal, não seria possível descobrir muitas enfermidades”, diz.
Considerando que toda dor física gera um desconforto emocional, o Dr. Corrêa afirma que o inverso também ocorre. Pessoas emocionalmente deprimidas tendem a sentir os processos dolorosos de ordem física com mais intensidade.
“Uma pessoa que acorda com dor de cabeça e ao longo do dia recebe uma notícia desagradável, como uma demissão, pode ter o sintoma elevado a partir de então. O mesmo ocorre da forma inversa: ao passar por um momento prazeroso, a sensação dolorosa se reduz”, conta.
Crônica ou aguda
Diferenciar a dor crônica da aguda não é algo tão complexo. Inicialmente, a diferenciação se dá pelo tempo de duração. “Dor crônica é aquela que perdura por mais de três meses e, de modo geral, se estende mesmo após a sua causa central ter sido tratada. Pode ocorrer por lesões permanentes nas estruturas nervosas ou mesmo não ter causa definida, impossibilitando a cura definitiva”, diz o Dr. Corrêa.
Já a dor aguda, geralmente, é causada por inflamações, lesões ou outros traumas. “Costuma desaparecer ou ser curada em cerca de três meses. Fraturas, cólicas renais, cortes com faca, entre outros são exemplos”, esclarece o especialista do Hospital 9 de Julho.
Quadros recorrentes
Entre as queixas mais frequentes de dor no Brasil, a dor crônica mais prevalente é a lombalgia (com e sem comprometimento radicular), cefaleia, fibromialgia e dores pélvicas também são muito comuns.
“A dor neuropática gira em torno de 7% da população”, comenta a anestesista e especialista em dor, responsável pelo Comitê de Dor Neuropática da SBED e médica responsável pelo Centro Paulista de Dor, Dra. Mariana Palladini.
Segundo ela, sabe-se que o sexo feminino é mais suscetível a dor. “Existe uma prevalência de dor de 4:1 mulheres para cada homem, e algumas patologias, como nos pacientes oncológicos, são muito suscetíveis a cursar com dor pelo tumor como pela consequência dele. Diabéticos, alcoólatras e pacientes com HIV positivo podem ter dores do tipo neuropática, então devem ser avaliados de forma mais acurada”, destaca a Dra. Mariana.
Outras dores como a lombar, também conhecida como lombalgia, dor nas articulações, face, pescoço, boca e cabeça, em suas diversas variações também são muito comuns no Brasil.
“Mulheres e pessoas com outras comorbidades, tanto de ordem física como mental, são mais suscetíveis a sentir dor. Isso ocorre por algumas razões, como fatores hormonais e menstruação, no caso delas, bem como ansiedade, depressão e maior fragilidade do organismo”, conta o Dr. Corrêa.
Formas de tratamento
De uma maneira geral, dores como de cabeça ou musculares são tratadas com analgésicos, como paracetamol e dipirona ou associados a Anti-Inflamatórios Não Esteroides (AINEs) como ibuprofeno, por exemplo.
Segundo a neurologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dra. Vanessa Sousa Brito, quando a dor é contínua, ou seja, se manifesta a longo prazo, outros medicamentos podem ser usados a critério médico, como anticonvulsivantes e antidepressivos. “Alguns desses medicamentos atuam em regiões do cérebro que percebem a dor e agem modulando a mesma”, diz.
Outros tratamentos também podem ser utilizados com sucesso. Entre eles, as bolsas de gelo, que podem ser usadas logo após um traumatismo, a fim de reduzir todos os sinais e sintomas inflamatórios. Além deste recurso, há as bolsas de água quente e emplastros podem ser usados com bons resultados.
“As bolsas de água quente promovem relaxamento da musculatura ajudando nos casos de síndromes musculares. Elas também podem ser usadas em forma de compressa para aliviar as dores de cabeça. Já os emplastros são uma forma excelente de tratamento”, comenta a Dra. Vanessa, acrescentando que a pele absorve o medicamento contido no emplastro de forma mais lenta, garantindo que este tenha um tempo de ação local mais prolongado.
Em relação a estes produtos, fica apenas uma ressalva: a aplicação de múltiplos emplastros também pode aumentar a concentração sérica final do princípio ativo. “A limpeza da pele e a tricotomia podem causar hiperemia onde o emplastro será aplicado, o que aumentará a taxa de distribuição sistêmica do princípio ativo.
Fato similar ocorre durante períodos de hipertermia, em que o rubor pode também aumentar a absorção e distribuição sistêmica”, comentam o neurocirurgião e vice-presidente da SBED, Dr. José Oswaldo de Oliveira Júnior, e o neurocirurgião e membro da Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN), Dr. Diego Do Monte R. Seabra.
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Fonte: Guia da Farmacia