Desconforto no dia a dia

A sensação de pernas cansadas por ser o indicativo para problemas mais sérios, como a insuficiência venosa crônica. O diagnóstico precoce e as ações de prevenção são importantes para devolver qualidade de vida ao paciente.

Queixa comum nos consultórios médicos, a sensação de cansaço nas pernas tem como causa mais frequente a dificuldade no retorno venoso devido ao indivíduo permanecer em pé ou sentado com os pés para baixo por muito tempo.

“Isso dificulta o sangue venoso retornar pelas veias das pernas e seu represamento causa a sensação de peso e cansaço nas pernas. A fadiga muscular também é uma causa, mas demanda um tempo maior para se manifestar”, explica o cirurgião vascular, especialista em angiologia e membro titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), Dr. Márcio Steinbruch.

Segundo ele, em geral, as mulheres são mais suscetíveis ao problema. “Existem três mulheres para cada homem com problemas de retorno venoso das pernas. Isso se deve ao fato do hormônio feminino ser vasodilatador e piorar o represamento do sangue venoso. A gravidez, anticoncepcionais, salto alto, reposição hormonal etc. fazem com que as mulheres sejam mais suscetíveis. Outra causa é a genética e, neste caso, nem mesmo os homes escapam”, diz.

Pensando em causas vasculares, a mais comum e frequentemente observada em consultório é a Insuficiência Venosa Crônica (IVC), que habitualmente vem representada pelas varizes ou doença varicosa de membros inferiores.

“Inúmeros fatores estão diretamente relaciona[1]dos à formação das varizes e, consequentemente, aos sintomas que elas causam. O primeiro deles é claramente genético. A característica hereditária é um dos principais fatores para a doença varicosa. Além disso, obesidade, sedentarismo e gestação costumam acelerar o seu desenvolvimento, além de aumentar também a gravidade dos sintomas”, alerta o angiologista, cirurgião vascular e secretário da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), Dr. Júlio César Gomes Giusti.

Segundo ele, a IVC nada mais é do que o funcionamento inadequado das válvulas venosas, presentes dentro da circulação venosa, de característica não reversível. “Observando do ponto de vista prático, a IVC costuma gerar, além dos sintomas previamente comentados, o aumento de varizes em membros inferiores. Essa incompetência venosa gera, consequentemente, aumento da pressão venosa no membro e dilatação/tortuosidades das estruturas venosas (varicosidades)”, explica.

CINCO ORIENTAÇÕES SOBRE O USO DE MEIAS DE COMPRESSÃO
  1. As meias de compressão devem ser usadas na vigência de doenças venosas dos membros inferiores.
  2. Elas auxiliam no bombeamento do retorno venoso, diminuem a formação de inchaço, melhoram os sintomas e previnem complicações.
  3. Devem ser usadas preventivamente em indivíduos normais em situação de imobilidade com os pés para baixo, por exemplo, muito tempo em pé ou sentado (profissões que as exigem), viagens longas de avião, entre outras.
  4. As meias têm compressão adequada para cada usuário. Portanto, o tamanho e altura dependem do indivíduo e só quem deve prescrevê-las é o cirurgião vascular.
  5. O uso inadequado pode causar lesões na pele e na própria circulação se estiver muito apertada.

Fonte: cirurgião vascular, especialista em angiologia e membro titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Dr. Márcio Steinbruch

FATORES DE RISCO

O cirurgião vascular e angiologista com doutorado em Cirurgia Vascular na Divisão de Bioengenharia do InCor-HCFMUSP, Dr. Álvaro Pereira, diz que as varizes crônicas são encontradas em todos os povos e raças.

“Nos países mais quentes, há uma piora da evolução da doença, mas a distribuição estatística é a mesma. Altitude e umidade do ar também são fatores que podem melhorar ou piorar estes quadros”, explica.

Segundo ele, além do cansaço, é possível observar um quadro de inchaço (edema) das pernas, que piora no fim do dia. “Ao deitar, o quadro pode ser atenuado. Com o tempo, a sensação de dor e peso passa a ser acompanhada pelo edema e até alterações da pele, como escurecimento da derme e mudanças das características da pele, que se torna mais ressecada, endurecida, fibrosada e com até a possibilidade de ulcerações de varizes em fases mais avançadas”, diz.

A doença venosa constitui grave problema de saúde pública, não só por sua alta prevalência, mas por seu impacto socioeconômico. “Atinge cerca de 20% da população adulta em países ocidentais, com 3,6% de casos de úlcera ativa ou cicatrizada na população adulta; é, segundo dados oficiais no Brasil, a 14ª causa de afastamento temporário do trabalho. Só em um ano, foram 61 mil internações em hospitais públicos e conveniados, sendo que dessas, 13 mil internações foram devidas a úlceras abertas”, conta o Dr. Steinbruch.

QUALIDADE DE VIDA EM RISCO

Tanto a sensação de cansado nas pernas como a IVC propriamente dita, ou outra alteração venosa nos membros inferiores, causam impactos na rotina dos acometidos, especialmente do ponto de vista social, no trabalho e na qualidade de vida.

“A sensação de dor e peso são marcantes, de acordo com a atividade física de cada pessoa. Exemplo: quem trabalha em pé num ambiente quente e não se movimenta muito, como uma cozinheira. Os sintomas aumentam ao longo do dia e quanto mais tempo ficar em pé é pior. O edema fica bastante significativo e quando há inchaço em excesso, além da água, saem proteínas e outras substâncias que não poderiam sair dos vasos e o quadro piora substancialmente”, adverte o Dr. Pereira.

Sabe-se que a evolução da doença venosa reduz, significativamente, a qualidade de vida das pessoas, a ponto de ser considerada uma doença importante na análise de Saúde Pública, pois sua forma avança[1]da gera custos significativos para o Estado, e afasta o trabalhador das atividades laborativas. “Ademais, os sintomas costumam ser progressivos quando a doença não é tratada, dificultando cada vez mais o convívio com o desconforto”, diz o Dr. Giusti.

PREVENÇÃO E TRATAMENTO

Tanto a sensação de cansado nas pernas como a IVC propriamente dita, ou outra alteração venosa nos membros inferiores, causam impactos na rotina dos acometidos, especialmente do ponto de vista social, no trabalho e na qualidade de vida.

Evitar ganho de peso excessivo, fazer atividade física e fugir do sedentarismo são os melhores meios de não sofrer com a doença. Segundo o Dr. Giusti, mudar o estilo de vida, corrigir o peso e aumentar o movimento são fundamentais, tanto como prevenção enquanto tratamento.

“A depender das atividades diárias, o uso de meia elástica pode auxiliar na prevenção e na redução dos sintomas. Alguns medicamentos como, por exemplo, aqueles de composição fitoterápica, como a castanha-da-índia, ou ainda a Diosmina + Hesperidina (ou suas variações), podem auxiliar também na redução da sintomatologia”, diz

Os tratamentos clínicos aliviam sintomas, previnem complicações e diminuem a evolução do problema. “Podem ser medicamentosos, com o uso de flebotônicas, e/ou por compressão mecânica, por meio de meia elástica. A droga que é mais usada é extraída da casca da laranja. É purificada e muito utilizada no controle dos sinais e sintomas da IVC”, comenta o Dr. Steinbruch, acrescentando que cremes e loções de uso tópico apenas contribuem para a refrescância das regiões mais sintomáticas.

Foto: Shutterstock e Guia da Farmácia

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