Doenças gastrointestinais: a importância do diagnóstico precoce

Especialistas alertam sobre os cuidados com a saúde digestiva e quando buscar ajuda médica para prevenir complicações

No dia 29 de maio, comemora-se o Dia Mundial da Saúde Digestiva, uma data importante para se lembrar da necessidade da prevenção e do diagnóstico precoce das doenças do trato gastrointestinal. Apesar da relevância do tema, muitas pessoas acabam negligenciando esses sintomas e só procuram um especialista quando o quadro está avançado.

Segundo a Organização Mundial de Gastroenterologia, 20% da população global sofre algum tipo de problema intestinal e 90% das pessoas não procuram orientação médica, recorrem à automedicação ou não fazem nada para resolver o problema.

“De acordo com estatísticas atuais, estima-se que cerca de 12% da população brasileira seja afetada pela Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE). O câncer colorretal é o terceiro tipo de câncer mais frequente no Brasil, excluindo os tumores de pele não melanoma, com uma incidência estimada de 45.630 casos por ano e um risco estimado de 21,10 casos por 100 mil habitantes. Além disso, as Doenças Inflamatórias Intestinais (DII), como a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, apresentam uma prevalência de cerca de 100 casos para cada 100 mil habitantes nas regiões Sul e Sudeste do País”, informa a médica especialista em cirurgia geral e endoscopia digestiva, Dra. Ivna Fernandes, sediada em Fortaleza (CE).

Entre as doenças mais comuns, a dispepsia funcional (popularmente conhecida como gastrite) também é referida em 40% das queixas digestivas relatadas pela população brasileira, segundo o coordenador do Núcleo de Gastroenterologia e Hepatologia do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo (SP), Dr. Tomás Navarro Rodriguez.

DICAS DO GUI: MEDICAMENTOS ISENTOS DE PRESCRIÇÃO MAIS USADOS PARA AZIA E MÁ DIGESTÃO

Antiácidos: compostos por hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio, bicarbonato de sódio e carbonato de cálcio, neutralizam a acidez do estômago e aliviam os sintomas de azia e má digestão.

Alginato de sódio: forma uma barreira protetora na superfície do conteúdo gástrico, impedindo o refluxo e reduzindo a azia e o desconforto.

Como usar: importante ressaltar que alguns tipos de medicamentos possuem recomendações específicas sobre o melhor horário para uso, se antes, junto ou após as refeições principais, pois pode haver alteração na absorção e no mecanismo de ação principal.

Ponto de atenção: esses medicamentos possuem contraindicações e possíveis efeitos colaterais, como má absorção de nutrientes, vitaminas e minerais, constipação, diarreia e desequilíbrio na flora intestinal. Por isso, é indicado orientar o paciente a procurar um médico em casos de sintomas recorrentes ou de média/forte intensidade.

Fontes: 1. Coordenador do Núcleo de Gastroenterologia e Hepatologia do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo (SP), Dr. Tomás Navarro Rodriguez; e 2. Gastroenterologista e hepatologista dos hospitais Universitário Cajuru e Marcelino Champagnat, Dra. Helen Carolina Perussolo Alberton.

IMPORTÂNCIA DA DATA

Para reverter esse cenário, é necessário trazer o tema em discussão e realizar programas de prevenção que alcancem toda a população brasileira. “Além disso, a falta de orientação e informações adequadas sobre saúde digestiva, somada à restrita acessibilidade aos serviços de saúde privados, muitas vezes faz com que as pessoas negligenciem a importância de cuidar do trato gastrointestinal”, destaca o médico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Além disso, no Brasil, a realização de exames complementares, como ultrassom, tomografia, endoscopia e colonoscopia, é um desafio. Muitas vezes, esses diagnósticos são de difícil acesso ou apresentam longas filas de espera, o que pode retardar o diagnóstico e o tratamento das doenças do trato digestivo, explica a Dra. Ivna.

“A importância do diagnóstico precoce e tratamento adequado das doenças do aparelho digestivo é fundamental para garantir uma melhor qualidade de vida ao paciente. Negligenciar essas doenças pode levar a complicações graves a médio e longo prazo, podendo até mesmo exigir uma intervenção cirúrgica quando o tratamento clínico já não é mais eficaz. Por isso, é essencial que as pessoas estejam atentas aos sinais do corpo e busquem ajuda médica o mais cedo possível para evitar maiores consequências”, explica a gastroenterologista e hepatologista dos Hospitais Universitário Cajuru e Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), Dra. Helen Carolina Perussolo Alberton.

GRUPOS DE RISCO

Sobre os fatores de riscos para as doenças digestivas, eles são bastante variáveis e podem ser influenciados por diversos pontos, incluindo predisposição genética, hábitos alimentares, estilo de vida e uso de medicamentos, segundo a Dra. Helen Carolina.

“Há doenças que têm uma forte correlação com a predisposição genética, como a doença celíaca e as doenças inflamatórias intestinais, como a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn”, relata a médica. Já fatores ambientais, como exposição ao cigarro e álcool estão relacionados com a DRGE e com sintomas dispépticos (má digestão), além de serem fatores de risco para doenças crônicas do fígado e do pâncreas. A obesidade e a síndrome metabólica também estão associadas a um grande número de doenças digestivas.

FORMAS DE PREVENÇÃO

A Dra. Helen Carolina alerta para a importância dos hábitos alimentares e para evitar o consumo excessivo de cafeína, alimentos gordurosos e refeições volumosas, além de orientar sobre a necessidade de manter um intervalo adequado entre a alimentação e o momento de deitar.

A falta de consumo de líquidos e fibras na dieta, aliada ao sedentarismo, também é um fator de risco para o desenvolvimento da constipação intestinal crônica. Além disso, o uso errôneo de medicamentos pode afetar negativamente a saúde digestiva, sendo um fator de risco para sintomas digestivos e doenças, como constipação, diarreia, dor abdominal e úlceras de estômago.

A Dra. Helen Carolina destaca também a relação entre as desordens funcionais, como a dispepsia funcional e a Síndrome do Intestino Irritável (SII), com o estilo de vida e transtornos de humor, como ansiedade e depressão, podendo vir acompanhadas de outras doenças, como fibromialgia e enxaqueca.

Para as doenças infecciosas digestivas, como parasitoses e infecção crônica pela bactéria H. pylori, ou infecção pelo vírus da hepatite A, a Dra. Helen Carolina finaliza ressaltando a importância da qualidade das condições sanitárias, visto que essas doenças podem ser transmitidas por água e alimentos contaminados.

Foto: Shutterstock e Guia da Farmácia

 

1 comentário

Deixe um comentário