Livres do vício

Dia mundial sem tabaco alerta para os riscos do tabagismo à saúde, estimulando abandonar o cigarro

Melhorar a qualidade de vida e economizar dinheiro são bons motivos para deixar o cigarro. Mas trilhar essa jornada não é fácil. Para alertar sobre os riscos do tabagismo e encorajar as pessoas a abandonarem esse vício, a Organização Mundial de Saúde (OMS) celebra, todos os anos, em 31 de maio, o Dia Mundial sem Tabaco. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) é o responsável por organizar diversas ações educativas junto ao Ministério da Saúde (MS), estados e municípios.

A preocupação com o tema é legítima, pois trata- -se de um dos maiores problemas de saúde pública. Para se ter uma ideia, no mundo, há 1,1 bilhão de fumantes. Tanto é que o tabagismo é considera do uma pandemia, responsável por 8 milhões de mortes/ano no mundo, sendo 7 milhões de óbitos decorrentes do uso direto de cigarro e 1,2 milhão de mortes de fumantes passivos, pessoas que não fumam, mas aspiram a fumaça do cigarro, segundo a OMS.

COMO FUNCIONAM OS ADESIVOS DE NICOTINA?

A nicotina leva entre sete e 19 segundos para chegar ao cérebro. É normal, portanto, que, ao parar de fumar, os primeiros dias sem cigarros sejam os mais difíceis, porém as dificuldades tendem a ser menores com o tempo. Um dos tratamentos recomendados para diminuir a abstinência é a administração da própria nicotina por meio de adesivo transdérmico. Ao contrário do cigarro, que promove um pico de alta concentração de nicotina no sangue e no cérebro, a nicotina presente no adesivo é liberada lentamente e se mantém estável ao longo do dia. De acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde (MS), o uso de adesivos de nicotina deve considerar:

• 1 mg de nicotina para cada cigarro fumado, não ultrapassando a dose de 42 mg/dia.
• Para quem fuma até cinco cigarros/dia: não é indicado o uso de adesivo, mas iniciar com goma ou pastilha.
• De seis a dez cigarros/dia: adesivo de 7 mg/dia.
• De 11 a 19 cigarros/dia: adesivo de 14 mg/dia.
• 20 ou mais cigarros/dia: adesivo de 21 mg/dia.
• Acima de 20 cigarros diários, é possível fazer o uso associado de adesivos.
• De 20 a 30 cigarros: adesivo de 21 mg e adesivo 7 mg/dia.
• De 30 a 40 cigarros combinar um adesivo de 21 mg com outro de 14 mg/dia.
• Acima de 40 cigarros: dois adesivos de 21 mg/dia.

Para iniciar o tratamento, é fundamental que o paciente entre em contato com o médico para iniciar o melhor protocolo para cada caso.

Fonte: farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti

No Brasil, os fumantes representam 9,1% da população; deste total, 11,8% são homens e 6,7% são mulheres, de acordo com informações de 2021 do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do MS.

“Sabemos que quase 164 mil pessoas morreram em 2022 no nosso País por causa de doenças relacionadas ao tabagismo, isso dá em torno de 444 mortes por dia”, diz a pneumologista, membro da comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e coordenadora do grupo de tratamento de Tabagismo do Hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Dra. Suzianne Lima.

MÚLTIPLOS RISCOS

O tabagismo é considerado uma doença crônica causada pela dependência química à nicotina presente no cigarro. A nicotina é uma substância psicoativa e atua no Sistema Nervoso Central (SNC), assim como outras drogas, a exemplo da cocaína, heroína e álcool. Ela chega rapidamente ao cérebro, liberando dopamina, substância que causa sensação de prazer, saciedade e plenitude. O cigarro contém também outras substâncias tóxicas e algumas comprovadamente cancerígenas.

“O fato de a fumaça do cigarro entrar de maneira muito aquecida causa reações químicas, alterações moleculares e celulares na via respiratória e no corpo”, explica a Dra. Suzianne.

Fumar pode provocar uma série de doenças que impactam principalmente o sistema respiratório, como Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) – que inclui bronquite e enfisema –, tuberculose e câncer de pulmão. O tabaco também tem ligação com as doenças cardiovasculares, como o Acidente Vascular Cerebral (AVC). Como a nicotina é vaso constritora, ela aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial.

Outros males podem ser desenvolvidos por conta do cigarro: doenças de pele; infertilidade; diabetes; glaucoma; lesões na mucosa oral; queda de cabelo; e envelhecimento precoce.

“As gestantes podem apresentar problemas, como descolamento de placenta, pode ocorrer malformação congênita do feto e ainda prejuízos na amamentação”, explica a Dra. Suzianne. Existe, ainda, um risco da associação do cigarro com trombose e anticoncepcionais, por exemplo, em relação às mulheres.

Além disso, o tabagismo diminui a imunidade de maneira geral. “As células de defesa diminuem, causando reações inflamatórias que levam a reações citotóxicas potencialmente cancerígenas no organismo”, diz a Dra. Suzianne.

Ela explica que fumar destrói estruturas de defesa chamadas cílios, que revestem as vias aéreas e “varrem” germes e poeiras. “Esses cílios são paralisados pela fumaça do cigarro. Portanto, essa ‘vassoura que varre a sujeira’, infelizmente, fica inexistente no paciente que fuma.” É por isso que fumantes estão mais expostos a infecções por vírus, bactérias e fungos, além de apresentarem com maior frequência sinusites, traqueobronquites, pneumonias e tuberculose.

TABAGISMO E COVID

O tabagismo amplia o risco de complicações de uma série de doenças preexistentes, como as cardiovasculares, as respiratórias e as alérgicas.

No caso da Covid-19 não é diferente. De acordo com o INCA, fumantes têm maior chance de desenvolver sintomas graves da doença porque pode haver o comprometimento da capacidade pulmonar. Ou seja, quando o Coronavírus acomete tabagistas, o impacto pode ser mais intenso e até levar à morte.

Outro ponto é que os fumantes estão mais vulneráveis à transmissão do Coronavírus, porque, ao fumar, há um contato constante dos dedos com os lábios ou então pelo uso compartilhado de narguilé e cigarros eletrônicos.

COMO PARAR DE FUMAR?

Segundo a Dra. Suzianne, o tratamento envolve o uso de adesivos, sprays, pastilhas ou gomas à base de nicotina que ajudam a diminuir os sintomas de abstinência do cigarro de maneira gradativa.

Também pode ser recomendado o cloridrato de bupropiona, um antidepressivo tricíclico que faz com que a dopamina seja liberada de maneira prolongada no cérebro, causando a sensação de prazer sem o paciente fumar.

Assim, um tratamento, que envolva uso da bupropiona, de adesivos ou gomas de nicotina e seja associado ao acompanhamento do paciente por um grupo de apoio para gerar a motivação para parar de fumar, tem até 70% de chance de sucesso, segundo a Dra. Suzianne. “O principal ponto do tratamento é a motivação do paciente”, afirma.

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Fonte e foto: Shutterstock e Guia da Farmácia 

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