Na Eurofarma, quase um terço dos novos produtos são resultados de inovação aberta

Companhia criou um fundo corporativo de venture capital para investir US$ 100 milhões em empresas inovadoras de biotecnologia

Praticamente um terço dos desenvolvimentos da farmacêutica Eurofarma advém de inovação aberta. A parceria com outras empresas para alavancar as receitas está no centro da estratégia da companhia — que pretende desembolsar US$ 100 milhões para isso — e já foi responsável por iniciativas que vão desde a criação de um aplicativo para ajudar pacientes com Parkinson até um banco de dados com informações de fenótipos da população brasileira para prevenção de doenças (com uma empresa ainda mantida em sigilo).

“Inovação é oxigênio. Na Eurofarma, ela está diretamente ligada à ideia de perenidade, pois somos uma empresa que pensa a longo prazo. A verdade é que não dá para ser diferente em um setor com ciclos longos”, diz Martha Penna, vice-presidente de Inovação da Eurofarma, que comanda uma equipe de 700 pessoas focadas em achar novas oportunidades dentro e fora da farmacêutica.

Segundo a executiva, a obsessão por inovar faz parte da história do negócio, que nasceu como um fabricante de medicamentos genéricos e se transformou em uma companhia que descobre moléculas e desenvolve os próprios produtos. Boa parte do portfólio é reconhecido por tratar distúrbios no sistema central. Foi essa busca por ajudar os pacientes que motivou a parceria com a agência criativa Dentsu no último ano. Juntas, as companhias desenvolveram uma inteligência artificial para auxiliar pessoas com Parkinson.

O “Scrolling Therapy”, lançado em abril de 2023, estimula os pacientes a fazerem exercícios faciais enquanto navegam nas redes sociais, e o reconhecimento do movimento do rosto se transforma em “curtidas”. Segundo Martha, 90% das pessoas acometidas pela doença sofrem de congelamento das expressões da face à medida que a enfermidade evolui. “Com 45 minutos por dia, a progressão da doença fica mais lenta. Cerca de 5 mil pessoas já estão usando o aplicativo na América Latina”, diz a executiva.

A aposta da companhia pela inovação está estampada nos números. Anualmente, a Eurofarma aporta R$ 600 milhões em pesquisa e desenvolvimento. E tem consciência que é fundamental ir além das fronteiras corporativas para ampliar os ganhos. Outros exemplos recentes de colaboração são uma parceria com a Ledcorp, que desenvolveu o banco de leite Lactare com IA para monitoramento dos processos de pasteurização, e com a Nexup Health, com quem a Eurofarma trabalhou para fazer um sistema de prescrição e prontuário para médicos no Uruguai.

As iniciativas devem se multiplicar, pois recentemente a companhia criou um fundo corporativo de venture capital para investir US$ 100 milhões em empresas inovadoras de biotecnologia, as startups conhecidas como biotechs. A ideia é achar parceiros para desenvolver soluções com ênfase em medicina de precisão, edição genética e inteligência artificial aplicada à descoberta de moléculas. Três empresas já estão trabalhando com a Eurofarma. Uma delas é a americana Abcuro, que desenvolve imunoterapias pioneiras para o tratamento de doenças autoimunes e câncer.

Cultura de intraempreendedorismo

Outra iniciativa é o programa de aceleração de startups, Synapsis, que em 2022 foi expandido para todos os países da América Latina. Ele é focado em startups que já tenham um produto validado e estejam em fase de tração e escala. O programa busca empresas com disposição para testar soluções por meio de um piloto remunerado, com possível alavancagem por meio do contato com informações e tendências no setor de saúde, coaching em áreas de negócio e acesso à rede de relacionamento da Eurofarma — que tem mais de 4 mil fornecedores, 1,5 mil clientes ativos (B2B) e cerca de 500 mil contatos médicos por mês. Além disso, há a chance de uma parceria de longo prazo com a farmacêutica.

No ano passado, a quinta edição do programa contou com 13 projetos e 12 startups, de nove países, abrangendo os setores industrial, operacional, regulatório, financeiro e banco de leite humano. Ao todo, desde o início do programa, em 2017, 66 startups já participaram, 59 projetos-piloto foram desenvolvidos e a empresa garantiu 29 contratos.

Segundo Rodrigo Fernandes Pereira, diretor de empreendedorismo digital da Eurofarma, a cultura colaborativa com ênfase em novos negócios já tem seis anos. “Lá atrás começamos a organizar a casa, atualizar processos, contratar pessoas, ajustar nossa cultura e governança, e mapear parceiros para acelerar a transformação digital. Inovação aberta requer processos mais ágeis e uma cultura de intraemprendedorismo”, diz.

O fato é que a Eurofarma quer ir além dos remédios. A empresa reforça que não vai abandonar as moléculas e diz que está trabalhando na qualidade de vida dos pacientes ao inserir a tecnologia neste contexto. “No final do dia, queremos que isso se torne uma linha de receita no médio prazo”, afirma o executivo.

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Fonte: Época Negócios

Foto: Eurofarma

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