Entidades orientam sobre doenças ligadas a desastres climáticos

Sociedade Brasileira de Infectologia e Sociedade Gaúcha de Infectologia criam guia sobre doenças como leptospirose, cólera e hepatite A

A tragédia climática no Rio Grande do Sul já contabiliza a segunda morte por leptospirose, além de 304 casos suspeitos da doença e 19 confirmados, de acordo com os últimos dados divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). Além da leptospirose, contudo, especialistas alertam sobre o aumento de incidência de outras doenças devido às inundações.

Diante desse cenário, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI) elaboraram um guia de manejo de infecções relacionadas a desastres climáticos.

O objetivo é fornecer orientações aos profissionais de saúde para minimizar os impactos das inundações na saúde das pessoas que vivem em áreas afetadas, que, inevitavelmente, podem entrar em contato com águas contaminadas ou enfrentar um aumento na disseminação de doenças, especialmente em ambientes como abrigos, onde há uma grande concentração de pessoas.

Ao todo, foram listados 26 tipos de riscos e doenças que podem ter seus índices aumentados em cenários como o vivenciado pelo Estado gaúcho. Entre elas estão, por exemplo, cólera, febre amarela, hepatite A, leptospirose, difteria, dengue e diarreia aguda.

Confira algumas das orientações destacadas no documento elaborado pelas entidades médicas. Para acessar o guia completo, basta clicar aqui. Vale lembrar que o paciente deve procurar um profissional de saúde ao observar os sintomas.

Cólera

A cólera é uma infecção bacteriana causada pelo Vibrio cholerae e tem a diarreia como seu principal sintoma. Essa condição pode levar à desidratação grave e, se não tratada adequadamente, pode levar a óbito.

A transmissão da cólera ocorre por via fecal-oral, ou seja, pelo contato de fezes com a boca por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados. Além disso, pode ser transmitida de pessoa para pessoa (contato boca-ânus, como em relações sexuais desprotegidas ou quando uma mãe limpa o filho e, de forma despercebida, leva a mão à boca antes de lavá-la).

O período de incubação da doença varia de 12 horas a 5 dias, mas para fins de investigações epidemiológicas, é considerado um período padrão de dez dias. Em situações de enchentes, o risco de surtos de cólera aumenta significativamente devido à contaminação de fontes de água e alimentos.

Sintomas

A cólera pode ser assintomática ou apresentar sintomas leves em alguns casos. No entanto, os casos graves podem evoluir rapidamente. As manifestações clínicas podem incluir:

  • Diarreia aquosa abundante e incontrolável, sem presença de sangue;
  • Náuseas e vômitos;
  • Cãibras musculares;
  • Desidratação, que pode se manifestar como boca seca, sede intensa, pele seca e enrugada;
  • Letargia
  • Desmaios

Em casos graves, pode ocorrer choque hipovolêmico (ocorrência emergencial causada pela perda, em grande quantidade, de líquidos e sangue)

Orientações

Em casos suspeitos, a notificação deve ser feita em até 24 horas à vigilância epidemiológica.

A cólera pode levar à desidratação rápida e severa, portanto, o tratamento imediato é crucial. Por isso, a reidratação é a chave para o tratamento e deve ser iniciada o mais rápido possível, mesmo antes da confirmação do diagnóstico.

Doenças diarreicas agudas

As doenças diarreicas agudas (DDA) se configuram como um grupo de doenças infecciosas gastrointestinais, caracterizadas por uma síndrome com presença de diarreia, com aumento do número de evacuações (mínimo de 3 episódios em 24 horas), podendo ou não ser acompanhada da presença de sangue e muco nas fezes (disenteria).

Sintomas

Além dos quadros de diarreia, os sintomas das DDA, que geralmente aparecem de 1 a 8 dias após a infecção, podem incluir:

  • Dor abdominal
  • Febre
  • Náusea
  • Vômitos

Orientações

Caso seja diagnosticado com o problema, o paciente deve receber tratamento de suporte, incluindo hidratação oral ou intravenosa e dieta leve.

O tratamento com antibiótico, por exemplo, é reservado para casos de disenteria e comprometimento do estado geral do paciente. Já o uso de antidiarréicos é contraindicados.

Remédios para prevenir náuseas e vômitos devem ser prescritos apenas se o paciente apresentar esses sintomas para evitar possíveis problemas hepáticos e dificuldades para ingestão de soros voltados à hidratação.

Leptospirose

A leptospirose é uma doença infecciosa provocada pela bactéria do gênero Leptospira, geralmente adquirida através do contato com água ou solo contaminados pela urina de animais infectados, principalmente ratos. Dessa forma, enchentes são reconhecidas como ambientes propícios para a disseminação da doença, elevando o risco para aqueles expostos às águas.

Sintomas

As manifestações clínicas variam desde formas assintomáticas até quadros graves. Os sintomas podem se manifestar de 2 a 30 dias após a infecção. Portanto, é necessário estar atento ao sinais após todo esse período.

Fase inicial: febre alta, náuseas, vômitos, conjuntivite, sangramentos (petéquias, epistaxe, hemorragia conjuntival, gengivorragia), exantema, hepatoesplenomegalia (aumento do fígado e do baço)

Fase imune com leptospirúria: aumento da febre, insuficiência respiratória, síndrome do desconforto respiratório agudo, hemorragia pulmonar, insuficiência renal aguda, etc.

Quadro clínico das formas graves: Síndrome de Weil, disfunções orgânicas, como disfunção hepática com icterícia, falência renal, síndrome do desconforto respiratório agudo, falência cardíaca, etc.

Sinais clínicos de alerta (indicada internação hospitalar)

  • Tosse, dispneia, taquipneia, escarros
  • Alterações urinárias
  • Fenômenos hemorrágicos
  • Hipotensão
  • Alterações do nível de consciência
  • Vômitos frequentes
  • Arritmias
  • Icterícia

Orientações

Embora o uso de antimicrobianos não seja recomendado como conduta de rotina, a nota ressalta que em situações de alto risco, onde há exposição contínua a alagamentos e águas contaminadas, com ou sem lesões na pele, essa intervenção pode ser considerada.

As entidades responsáveis pelo documento recomendam o uso de doxiciclina, administrada em dose única para adultos em pós-exposição de alto risco. Para crianças, a dose é calculada com base no peso corporal, com dose máxima estabelecida. Como alternativa, a azitromicina pode ser utilizada nas mesmas condições.

É importante frisar que a profilaxia deve ser feita apenas com orientação médica. Além disso, ela não oferece uma proteção absoluta contra a leptospirose, e mesmo aqueles que fazem uso dos medicamentos recomendados ainda podem contrair a doença. Além disso, gestantes e lactantes não devem utilizar doxiciclina como medida preventiva.

Fonte: Estadão

Foto: Shutterstock

Leia mais

Conheça os riscos do contato com a água de chuva ou enchente

Deixe um comentário