Dia mundial de combate à dor

A dor na forma aguda é motivo de sofrimento para cerca de 80% da população global e, somente no Brasil, 37% das pessoas já foram acometidas pela dor crônica. Conheça o mote desta campanha celebrada em 17 de outubro

Presente de diferentes maneiras, com vários graus de intensidade e potencial para acometer diversas regiões do corpo, a dor é algo que afeta a rotina diária de muita gente. Ela não é somente uma vilã que rouba a qualidade de vida. A dor tem a importante função de alertar que algo não está bem. O problema é o que as pessoas fazem normalmente com este aviso, o conhecido “Isso não é nada, vai passar”, causando ainda mais complicações para a saúde.

A propósito, no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é estimado que 80% dos adultos irão sofrer pelo menos uma crise aguda de dor durante na vida. “Segundo a Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED), 37% dos brasileiros já apresentaram a dor de forma crônica. Entre as dores mais comuns está a enxaqueca, que, só no Brasil, atinge 34 milhões de pessoas, ou seja, uma em cada sete. Já a popular dor nas costas é responsável por mais 10,54% dos afastamentos do trabalho e pedido de entrada no benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)”, completa o ortopedista, traumatologista e cirurgião da coluna vertebral do Instituto Sem Dor, Dr. Anderson Alves Dias.

Campanha mundial

Para colaborar com a redução desses números e chamar a atenção para esse problema de saúde pública, desde 2004, a International Association for the Study of Pain (IASP), apoiada pela OMS, comemora anualmente, no dia 17 de outubro, o Dia Mundial de Combate à Dor. “A dor é o 5º sinal vital, além de ser uma doença incapacitante. Para se ter uma ideia, um paciente que apresenta dor crônica usa cinco vezes mais o serviço de saúde. Então, o Dia Mundial de Combate à Dor é uma data importante, pois nos ajuda a conscientizar a todos sobre este fato”, diz o professor do curso de Medicina da Universidade Cidade de S. Paulo (UNICID), Prof. Dr. Ricardo Galhardoni.

De acordo com a IASP, a dor é uma experiência sensitiva e emocional desagradável e que compromete a qualidade de vida e o dia a dia do indivíduo, especialmente quando se torna crônica. Ela ocorre em resposta ao estímulo/lesão de terminações nervosas sensíveis, se desenvolvendo em diferentes níveis, tipos e regiões do corpo, dependendo do que a ocasiona. Como já dito, pode se apresentar na forma aguda ou crônica, onde se diferencia por tempo de duração e causa.

Fatores pessoais

Considerando que toda dor física gera um desconforto emocional, ela também é subjetiva, ou seja, pessoal. “Cada paciente interpreta sua dor de uma forma diferente. É preciso escutá-lo e acolhê-lo, em primeiro lugar. É sempre importante lembrar que todos merecem respeito e cuidados. Como especialistas, não podemos nunca minimizar a dor de um paciente, pois só ele sabe o que realmente está sentindo naquele momento. Se o incômodo persiste há muito tempo, o indivíduo deve saber que está na hora de procurar um médico (se ainda não o fez)”, recomenda o neurocirurgião, médico do Hospital Israelita Albert Einstein e pesquisador da disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Dr. Marcelo Valadares.

“A dor sempre é uma experiência única para cada pessoa. Isso acontece porque o processamento de dor envolve áreas do cérebro relacionadas à emoção. Portanto, diante de um estímulo de dor, sua percepção em sua intensidade e emoções associadas, por exemplo, à tristeza e ao medo, é singular para cada paciente”, ensina o reumatologista e membro da Sociedade Paulista de Reumatologia (SPR), Dr. Thiago Junqueira Trevisan.

Independentemente do grau sentido, é bem verdade que o quadro doloroso afeta o bem-estar e a rotina das pessoas. “Estudos mostram que há uma correlação negativa entre a qualidade de vida e dor. Isso significa que quanto maior a intensidade desse sintoma, pior é a qualidade de vida dos indivíduos afetados. Além disso, a dor crônica é responsável por um alto grau de absenteísmo no trabalho e pode comprometer as habilidades dos pacientes em cumprir suas responsabilidades domésticas e familiares, suas atividades recreacionais e a qualidade do seu sono”, explica o anestesista especialista em dor do Fleury Medicina e Saúde, Dr. Vitor de Melo.

Dor aguda ou crônica?

A diferenciação das dores é simples, pois ela se dá pelo tempo de duração. “Dor aguda é aquela que tem duração de até três meses. Já a dor crônica é aquela que perdura mais do que isso”, resume a ortopedista e coordenadora do programa de coluna do Qualivida do Grupo Hapvida Notredame Intermédica, Dra. Liége Mari Mentz-Rosano.

Em geral, a dor aguda têm suas causas conhecidas, como um procedimento cirúrgico, fratura, contusão e uma neurite (inflamação do nervo). “Já a dor crônica, geralmente, é causada por uma dor aguda não tratada adequadamente, onde, algumas vezes, a causa já foi resolvida, mas a sensação dolorosa permanece”, esclarece a anestesiologista com área de atuação em dor, médica de tratamento de dor do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dra. Roberta Risso.

A dor aguda, normalmente, causa um desconforto, calor e vermelhidão. “Por outro lado, a dor crônica pode causar um desconforto persistente, associadoa vários outros sintomas como: alteração do humor (ansiedade ou depressão), alteração do mecanismo do sono, fadiga, e muitos outros sintomas relacionados à dor crônica”, destaca.

O anestesiologista do Hospital Santa Catarina – Paulista, Dr. Hazem Adel Ashmawi, exemplifica que a dor aguda está normalmente associada a um alerta sobre problemas que o paciente está sofrendo. Por exemplo, uma dor no peito pode levar a uma suspeita de infarte.

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Quadros recorrentes

Para o ortopedista que atua no Hospital Geral de Carapicuíba, gerenciado pelo Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” (CEJAM), Dr. Carlos Górios, a fibromialgia, doença reumatológica que afeta a musculatura causando dor, é a maior causa de dor crônica.

No topo da lista figuram ainda a cefaleia, uma dor de cabeça crônica; e as dores na lombar, cervical e a artrose, que tem duração de meses ou até anos. “Algumas dores neuropáticas, ou seja, aquelas que apresentam lesões de nervos, também podem ser consideradas dores crônicas e de muita incidência”, ressalta o Dr. Ashmawi.

Já para as dores agudas, as maiores causas são os traumas. “Atropelamento, dor pós-operatória e queimadura figuram nesta lista. Mas também temos dor aguda em situações como a dor de cabeça, estômago e as cólicas renal e abdominal”, reforça o médico do Hospital Santa Catarina.

Formas de prevenção

No geral, uma rotina saudável é a chave para evitar dores agudas e crônicas. “O estilo de vida influencia muito. Diria que hábitos saudáveis são importantes, como a alimentação adequada, atividade física e cuidado com a saúde mental”, lista o Prof. Dr. Galhardoni.

Também é preciso ter atenção à qualidade do sono. “Outros itens importantes como correção postural, evitar fazer esforços repetitivos e controlar as doenças crônicas, como diabetes e hipertensão são fundamentais”, enumera o médico do Instituo Sem Dor.

Para o Dr. Ashmawi, toda dor crônica já foi aguda. “Por isso, a melhor forma de prevenção é o tratamento adequado da dor aguda desde o início”, finaliza.

Dicas do Gui: quando os emplastros e sprays são indicados?

Indicações: se a dor for bem localizada e em uma região definida, o indicado é usar como recurso a medicação de uso tópico, como sprays, aerossóis e cremes. Os emplastros (adesivos) também poderão ajudar muito nas dores localizadas.

Ação esperada: compostos por salicilato de metila, mentol e cânfora, são indicados para alívio das dores localizadas em articulações e músculos, causadas por contusões, luxações, nevralgias, torcicolos, câimbras e traumatismos.

Ativos presentes:
Associação de salicilato de metila e mentol: é uma grande aliada para o alívio do reumatismo, das nevralgias, do torcicolo, das contusões e para o alívio das dores musculares.
Salicilato de metila: promove uma hiperemia, que é o aumento de sangue circulante no local de aplicação.
Mentol: atua na dilatação dos vasos sanguíneos, gerando sensação de frio por estímulo de receptores específicos, seguido de ação analgésica.
Cânfora: quando utilizada em óleos para massagem, a ação promove bem-estar e reduz as dores musculares. Também possui ação rubefaciente, ou seja, causa vermelhidão para o alívio dos processos inflamatórios.

Fonte: farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti.

Dicas do Gui: fármarcos que atuam na dor aguda

Orientação: quando há quadros de dor aguda, o tratamento tende a ser realizado de acordo com o sintoma e, muitas vezes, pode ser administrado com Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs), que embora não precisem de receita, precisam ser usados sob orientação médica.

Indicações: se for intensa e não está em uma região bem delimitada, o recomendado é tomar medicação por via oral.

Analgésicos e anti-inflamatórios: agem na amenização da dor e têm capacidade de impedir as manifestações do processo inflamatório. São exemplos o Ácido Acetilsalicílico (AAS), dipirona, ibuprofeno e paracetamol.

Citrato de orfenadrina: é um medicamento que possui ação analgésica e relaxante muscular, combatendo dores e contraturas musculares excessivas, além de dor de cabeça tensional.

Carisoprodol: é um relaxante muscular esquelético de ação central, quimicamente relacionado ao meprobamato, que reduz indiretamente a tensão da musculatura. Normalmente, está associado à cafeína, que tende a corrigir a sonolência que o carisoprodol provoca. A cafeína também tem ação contra a dor.

Fonte: farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti.

 

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Outros tipos de dor

Disruptiva: é um sinalizador de que a dor se apresenta apesar de se estar tomando analgésicos regularmente para controlar a dor crônica. Chama-se dor disruptiva porque “rompe” o alívio da dor que se sente com analgésicos. Como regra, aparece de forma rápida, dura até uma hora e a sensação é muito parecida com a dor crônica, exceto que é mais intensa.

Nociceptiva: representa a maioria das dores. Elas resultam da estimulação dos receptores da dor quando ocorrem lesões no tecido (nociceptores), que estão localizados na pele ou nos órgãos internos. A lesão pode ser uma ferida, contusão, fratura óssea, esmagamento ou queimadura, por exemplo.

Neuropática: é um tipo de dor que resulta de uma lesão no sistema nervoso, podendo ser provocada por infecções, como o herpes ou doenças como diabetes, por exemplo, ou resultar de uma disfunção do sistema nervoso. Este tipo de dor pode ser acompanhado por edema e sudorese, alterações do fluxo sanguíneo local, ou por alterações dos tecidos, como atrofia ou osteoporose.

Somática: é a que tem como causa desencadeante ou perpetuante o dano ou lesão somática (músculos, ossos ou articulações).

Psicossomática: representa a ligação direta entre a saúde emocional e a física. Ou seja, quando o sofrimento psicológico, de alguma forma, acaba causando ou agravando a dor.

Idiopática: quando não se pode determinar a causa. Diante deste cenário, o médico não encontra provas de que ela foi causada por uma doença ou tem origem psicológica.

Fonte: ortopedista, traumatologista e cirurgião da coluna vertebral do Instituo Sem Dor, Dr. Anderson Alves Dias

Fonte: Guia da Farmácia

Foto: Shutterstock

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