Covid levou a farmácia a se ressignificar

Agora farmácia não é apenas um lugar de comprar remédios, mas de cuidar da saúde, como na época da pademia do covid

Foi em meados de 2018 que o grupo Raia Drogasil, com suas 2.870 farmácias e mais de 56 mil funcionários em todo o País, começou a ampliar os chamados “serviços farmacêuticos” – um atendimento diversificado que incluía vacinar, medir pressão, fazer testes de glicemia, H1N2, bioimpedância e criar uma forte relação digital com o consumidor, atendendo por telefone e entregando em casa. Pouco a ver com a antiga rotina de, simplesmente, vender remédios.

A explosão Do Covid, que chegou pouco depois, intensificou esse processo. “Fizemos mais de nove milhões de testes de covid durante a pandemia”, revela o presidente do grupo RD, Marcilio Pousada. “E hoje 16% das vendas do grupo vêm dos aplicativos digitais.” Administrador pela Faap, tendo passado por empresas como Submarino e Walmart, Pousada foi se tornando um expert em varejo e em 2013 trocou um cargo de CEO da Livraria Saraiva pelo comando do Grupo Raia Drogasil, hoje presente em 590 cidades brasileiras. Aos poucos, ele consolidou uma rede que vem abrindo pelo País 260 novas filiais por ano, uma a cada dia útil. “Depois da pandemia”, resume ele nesta conversa com Cenários, “o que ficou para a gente foi essa ressignificação da farmácia”, que ainda incorporou os chamados dermocosméticos. Tudo caminhando para um “hub de saúde”, que será a “farmácia do futuro”. A seguir, os principais trechos da conversa.

De que modo a pandemia afetou as rotinas do grupo Raia Drogasil?

Primeiro, mudamos completamente o mix de venda, para atender às necessidades dos clientes durante o Covid. Já vínhamos desde 2018 trabalhando com serviços farmacêuticos e a pandemia acelerou esse processo. Fizemos no grupo RD mais de nove milhões de testes de Covid. Hoje, das 2.870 farmácias que temos no País, 1.900 oferecem esses serviços – como medição de pressão, testes de glicemia, H1N2, Covid, além de bioimpedância. A população foi aprendendo a usar a farmácia para preservar a saúde.

E o consumidor? Ele também foi mudando?

Ele passou a ter uma preocupação maior com a prevenção. Sempre tivemos máscara na farmácia e nunca vendemos bem. Mas com a covid a demanda explodiu. As pessoas aprenderam a usar máscara quando estão com sintomas de gripe, por exemplo. Para nós, ficou esse ressignificado da farmácia, uma nova farmácia que remete ao passado, quando o farmacêutico atendia o paciente com uma relação de fidelidade.

Acredita que essa será a farmácia do futuro?

Sim, e cada vez mais digital, com esse perfil de hub da saúde, com foco em treinamento dos funcionários. Por exemplo, não contratamos um gerente de fora, ele começa como atendente de farmácia e vai sendo formado até virar gerente. E criamos um treinamento chamado Coach de Saúde, para influenciar o cliente para que seja mais saudável.

A taxa de rotatividade no varejo costuma ser grande. Existe uma carência de farmácias no Brasil?

Não, o País tem quase 90 mil farmácias. Na Associação Brasileiras das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), da qual participamos, estão organizadas as grandes redes, cerca de 10 mil farmácias. O resto são redes pequenas ou independentes. Dos 5.700 municípios, estamos em 590.

Vocês trabalham com produtos que têm prazo de validade. Como a logística resolve isso?

Existe uma grande complexidade no nosso segmento no que diz respeito à administração do capital de giro, dos estoques. Temos 14 Centros de Distribuição (CDs) distribuindo produtos para as farmácias, 80% delas recebem um caminhãozinho todos os dias com reposição do que foi vendido no dia anterior. Não podemos trabalhar com muito estoque por conta dos prazos de validade, que variam de seis meses a dois anos.

A sustentabilidade está no horizonte do grupo?

Em maio de 2020 lançamos um manifesto chamado Todo Cuidado Conta, com 35 metas para um planeta e uma sociedade mais saudável. Já entramos no ISE, o Índice de Sustentabilidade da B3. Também temos uma política de diversidade que reflete a sociedade no nosso quadro de funcionários. E trabalhamos para reduzir nossa pegada de carbono, na forma como consumimos energia e na relação com fornecedores.

Estão emitindo créditos de carbono, ou comprando?

Ainda somos carbono negativos. Temos uma um problema de distribuição e estamos atuando para reduzir a emissão de carbono. Diferente de uma indústria, onde a emissão está concentrada, a nossa cadeia está espalhada por todo o País. Um dos objetivos é ser net zero (sem emissões), mas ainda não é agora.

Como a RD se vê daqui a cinco anos?

Em 2028 estaremos em um novo patamar. Temos dois pilares, um é a criação desse conceito de uma nova farmácia – digitalizada e funcionando como um hub de saúde. O outro pilar é criar uma plataforma de saúde digitalizada, com todos os dados dos clientes, ajudá-lo a ter uma saúde primária de qualidade. Nosso propósito é ter uma empresa que contribua para uma sociedade mais saudável no futuro.

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Fonte: Terra

Foto: Shutterstock

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