A famosa queimação no estômago

As reclamações de desconforto no estômago ou ligadas à digestão são comuns e podem ser resolvidas com pequenas mudanças de hábito. Além disso, há medicamentos auxiliares

Ao imaginar um almoço de família ou amigos, não é difícil pensar nas pessoas que acabam reclamando de desconfortos por ter “comido demais”. Queimação, gases, vontade de ir ao banheiro e outros sintomas são característicos de problemas no aparelho gastrointestinal, tão constantes no dia a dia.

O aparelho é composto, basicamente, de um tubo que vai da boca ao ânus e, junto dele, os órgãos adjacentes que têm outras funções, além da digestão.

“As principais são receber, tratar e selecionar os alimentos, colocá-los de forma apropriada dentro do organismo e eliminar os resíduos não aproveitáveis”, diz o gastroenterologista do Hospital Sírio-Libanês, Dr. Mario Kondo.

Há, ainda, atividade de metabolismo, feita pelo fígado, e endócrina, feita por alguns órgãos, especialmente o pâncreas, que produz a insulina. Além disso, existe uma função de defesa que todo o aparelho realiza que é importante.

“Como são sintomas que, muitas vezes, não levam à gravidade, o paciente acaba não procurando o médico até que incomode demais ou tenha alguma associação com algo que chame mais atenção, quando começa a limitar a vida. Se é um sintoma esporádico, não procura ajuda”

“Conseguimos observar que, quando um paciente tem problemas graves no aparelho digestório, a imunidade dele geralmente é ruim. Talvez esse seja o mais complexo dos aparelhos de forma geral, exatamente pelo número de órgãos”, complementa o gastroenterologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Jaime Gil.

De acordo com ele, cerca de 20% a 30% da população brasileira sofre com refluxos gastroesofágicos e 10% a 15%, com gastrite. Nos Estados Unidos, aproximadamente, dez a 20 milhões de pacientes sofrem com a Síndrome do Intestino Irritável (SII). Mas esses números podem ser ainda maiores, já que muitas pessoas acabam não buscando um médico.

“Como são sintomas que, muitas vezes, não levam à gravidade, o paciente acaba não procurando o médico até que incomode demais ou tenha alguma associação com algo que chame mais atenção, quando começa a limitar a vida. Se é um sintoma esporádico, não procura ajuda”, revela o médico do Hospital Israelita Albert Einstein.

Entendendo cada um

O desconforto sentido no aparelho gastrointestinal pode ser classificado entre diferentes problemas, como azia, má digestão, prisão de ventre, gases, entre outros. O tratamento certo depende da identificação correta do que cada inconveniente traz ao paciente.

O refluxo gastroesofágico, por exemplo, ocorre quando o esfíncter (estrutura muscular que contorna um orifício ou canal natural, permitindo sua abertura ou fechamento) posicionado no interior do esôfago não fecha corretamente. A partir disso, o conteúdo do estômago volta ao esôfago, causando sensação de queimação no tórax ou garganta. Esse é o problema mais comumente chamado de azia.

De acordo com a gastroenterologista do Hospital Moriah, Dra. Nilma Ruffeil, o funcionamento irregular do intestino é chamado de constipação intestinal, também conhecida como prisão de ventre.

“A ‘normalidade’ de frequências de idas ao banheiro pode variar de três vezes ao dia até três vezes por semana, desde que isto seja o habitual para a pessoa e não cause nenhum desconforto”, explica.

O gastroenterologista do Hospital Sírio-Libanês resume os sintomas mais comuns citando os problemas ácidos, além de dores nos mais diversos pontos do abdômen, diarreia e constipação.

Segundo ele, os inconvenientes são provocados por maus hábitos alimentares, estresse e as doenças não previsíveis (congênitas, genéticas, adquiridas de agentes externos, envelhecimento e as de causas desconhecidas).

As particularidades podem atingir, por exemplo, um grupo específico. No caso da constipação intestinal, as mulheres costumam ser as mais atingidas. A gastroenterologista do Hospital Moriah explica que isso acontece por algumas alterações hormonais associadas à fase do ciclo menstrual, além do pudor do uso de banheiro fora de casa.

“Qualquer um de nós pode ter tanto um, quanto vários desses sintomas que, às vezes, podem não ser graves. Não é obrigatoriamente uma doença, pode ser algo pontual. Muito eventual, uma vez a cada três ou quatro meses, é algo pouco relevante”, frisa o Dr. Gil.

O alerta deve acender quando as queixas começam a ser frequentes ou outros sintomas mais graves aparecem. É o caso de sangramento que, mesmo que visto somente uma vez, deve ser investigado. Além da perda de peso, pioras dos sintomas e alterações dos hábitos usuais do paciente.

“Para evitar os problemas, é preciso que a pessoa tenha alimentação saudável e bons hábitos de vida, como não fumar, beber com moderação e evitar o estresse”, cita o Dr. Kondo. Essas pequenas mudanças no dia a dia são muito relevantes para que o paciente minimize ou deixe de sentir os desconfortos.

Os diferentes tipos de medicamentos

Os comprimidos, os efervescentes e as pastilhas são classificados como formas sólidas obtidas a partir da compressão de pós e granulados.

Efervescentes: se desintegram e dispersam quando em contato com a água, liberando dióxido de carbono (CO2). Podem ter ação local, como os antiácidos (bicarbonato de sódio) ou sistêmico, como os que contêm analgésicos como princípio ativo. O efeito é visualizado mais rapidamente por ser administrado já em solução.

Pastilhas: apresentam ação local por se dissolverem na cavidade bucal, enquanto os comprimidos, ação sistêmica e um efeito mais demorado pela necessidade de desintegração e dissolução, para, então, se ter a absorção e chegada do fármaco ao local de ação.

Líquidos: como as soluções orais e suspensões, possuem uma velocidade de absorção e efeito mais rápidos em comparação às formas sólidas.

Fonte: doutora em farmacologia de produtos naturais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e professora pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Dra. Camila de Albuquerque Montenegro

Como tratar

“Medicamentos líquidos e comprimidos também são recomendados para o alívio sintomático da hiperacidez estomacal, geralmente associada ao diagnóstico de úlcera péptica, gastrite, esofagite péptica e refluxo gastroesofágico (doenças com sintomas mais recorrentes)”, comenta a doutora em farmacologia de produtos naturais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e professora pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Dra. Camila de Albuquerque Montenegro.

Para aliviar a azia e a queimação em decorrência da hiperacidez gástrica – azia, queimação e má digestão –, são indicados os efervescentes e pastilhas. Os medicamentos promovem alívio dentro de poucos minutos, porém, sua duração é efêmera.

Passagem obrigatória

Edição 299 - 2017-10-23 Passagem obrigatória

Essa matéria faz parte da Edição 299 da Revista Guia da Farmácia.