Nos 100 anos de Brasil, Merck bate recordes e cresce em várias áreas

Gigante alemã do setor farmacêutico, com mais de 22 bilhões de faturamento global, completa 100 anos no País

Durante todo o ano, o executivo José Arnaud Coelhopresidente da Merck Brasil, dedicou parte da sua agenda para as comemorações de 100 anos da empresa no País. A subsidiária é hoje a sexta maior operação do grupo alemão no mundo, com 33% das vendas da divisão de healthcare (medicamentos) na América Latina e com uma das melhores performances de crescimento.

Mas em 16 de novembro ele parou tudo para celebrar um outro 100. Pela primeira vez na história, a Merck superou a marca de 100 milhões de caixas de medicamos produzidas em um único ano no Brasil. “É um número emblemático porque materializa o nosso desempenho recorde no mercado brasileiro”, afirmou Arnaud à DINHEIRO. “No ano do centenário estamos em nossa melhor forma e já olhando para os próximos 100”, disse.

Para exemplificar esse volume de produção: foram mais de 3 bilhões de comprimidos de metformina, medicamento indicado para diabetes e o carro-chefe da marca, o equivalente a três caixinhas produzidas por segundo.

Apesar dos recordes em 2023, a Merck tem crescido de forma consistentemente nos últimos anos no País. De janeiro a setembro cresceu cerca de 27% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto o mercado farmacêutico no Brasil cresceu cerca de 7,3% no mesmo período, segundo dados da consultoria IQVIA.

A Merck Brasil possui o medicamento mais prescrito e vendido em unidades do país, o Glifage, indicado para o tratamento da diabetes. Neste ano, a fábrica da empresa no Rio de Janeiro bateu recorde de produção graças aos fortes investimentos realizados nos últimos anos, definidos em R$ 280 milhões entre 2020 e 2025.

“Nossa capacidade de produção hoje tem condições de suprir a demanda do mercado até 2030, pelo menos”, afirmou Arnaud. “Estamos prontos para acelerar o crescimento e garantir com que o Brasil suba uma ou duas posições no ranking global da Merck nos próximos anos.”

Nem só de diabetes depende a Merck. A unidade de negócio de doenças cardiovasculares e metabólicas disparou 26% nos primeiros nove meses deste ano em comparação ao mesmo período de 2022.

Na área de oncologia, o crescimento chegou a 15% no mesmo período. O resultado, segundo Arnaud, se deve aos recentes lançamentos, Bavencio (avelumabe), para câncer de bexiga, e Tepmetko (tepotinibe), uma nova terapia direcionada para câncer de pulmão de células não pequenas.

Essas frentes de negócios chamaram a atenção, mas não chegaram perto das áreas de neurologia e imunologia, que alcançaram alta de 106% de janeiro a setembro. O presidente justifica esse crescimento à forte ampliação no mercado privado de Mavenclad em esclerose múltipla, terapia que logo deve entrar para o rol do Sistema Único de Saúde (SUS).

O medicamento recebeu recomendação favorável do Ministério da Saúde, publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 31 de outubro. “Quando estiver disponível no SUS, o percentual de crescimento vai se multiplicar de novo”, disse Arnaud.

Em paralelo a essas estratégias, neste ano a Merck entrou no promissor mercado de combate a obesidade com o lançamento de Contrave (cloridrato de naltrexona 8mg e cloridrato de bupropiona 90mg). É nesse segmento que tem brilhado no mundo todo o Ozempic, do laboratório dinamarquês Novo Nordisk.

Patenteado, o medicamento é voltado para o controle da diabetes tipo 2, mas é hoje muito consumido como inibidor de apetite. Neste ano, a empresa faturou mais de R$ 3,7 bilhões só no Brasil. No mundo, o Ozempic ajudou a Novo Nordisk a se tornar a mais valiosa da Europa neste ano, ao ultrapassar o conglomerado de luxo LVMH (dona da Louis Vuitton).

No final de setembro, a farmacêutica fechou avaliada em US$ 431 bilhões, enquanto a gigante do luxo encerrou a US$ 408,9 bilhões. É mais do que o PIB da Dinamarca, estimado em US$ 395 bilhões.

Oportunidades

Por essa razão, a Merck parece estar olhando com muita atenção ao segmento. Segundo Arnaud, a empresa espera alcançar a liderança em unidades e valores entre os medicamentos orais nos próximos três anos, atingindo cerca de 200 mil pacientes no período. “Até 2030, a meta da empresa é tratar mais de um milhão de pessoas com a nova terapia.”

Para sustentar essa expansão, a Merck pretende acelerar seus lançamentos. Nos últimos anos, a companhia obteve 12 novas aprovações regulatórias no Brasil. Isso significa novas indicações ou novos produtos.

O plano é ter mais duas aprovações de terapias de primeira linha nos próximos anos:
• evobrutinibe, para esclerose múltipla,
• e xevinapante, para tratamento de cabeça e câncer no pescoço.

Outra aposta da Merck é a expansão do Programa Farmácia Popular do País, uma das promessas de campanha do presidente Lula para ampliar o atendimento em saúde. A Merck é parceira do governo federal no programa, com fornecimento de medicamentos principalmente para diabeteshipertensão e dislipidemia.

O programa oferece medicamentos gratuitos ou com descontos de até 90%, por meio de farmácias e drogarias conveniadas, e atende mais de 21 milhões de usuários, em mais de 3 mil municípios do Brasil.

A empresa também atua em parceria com a Bionovis, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fiocruz (Bio-Manguinhos) na transferência de tecnologia de Rebif e a nacionalização betainterferona para o tratamento da esclerose múltipla.

Em 2018, teve início a distribuição gratuita do medicamento pelo SUS em embalagem do Bio-Manguinhos. Hoje, ele também pode ser indicado no tratamento de mulheres durante a gestação e a lactação. Tudo para nutrir os negócios por mais 100 anos.

Entrevista: José Arnaud Coelho, presidente da Merck Brasil

Por que esses resultados da Merck são importantes?
Por várias razões. Esse é o melhor resultado nos últimos 30 anos, realmente impressionante dentro da nossa companhia. Um crescimento muito acima dos níveis de mercado. A Merck no Brasil foi a primeira subsidiária na América Latina, antes de México, Argentina e outros países vizinhos. Hoje somos a maior operação da América Latina, responsáveis por 33% do faturamento da região dentro dos negócios de healthcare. E somos a sexta subsidiária em nível global. Além disso, o Brasil tem todo potencial para conquistar uma ou duas posições no ranking global da Merck nos próximos anos.

Como crescer e conquistar novos clientes se medicamento não é um item opcional de consumo?
Em primeiro lugar, vem de um plano de expansão da nossa planta no Rio de Janeiro. A fábrica é basicamente dedicada para o mercado nacional. Definimos um plano de investimento de R$ 280 milhões até 2025 para ampliar a capacidade de produção. Com essa ampliação, conseguimos chegar a um novo recorde de produção do Glyphage XR, uma metformina e o produto número um no Brasil. Conseguimos vencer a barreira dos 100 milhões de caixas produzidas, um crescimento de 17%.

A demanda cresceu?
Sim. Hoje ainda nós temos 5 milhões de pacientes diabéticos diagnosticados que não são tratados adequadamente com os portadores da doença. Então, ainda se exige um grande grau de conscientização, de educação médica contínua, de diagnóstico no Brasil para o diabetes. A metformina é um produto básico, mas de uma eficácia enorme na maioria dos casos de diabetes.

O plano é ampliar a indicação do medicamento de diabetes para uso estético, como é o caso do Ozempic?
Não, não tem como saber, seria off-label. Mas como nós temos o produto mais prescrito no Brasil, e uma relação com a classe médica há mais de 20 anos, acho que deve continuar crescendo em diabetes mesmo. O Brasil é um dos países com maior índice de diabetes do mundo. Ainda existe muita oportunidade.

O potencial do Brasil é maior?
Com certeza. O Brasil, dentro da América Latina, é a grande locomotiva. Claro que para se destacar em relação aos outros, temos que combinar com os russos, como dizia Garrincha. Mas, sem dúvida, o potencial é imenso, tanto na rede privada quanto no sistema público.

Merck entra no mercado de medicamentos para obesidade no Brasil

Fonte: IstoÉ Dinheiro

Foto: Divulgação

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