Dia Mundial da Saúde Bucal

Especialistas discutem desafios no cuidado dental no brasil e orientam sobre a seleção de produtos de higiene oral nas farmácias

Conforme nos aproximamos do Dia Mundial da Saúde Bucal, em 20 de março, cirurgiões dentistas são unânimes em reforçar uma mensagem crucial: a saúde inicia-se pela boca. Esse dia, mais do que uma simples data no calendário, simboliza um momento importante para ampliar a consciência sobre como o tema impacta diretamente a qualidade de vida.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 3,5 bilhões de pessoas no mundo padecem de doenças bucais, abrangendo todas as faixas etárias.

No País, de acordo com a mais recente Pesquisa Nacional de Saúde Bucal – SB Brasil, promovida pelo Ministério da Saúde (MS), a realidade bucal do brasileiro é preocupante. Quase metade dos idosos – precisamente 44,9% – enfrentam a necessidade urgente de tratamento odontológico, batalhando contra dores e infecções dentárias. Para os adultos, o quadro é igualmente grave: 48,4% deles aguardam procedimentos eletivos.

Curiosamente, 90% dos brasileiros escovam os dentes até duas vezes ao dia, e 63% complementam essa prática com o uso de fio dental, escova e pasta de dentes. Mas surge o questionamento: isso é suficiente? Os dados sugerem que não. Uma parcela significativa da população, especialmente entre 45 e 74 anos de idade, enfrenta a perda de vários dentes, um indicativo claro de problemas de saúde bucal crônicos.

A Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo MS em colaboração com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), revela outro dado preocupante: mais da metade das crianças de cinco anos de idade já tiveram cáries, demonstrando a importância crucial de implantar hábitos de higiene bucal eficientes desde cedo.

Esse cenário nos leva a questionar: quais são os impedimentos que ainda dificultam o brasileiro a cuidar adequadamente dos dentes?

“O acesso ao tratamento odontológico apropriado é o principal desafio para a população brasileira.

No Sistema Único de Saúde (SUS), contamos com cerca de 30 mil equipes de saúde bucal, além de outras atuando na rede básica e em Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) ”, esclarece o conselheiro e tesoureiro do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dr. Marco Antonio Manfredini. “No entanto, esse sistema ainda atende a pouco mais de 50% da população, deixando uma lacuna significativa. ”

No setor privado, apesar de o Brasil ter quase 20% dos cirurgiões-dentistas do mundo, desafios se mantêm, principalmente devido à situação econômica. “A melhoria no cenário econômico facilitaria o acesso aos cuidados odontológicos privados”, observa o Dr. Manfredini, acrescentando que atualmente 30 milhões de brasileiros acessam a saúde bucal por meio de convênios e planos de saúde suplementares.

Compartilhando da mesma opinião, a professora livre-docente do Departamento de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP) e fundadora e administradora do São Paulo Dental Studio (SPDS), Profa. Dra. Ana Cecília Aranha, aborda a disparidade no acesso a um atendimento de qualidade. “Temos muitos dentistas, mas a população ainda enfrenta várias doenças bucais. O desafio é encontrar profissionais que acompanhem o paciente desde a infância até a terceira idade”, salienta.

Já o cirurgião-dentista e sócio fundador da rede de clínicas odontológicas PróRir, Dr. Alexandre Ravani, aponta a desigualdade socioeconômica como um fator crítico. “Grupos de baixa renda enfrentam grandes dificuldades para custear tratamentos odontológicos, muitas vezes inacessíveis em programas públicos”, explica.

DEZ PASSOS PARA HIGIENIZAÇÃO DAS PRÓTESES DENTAIS

  1. Higienizar as mãos: iniciar lavando as mãos cuidadosamente para evitar a transferência de germes para a prótese.
  2. Preparar a área de limpeza: utilizar uma cuba com água morna. Evitar água muito quente para não danificar a prótese.
  3. Selecionar a escova: escolher uma escova específica para próteses dentais. Escovas de dentes convencionais podem ser abrasivas e causar danos.
  4. Escolher o creme dental: evitar o uso de cremes abrasivos na prótese.
  5. Escovar detalhadamente: escovar cuidadosamente todas as superfícies da prótese, incluindo os dentes artificiais, áreas de encaixe e superfícies internas.
  6. Usar detergentes: aplicar um detergente suave ou sabão neutro na escova ou diretamente na prótese para facilitar a remoção de resíduos.
  7. Enxaguar complemente: após a escovação, enxaguar a prótese completamente para remover quaisquer resíduos de sabão ou detergente.
  8. Desinfecção adicional: considerar a imersão da prótese em uma solução antisséptica recomendada pelo dentista para uma limpeza mais profunda.
  9. Cuidados com a gengiva: após remover a prótese, deve-se escovar gengiva, língua e dentes naturais (caso existam).
  10. Armazenamento adequado: quando não estiver em uso, a prótese deve ser guardada em uma solução apropriada para evitar ressecamento.

Fonte: cirurgião-dentista e sócio fundador da rede de clínicas odontológicas PróRir, Dr. Alexandre Ravani

CONSCIENTIZAÇÃO E PREVENÇÃO

A falta de informações sobre prevenção e saúde bucal ainda é um tema sensível na avaliação da especialista em Prótese Dentária e consultora técnica da Oral Sin, Dra. Fernanda Oliani. “Muitos que não iniciaram acompanhamento odontológico na infância encontram desafios na idade adulta. No setor público, o foco frequentemente está em atendimentos emergenciais e não na prevenção”, analisa.

Assim, vê-se a importância em intensificar a educação em saúde bucal nas universidades, associações odontológicas, escolas e também para a população em geral, afirma o especialista, mestre e doutor em Dentística pela USP-SP; coordenador do Curso de Especialização em Dentística da Faculdade São Leopoldo Mandic – São Paulo-SP, Prof. Dr. Camillo Anauate Netto. “Prevenção é a forma mais barata e democrática de se obter saúde bucal e a única acessível a todos os brasileiros”, destaca.

O cirurgião-dentista e presidente do Grupo OdontoCompany, Dr. Paulo Zahr, afirma que a higiene bucal inadequada é a principal causa das doenças bucais, afetando tanto a funcionalidade quanto a estética do sorriso.

“A maioria dessas doenças pode ser prevenida com cuidados adequados, embora muitos pacientes negligenciem essa prática”, pontua o especialista, elencando alguns problemas recorrentes.

“A cárie é muito comum no Brasil e é causada pela ação de bactérias que corroem o esmalte dos dentes. Contribui para o seu desenvolvimento, o consumo de doces e bebidas açucaradas, aliado à negligência dos cuidados bucais. Já a gengivite é provocada por bactérias nas bordas da gengiva. Este problema, resultante de uma higiene bucal inadequada, requer tratamento especializado para a remoção de placas bacterianas e tártaro”, diz o Dr. Zahr.

Outro problema recorrente é a placa bactéria na, que forma uma película incolor composta por bactérias e restos de alimentos nos dentes, e sua remoção é essencial para evitar danos maiores à dentição. Já o tártaro, explica o Dr. Zahr, resulta do endurecimento da placa bacteriana e complica a remoção dos resíduos, exigindo procedimentos de raspagem profissionais.

Por fim, o mau hálito, ou halitose, pode ter várias causas, incluindo condições de saúde, como sinusite, diabetes e alterações hormonais, necessitando de um diagnóstico preciso para um tratamento eficaz.

ESCOVA DENTAL

A escovação dental é a estratégia principal da higienização bucal, pois permite remover cerca de 70% a 80% da placa bacteriana, segundo o Prof. Dr. Netto.

Mas como escolher uma escova de dente eficiente? O Dr. Zahr explica que é importante considerar alguns fatores essenciais: primeiro, observar o formato da escova. O ideal é que ela limpe de um a dois dentes por vez e permita acesso a todos os dentes efetivamente, até mesmo os mais ao fundo da boca.

“Uma escova com cabeça pequena e arredondada, similar às infantis, é a melhor opção, pois alcança áreas mais escondidas, garantindo uma higienização completa”, recomenda.

As cerdas são outro aspecto crucial. “Elas devem ser macias, homogêneas, com acabamento arredondado para remover sujeiras e placas bacterianas sem ferir as gengivas ou danificar o esmalte dentário.

Escovas com boa concentração de cerdas por tufo e pontas cônicas são mais eficazes na limpeza”, sugere o Dr. Zahr.

Quanto ao cabo, o especialista da OdontoCompany indica os que ofereçam uma boa empunhadura e permitam movimentos corretos durante a escovação. “Cabos ergonômicos e emborrachados são ideais, pois não escorregam e minimizam o risco de machucar o interior da boca. ”

A troca da escova de dentes deve ocorrer a cada três meses, ou quando houver sinais de desgaste, para evitar a ineficácia da escovação devido à deformação das cerdas e ao acúmulo de bactérias.

“Além disso, é importante substituir a escova após doenças, como gripes, resfriados e infecções de garganta, evitando que microrganismos causadores desses problemas permaneçam nas cerdas”, alerta o Dr. Zahr.

CREME DENTAL

Sobre o uso do creme dental, o recomendável é sempre utilizar produtos fluoretados, porque, além de fazer a remoção do biofilme (que é o que causa a cárie dentária e a doença gengival ou periodontal), eles contêm o flúor, um elemento importante para a prevenção, de acordo com o Dr. Manfredini.

Sobre os tipos, há uma série de opções disponíveis. “Alguns são indicados para casos específicos, como o creme dental para dentes sensíveis. Há o creme dental com proteção gengival, indicado para quem tem gengiva sensível. Existe o creme dental com ação antisséptica que tem propriedades antissépticas para combater bactérias que causam mau hálito. Os sabores e texturas são diversos e dependerão do gosto do paciente”, lista o Dr. Ravani.

Já para o uso dos cremes dentais com função clareadora, o Dr. Manfredini recomenda uma orientação personalizada de um cirurgião-dentista antes do uso porque eles têm uma função muito específica.

ANTISSÉPTICOS BUCAIS

Em busca de uma completa saúde bucal, o uso de antissépticos bucais se destaca como uma prática essencial. Pela recomendação do Dr. Zahr, a escolha e utilização correta desses produtos são importantes para prevenir doenças e manter a boca livre de tártaro e bactérias.

Para ele, os antissépticos bucais, disponíveis em variadas formulações, dividem-se em duas categorias principais: cosméticos e terapêuticos. Os cosméticos são excelentes aliados na luta contra o mau hálito temporário, enquanto os terapêuticos desempenham um papel vital no combate à cárie, placa bacteriana e gengivite.

Contudo, o Dr. Zahr enfatiza a necessidade de moderação e atenção aos ingredientes, especialmente no que diz respeito aos enxaguantes bucais com álcool.

“Embora possam ser úteis em situações específicas sob prescrição dental, seu uso contínuo pode causar problemas como descamação dos tecidos, inibição das glândulas salivares e ressecamento da mucosa bucal”, revela.

Alternativamente, os enxaguantes com flúor são recomendados para pessoas com predisposição a cáries, atuando na remineralização do esmalte dentário e podendo ser utilizados de forma regular.

“O enxaguante com clorexidina, por outro lado, é eficaz na prevenção do biofilme dental e no controle da gengivite, mas seu uso deve ser limitado a situações específicas, como no período pós-cirúrgico, devido ao risco de manchas nos dentes”, lembra o Dr. Zahr.

FIO OU FITA DENTAL?

Além dos antissépticos, também é essencial a importância do fio e da fita dental na rotina de higiene bucal. Afinal, estes instrumentos foram desenvolvidos para alcançar as regiões inacessíveis pelas cerdas das escovas e são essenciais para evitar o acúmulo de alimentos e a formação de placa bacteriana.

Embora o fio dental e a fita dental desempenhem a mesma função básica, suas características variam.

O fio dental, formado por múltiplos filamentos entrelaçados, é adequado para espaços mais estreitos entre os dentes. Já a fita dental, mais fina e achatada, pode ser mais apropriada para pacientes em tratamentos ortodônticos ou com outras necessidades especiais.

Fonte: cirurgião-dentista e presidente do Grupo OdontoCompany, Dr. Paulo Zahr

Fonte: Guia da Farmácia

Foto: Shutterstock

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