Quem é o idoso brasileiro?

A população da terceira idade deve crescer expressivamente nos próximos anos. Para estar preparado à mudança na pirâmide etária, é preciso conhecer suas características 

Os idosos já representam 13,7% da população brasileira, o que significa que o País conta com mais de 26 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade – montante superior à população total de muitos países ao redor do mundo. Como a expectativa é de que esse contingente só cresça nos próximos anos – em 2025, a população da terceira idade deve somar 32 milhões de cidadãos –, é fundamental que se conheça o perfil médio desta faixa etária.  

Uma das características principais da população idosa é que ela é composta na maioria por mulheres – 55,7% do total. Isso pode ser explicado pelo fato de que a expectativa de vida do sexo feminino é 7,3 anos maior que a dos homens, segundo os dados das Tábuas Completas de Mortalidade do Brasil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também é notada uma maioria da raça branca. Mais da metade dos idosos (52,6%) se declara como tal. 

Em um País de proporções continentais como o Brasil, há uma diferença relevante entre a prevalência de idosos nas diferentes localidades. O número mais elevado de cidadãos com mais de 60 anos de idade está concentrado nas Regiões Sul (15,2%) e Sudeste (15,1%) e menos expressivo na Região Norte (9,1%). Também nessas áreas foi constatado um aumento mais expressivo de municípios com presença de conselhos municipais de direitos do idoso, que realizam a supervisão, o acompanhamento, a fiscalização e a avaliação da política nacional do idoso. No geral, a existência desse tipo de serviço passou de 35,5% dos municípios brasileiros, em 2009, para 61,9%, em 2014. 

Apesar dos dados positivos, a geriatra do Hospital Santa Paula, Dra. Maristela Soubihe, acredita que o País ainda tem muito a evoluir quanto à cultura do envelhecimento. “A infraestrutura das nossas cidades é voltada para os jovens. Temos problemas no âmbito previdenciário e a saúde pública e privada ainda está aprendendo a acolher o idoso e suas necessidades adequadamente”, destaca. 

Uma das provas de que a qualidade de vida do idoso merece muita atenção é o fato de que 84% declararam que precisam de ajuda para realizar as atividades de vida diária. São milhões de pessoas, o que mostra a necessidade de se colocar, na agenda das políticas públicas, o tratamento dado a essa população. 

Atualmente, essa responsabilidade está concentrada na família. Segundo o IBGE, 78,8% dos idosos recebem cuidados de familiares; 17,8%, cuidados remunerados; e 10,9% não recebem ajuda para a realização de seus afazeres.  

Por conta da dependência física ou falta de recursos, a maioria dos idosos vive com alguém da família, segundo dados da pesquisa Idosos no Brasil, realizada pelo Data Popular. Apenas 2,7 milhões moram sozinhos, sendo que 1,8 milhão são mulheres, enquanto 938 mil são homens. A convivência com familiares mais jovens parece ser um ponto desgastante para a população da terceira idade. A mesma pesquisa mostra que 64% dos entrevistados reclamaram do mau humor; 55%, do egoísmo; 46%, do desrespeito; e 25%, da frieza dos adultos e jovens. 

A educação do idoso brasileiro é outro aspecto que precisa de atenção. A média de anos de estudo das pessoas com mais de 60 anos de idade é inferior à da população de 15 anos ou mais de idade. A boa notícia é que o grau de instrução vem melhorando. Aumentou de 3,5 anos de estudo, em 2004, para 4,8, em 2014. Consequentemente, a proporção de idosos com nove anos ou mais de estudo cresceu de forma expressiva, passando de 12,7% para 20,7%, no mesmo período. Ao mesmo tempo, caiu a proporção daqueles com menos de um ano de estudo – de 36,5% para 27,3% no período. 

Dependência na Terceira Idade

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2013, 6,8% das pessoas de 60 anos ou mais de idade tinham limitação funcional para realizar suas atividades de vida diária. Quanto mais elevada a idade, maior era a proporção de pessoas com tais limitações, variando de 2,8%, para aquelas de 60 a 64 anos, a 15,6%, para as de 75 anos ou mais de idade.  

Entre as regiões brasileiras, o Sudeste apresentou proporções baixas nas idades analisadas. Os diferenciais por sexo também são importantes: 7,3% das mulheres de 60 anos ou mais de idade tinham limitação funcional para realizar suas atividades de vida diária, e para os homens, o indicador foi de 6,1%. Pode-se notar que o diferencial por sexo foi mais marcante na área rural, de 8,8% para as mulheres e 5,5% para os homens.  

O custo de um idoso de classe média na cidade de São Paulo e com grau médio de dependência pode ultrapassar R$ 10 mil em convênio médico, medicação, reabilitação, cuidadores e, eventualmente, moradia, segundo a geriatra do Hospital Santa Paula, Dra. Maristela Soubihe. “O envelhecimento muitas vezes traz doenças e limitações que fazem a vida do idoso ser muito cara. Tanto as famílias quanto o governo não estão preparados para suprir as necessidades financeiras de um idoso comum.” 

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Trabalho e lazer 

Quanto à presença no mercado de trabalho, o nível de ocupação dos idosos foi de 29,1% em 2014, sendo que, para os homens, o indicador foi de 41,9% e para as mulheres, de 18,9%. À medida que a idade aumenta, o percentual de ocupação cai, chegando a 30% para os homens com 65 anos ou mais de idade e 23,5% para aqueles com 70 anos ou mais de idade, sendo que, em todas as faixas de idade analisadas, os homens estão mais presentes na força de trabalho. A média de horas trabalhadas foi de 33,9 para os idosos ocupados, valor abaixo do tempo médio para a população em geral. 

A coordenadora da Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Kathya Maria Ayres de Godoy, que convive com idosos ativos diariamente, afirma notar que a renda desta população tem feito a diferença no orçamento familiar, principalmente em tempos de crise. “Os filhos desses idosos não estão conseguindo se segurar economicamente. Os idosos não têm mais o papel de cuidar dos netos enquanto os pais trabalham, até porque eles não têm mais tempo para isso. Eles ajudam financeiramente. Vejo que 90% deles pagam as escolas dos netos. Com o País em crise, o dinheiro deles conta muito.”  

Os números da pesquisa do Data Popular corroboram com essa percepção da professora da Unesp. O estudo aponta que pelo menos 15,8 milhões de brasileiros com 60 anos de idade ou mais são identificados como principais responsáveis pela renda no domicílio em que habitam. Nesse grupo, 55,4% são homens e 44,6%, mulheres. 

Em relação ao acesso dos idosos ao esporte e lazer, a proporção de pessoas com mais de 60 anos de idade que praticaram o nível recomendado de atividade física no lazer foi somente de 13,6%, segundo o IBGE. Isso pode ser explicado pelo fato de que uma das atividades de lazer preferidas entre os idosos é assistir à televisão – em torno de 32% declarou fazer isso por três horas ou mais ao dia.  

Entre os idosos mais ativos e com maior poder aquisitivo, o tempo livre e o dinheiro são gastos com outras atividades. Turismo e educação são as áreas em que a população da terceira idade está mais propensa a gastar, segundo a pesquisa Idosos no Brasil, do Data Popular. O problema é que dos mais de 21 milhões de idosos brasileiros, apenas 4,6% vivem com alto padrão de vida.  

De acordo com o estudo da Serasa Experian, apenas um milhão de idosos têm elevada escolaridade, vive em áreas nobres e desfruta de carros de luxo. O percentual que reside em regiões pobres é mais que o dobro – 10,8% desse possui baixa renda e vive em condições precárias. 

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