Os cuidados necessários para o desenvolvimento da criança despertam o interesse do consumidor. Saiba como orientar as mães de primeira viagem na fase de muitos questionamentos
O período da amamentação é muito importante tanto para mãe, quanto para o bebê. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que as crianças sejam amamentadas exclusivamente com leite materno até os seis meses de idade. Após esse período, o aleitamento deve ser mantido até os dois anos de idade, juntamente com os alimentos apropriados, sob orientação do médico pediatra. O leite materno é suficiente em calorias e demais nutrientes, inclusive água.
As primeiras mamadas são de colostro, que é rico em componentes que garantirão a defesa imunológica da criança. Além disso, as substâncias ali contidas irão contribuir para o bom funcionamento do intestino do bebê. E também é rico em vitamina A, fundamental para o desenvolvimento do indivíduo.
Depois de um tempo, o leite modifica-se e sua cor amarela-clara passa a ser branca, considerada a cor normal, é o chamado leite maduro. Sua composição é rica em lactose, gordura e proteínas em quantidades necessárias para a criança.
“O leite materno contém os anticorpos, proteínas, açúcares, gordura e água na medida certa para o bebê ser saudável. Protege de várias infecções como otites, diarreia, pneumonia, além de evitar o desenvolvimento de alergias. O ato da amamentação estimula o vínculo afetivo entre mãe e filho, estimulando o desenvolvimento psicocognitivo da criança. Ele é prático, ajuda a mãe a perder peso, ajuda o útero a regredir mais rápido após o parto, além de proteger contra o câncer de mama e de ovário e a osteoporose”, informa a pediatra do Hospital Israelita Albert Einstein, Dra. Milena de Paulis.
Armazenamento do leite materno
Segundo dados da Fiocruz, o ideal é que o leite seja retirado de forma manual: |
Interação medicamentosa
Durante o período de aleitamento, é uma prática muito comum suspender a amamentação quando a mãe faz uso de alguma medicação. No entanto, especialistas afirmam que são poucos os medicamentos contraindicados nesse período. “Na maioria das vezes, é possível conciliar o uso de medicações sem interromper a amamentação. Essa última situação será indicada quando existir evidência de que a droga a ser utilizada é nociva para o bebê ou quando não existirem informações a respeito e o medicamento não puder ser substituído por outro compatível com a amamentação”, afirma a Dra. Milena.
Ela informa que os recém-nascidos e os lactentes jovens (até 3 meses de vida) são os mais vulneráveis aos efeitos adversos das medicações utilizadas durante a amamentação, devido à imaturidade da função hepática e renal, e também, da absorção gastrointestinal. “A barreira hematoencefálica imatura permite o aumento da passagem de medicamentos lipossolúveis que atuam no sistema nervoso central. Algumas outras condições podem interferir no metabolismo e na excreção das drogas pela criança, determinando maior risco para os lactentes, como ocorre na hipóxia (baixo teor de oxigênio) na acidose metabólica (trata-se de uma acidez excessiva do sangue e fluidos corporais. Essa acidez pode reduzir o pH do sangue, tornando a respiração mais profunda e rápida, uma vez que o corpo está tentando liberar o excesso de ácido no sangue. Além disso, os rins também podem se sobrecarregar, uma vez que precisam excretar uma quantidade maior de ácido na urina), na sepse (conjunto de manifestações oriundas de uma infecção) e em outras doenças.”
Deixar de amamentar deve ser sempre uma decisão médica. Apesar da excelência do leite materno, existem ocasiões em que o profissional de saúde deve considerar o risco/benefício da terapia medicamentosa na mãe que amamenta.
Inibidores da lactação
Algumas drogas são bem conhecidas por reduzirem a produção de leite. Como o crescimento do lactente está diretamente relacionado à síntese e ingestão do leite materno, o uso de qualquer uma dessas drogas pode representar risco de déficit ponderal, principalmente durante o período pós-parto imediato, época mais sensível para a supressão da lactação. Caso o uso de alguma dessas drogas seja inevitável, o profissional de saúde deve retardar ao máximo sua introdução (semanas ou meses) e prescrevê-las pelo menor tempo possível, além de monitorar o ganho ponderal do lactente. Fonte: Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias/Ministério da Saúde, Secretaria da Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. – 2ª ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010 |
Muitos medicamentos são lançados e não se sabe os efeitos sobre o lactente. O medicamento que a mãe faz uso está presente em seu sangue e algumas dessas substâncias poderão estar mais ou menos presentes no leite. Além disso, o medicamento ingerido pela criança poderá ou não ser absorvido por ela.
Orientações no período da amamentação Os seguintes aspectos práticos podem auxiliar na tomada de decisões quanto ao uso de fármacos pela paciente que está amamentando: Fonte: Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias/Ministério da Saúde, Secretaria da Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. – 2ª ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010 |
“Esses dados não podem ser pesquisados antes do lançamento do medicamento porque não se pode expor uma criança de forma propositada para esse tipo de pesquisa. Desse modo, as informações são provenientes de relatos de uso dos medicamentos e suas consequências sobre o bebê. Alguns estudos prévios podem ser feitos em animais, porém não se terá a certeza plena”, informa o responsável pelo Centro de Informação sobre Medicamentos ligado ao curso de Farmácia da Unisantos (CIM-Unisantos), prof. Dr. Paulo Angelo Lorandi.
O especialista informa que os efeitos esperados serão os mais diversos possíveis. “Por exemplo, alguns depressores do sistema nervoso central usados em epilepsia poderão provocar sonolência e sedação na criança. Por outro lado, medicamentos contraindicados como os antineoplásicos podem trazer uma série consequências como alterações no padrão sanguíneo.”
Ele explica que o uso de medicamentos pode ser programado para evitar que a mamada aconteça no pico de concentração de medicamentos no sangue e no leite. “Logo após se tomar um medicamento, espera-se que sua concentração no sangue e, consequentemente no leite, estejam aumentadas, decaindo com o tempo. Alguns medicamentos permanecerão com a concentração alta por mais tempo, enquanto outros estarão com ela mais baixa poucas horas após a administração. O médico, com auxílio do farmacêutico, conhecendo esses dados, poderá propor um regime de tomada de medicamentos compatível com os horários das mamadas do bebê.”
As funções renais e hepáticas também são importantes nesse período porque influenciam os níveis séricos das drogas e, consequentemente, as suas concentrações no leite. Dessa forma, as mães que amamentam e têm doenças hepáticas ou renais tendem a apresentar e manter por mais tempo níveis elevados dos medicamentos na circulação sanguínea.
Autor: Tássia Rocha