Não é segredo para ninguém que o cigarro traz diversos problemas para a saúde como um todo – principalmente para os pulmões e o sistema cardiovascular. Porém, largar o vício não é tão fácil quanto parece. Segundo dados divulgados pela Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde (MS), com dados de 2018, o total de tabagistas no País corresponde a 9,3% dos habitantes.
Mas os números nacionais são positivos. De acordo com o mesmo levantamento, nos últimos 12 anos, a quantidade de pessoas que fumam caiu 40% no Brasil. Este fato é relevante tendo em vista os riscos que o hábito pode trazer.
“Na questão cardiovascular, o consumo do cigarro favorece a aterosclerose e pode levar à obstrução de diversos vasos, aumentando o risco de infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC)”, alerta o pneumologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Dr. José Rodrigues Pereira, acrescentando que o pulmão é outro órgão largamente afetado.
“O tabagismo leva a enfermidades como Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), câncer de pulmão e fibrose pulmonar idiopática. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sete milhões de pessoas morrem anualmente por problemas de saúde relacionados diretamente ao consumo do tabaco e 1,2 milhão de não fumantes, por conta de tabagismo passivo”, adverte.
O cigarro possui, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), quase cinco mil substâncias tóxicas, e destas, a nicotina é a responsável direta pela dependência do fumo. Além disso, a indústria acrescenta novas substâncias – como amônia e aromatizantes (menta, cravo, etc.) – para aumentar o poder de adição do cigarro.
É possível parar
A nicotina chega ao cérebro em apenas nove segundos após uma tragada. Ela atua em uma área do cérebro – núcleo accumbens – onde se processa o Sistema de Recompensa Cerebral, o que gera a liberação de dopamina, neuro-hormônio natural que regula diversas reações do corpo, sejam as de alegria (por isto o fumante sente prazer em fumar), sejam as de angústia ou tristeza (o fumante fuma para aliviar a ansiedade e combater o estresse).
Ainda assim é possível parar de fumar. O pneumologista da BP diz que para quem quiser cessar esse hábito sem a ajuda de medicações, o ideal é tentar diminuir o consumo gradativamente, espaçando cada mais o tempo entre um cigarro e outro. Também vale identificar quais são os gatilhos que fazem com que a vontade de fumar seja maior. Pode ser a associação com o consumo de outra substância (como café ou álcool) ou condicionamentos no decorrer da vida (como falar ao telefone ou após as refeições).
“Caso seja possível, o fumante deve evitar determinadas ações em que já está condicionado a fumar. Em situações que fazem parte do dia a dia, é necessária a força de vontade. Nem todas as pessoas conseguem parar de fumar de uma vez. Grande parte delas possui uma dependência química e psicológica e essa ruptura pode gerar ansiedade, depressão e fazer com que a tentativa seja frustrada”, alerta o médico.
Os primeiros passos
Uma das principais indicações é a prática de exercício físico, pois ele auxilia no alívio da ansiedade, controle de peso e melhora o condicionamento físico. Além disso, antes de iniciar qualquer medicação, é importante ser avaliado por um médico treinado em cessação do tabagismo.
“Não são todas as pessoas que se beneficiam. Apenas aquelas que têm uma alta dependência química à nicotina. Obrigatoriamente, é feita em consultório a avaliação cognitivo-comportamental, na qual avaliamos se a pessoa está realmente preparada para parar de fumar. Esse é o momento de passar algumas orientações e prestar esclarecimentos”, esclarece o Dr. Rodrigues Pereira.
O especialista da BP aponta, ainda, que quando a terapia medicamentosa está indicada, pode ser utilizada a terapia de reposição de nicotina, por meio de adesivo ou goma de mascar. “Outra forma de tratamento é a utilização dos inibidores do receptor nicotínico no cérebro, sendo as principais medicações a bupropiona e a varineclina”, complementa o médico.
Os riscos da recaída
A recaída também não é o “fim do mundo”. Em média, os fumantes só conseguem parar após a quinta tentativa. Mas como todo o processo é difícil e, geralmente, “doloroso”, o fumante deve se esforçar ao máximo para que o objetivo seja alcançado.
Outro conselho importante é: marcar uma data para parar de fumar. A pessoa deve se comprometer a não fumar após a data definida. De acordo com o Dr. Rodrigues Pereira, como boa parte do foco em parar de fumar está na questão psicológica, o fumante precisa entender que a cessação do tabaco é uma parte importante na mudança dos hábitos e estilo de vida. Quanto mais práticas saudáveis forem incorporadas à rotina, mais eficaz será o resultado.
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