95% das meninas afirmam que a pandemia afetou suas vidas de forma negativa
De acordo com a pesquisa Vidas Interrompidas: O Impacto da COVID-19 na vida de Meninas e Jovens Mulheres, a ansiedade é o principal consequência da pandemia que comete nove a cada dez meninas no mundo.
O levantamento, que é o mais extenso deste tipo com foco no impacto da pandemia sobre as meninas, ouviu 7 mil jovens em 14 países, incluindo o Brasil, e foi realizado pela Plan International, organização humanitária de direitos de crianças e adolescentes.
As meninas eram de: Austrália, Brasil, Egito, Equador, Espanha, Estados Unidos, Etiópia, França, Gana, Índia, Moçambique, Nicarágua, Vietnã e Zâmbia.
Para as entrevistadas, com idades entre 15 e 19 anos, os medos mais prevalentes dizem respeito à sua própria saúde (33%) e ao bem-estar de suas famílias (40%).
Desse modo, quase um terço delas (26%) estava preocupada com a perda de renda familiar devido à pandemia.
Todavia, o Brasil foi um dos países onde as meninas afirmaram sofrer com mais ansiedade.
Dados da pesquisa
A pesquisa mostra, então, os desafios complexos que as meninas estão enfrentando, que vão desde o impacto em sua educação até sua capacidade de sair de casa e socializar.
- 62% das meninas entrevistadas disseram que estavam tendo dificuldades por não poderem ir à escola ou à universidade;
- Mais da metade (58%) das meninas está sentindo os efeitos negativos de não poder sair de casa normalmente;
- Outros 58% destacaram o fato de não poderem encontrar as amigas como uma consequência negativa da pandemia.
Ansiedade: um dos maiores feitos colaterais da pandemia
“A Pesquisa trouxe, dessa maneira, importantes informações a respeito dos efeitos colaterais na vida das meninas e jovens mulheres durante a pandemia. É essencial que disseminemos estes resultados e possamos criar ações que minimizem estes impactos, convidando meninas e mulheres para construírem as soluções”, afirma a Diretora-executiva da Plan International Brasil, Cynthia Betti.
“Precisamos diminuir a exclusão digital, considerar o acesso a direitos sexuais e direitos reprodutivos como serviços essenciais que não podem ser descontinuados, nem durante uma pandemia, assim como serviços de proteção contra a violência baseada em gênero.
Também precisamos fornecer apoio psicológico e cuidar do retorno destas meninas e adolescentes à escola, combatendo a enorme evasão que estamos prevendo. Assim, escutamos as vozes de mais de 7 mil meninas em 14 países. Agora é nossa vez de agir, com elas e para elas”, complementa.
Divulgação da pesquisa
O lançamento oficial da pesquisa ocorre em paralelo à Assembleia Geral das Nações Unidas, em um evento on-line hoje, 23 de setembro.
Este diálogo trará uma oportunidade para as meninas destacarem suas principais demandas na resposta à COVID-19.
E, também, para que líderes mundiais possam ouvir e responder a isso.
“A pesquisa é um alerta para que os governos reconheçam que as emergências de saúde afetam os grupos de formas diferentes e o impacto potencialmente devastador das consequências disso a longo prazo, que serão sofridas pelas meninas.
Para as meninas, os riscos de ficar em casa são maiores.
Esta situação afeta, todavia, a sua saúde mental e as coloca em risco de violência doméstica”, afirma Anne-Birgitte Albrectsen, CEO da Plan International.
“Por causa das normas sociais patriarcais, que ditam que as meninas devem assumir a grande maioria do trabalho doméstico não remunerado, existe uma ameaça real de que elas sejam obrigadas a abandonar a escola e que fiquem sem estudar”, complementa.
Tristes consequências
Em todo o mundo, os crescentes encargos financeiros e o aumento da pobreza colocaram uma grande pressão sobre a renda familiar.
Isto é, com meninas e mulheres no trabalho informal aguentando os impactos da desaceleração da economia global.
Para Isobel Fergus, Gerente de Pesquisa da Plan International, meninas e jovens mulheres estão aguentando uma carga econômica, doméstica e emocional maior durante a pandemia, trabalhando mais do que nunca.
“Todos estes são componentes cruciais para o desenvolvimento acadêmico, social e pessoal de uma pessoa jovem”, diz Isobel.
A visão das brasileiras
“Alguns dos meus amigos e amigas sugeriram sites para me ajudar nos estudos, mas não tive nenhum resultado e nem sempre tenho um acesso bom à internet. A verdade é que também estou muito desanimada”, diz Deborah, de 18 anos, que está pensando em abandonar a escola por causa da pandemia. Ela vive no Piauí.
“Não é fácil lidar com a saúde mental durante a pandemia. Gosto muito de me comunicar e de sair de casa. Tenho usado técnicas de respiração e também passei a cozinhar mais. Agora estou fazendo sessões de terapia on-line, mas sinto falta do abraço e de olhar para o rosto das pessoas pessoalmente”, diz Daniele, de 20 anos, que mora em São Paulo.
A visão das meninas pelo mundo
“Minha preocupação é como posso evitar que o coronavírus afete a mim e a minha família. Passo o dia inteiro em casa. Eu não gosto de ficar aqui, porque sou a única que faz todo o trabalho domésticor”, diz Emma, de 14 anos, de Gana.
Para Deolinda, de 19 anos, de Moçambique, o isolamento social com lockdown, e não apenas o vírus, teve maior impacto sobre ela e sua família.
“Nos disseram que, para evitar a infecção por COVID-19 devemos ficar em casa e não ir à escola ou ao trabalho. Isso torna as coisas muito difíceis para mim, porque eu conto com pequenos trabalhos por aqui. É assim que sustento minha família”.
Proteção aos vulneráveis
A Plan International está levantando 100 milhões de euros para proteger algumas das crianças mais vulneráveis do mundo e suas comunidades dos impactos da COVID-19.
A resposta da Plan International, em mais de 50 países, está focada na assistência às crianças – particularmente para as meninas.
A organização está convocando as autoridades globais, regionais e nacionais para garantir que os planos de resposta à COVID-19.
E, todavia, que levem em consideração os desafios únicos enfrentados pelas meninas por causa de sua idade e gênero.
A organização também pede às autoridades que não desprezem a saúde sexual e reprodutiva e o acesso aos direitos e que façam da proteção de todas as crianças e mulheres contra qualquer forma de violência de gênero uma prioridade.
Foto: Shutterstock
Fonte: ONG Plan International