A força dos genéricos

Importante não apenas para as farmácias, mas também para o mercado de saúde, o medicamento genérico contribui para a transformação do mercado farmacêutico no Brasil e no mundo

Consistente e consolidada. Assim é a categoria de medicamentos genéricos no Brasil. Criado em 1999, com a promulgação da Lei 9.787, o Programa de Medicamentos Genéricos ampliou o acesso da população a tratamentos medicamentosos no País. Isso porque os preços dos genéricos chegam a ser, no mínimo, 35% menores do que os medicamentos de marca.

“O genérico não é importante só para a farmácia. Ele é importante para o mercado de saúde, já que trouxe acesso à população, principalmente a menos favorecida, sendo que tem a característica de ser um produto mais acessível no ponto de vista de custo”, comenta o presidente da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar) e da Farmarcas, Edison Tamascia.

Segundo Tamascia, o mercado de genéricos vem crescendo e deve continuar. “O genérico já tem 22 anos de existência no Brasil e tem uma representatividade muito relevante. Quando se olha do ponto de vista de unidades vendidas, está próximo de 40% das vendas dos medicamentos, o que é muito relevante.”

O genérico é uma realidade no mundo inteiro, não só no Brasil, e tem uma grande contribuição na transformação da estrutura do mercado farmacêutico nacional.

“Quando se olha para o ano 2000, das 20 maiores indústrias farmacêuticas, 16 eram multinacionais e quatro nacionais. Vinte anos depois, temos 13 nacionais e sete multinacionais, ou seja, o genérico trouxe uma prosperidade da empresa nacional, capaz de produzir e fazer um produto de qualidade, provando sua eficiência”, fala Tamascia.

Segundo o executivo da Febrafar, para a farmácia também não é diferente. “O fato de trazer mais acesso, leva mais pessoas para o mercado, mais lojas são abertas e isso ajuda a sociedade como um todo, contribuindo para o crescimento que se tem apresentado. Não é à toa que quando se olha para o mercado farmacêutico de 2002 até hoje, vemos um crescimento acima de 10 dígitos; se olharmos os últimos cinco anos, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu zero e o varejo farmacêutico 40%, tendo uma contribuição de genéricos”, avalia.

Atenção aos preços

Tamascia conta que, de acordo com a 5a edição da Pesquisa sobre o Comportamento do Consumidor em Farmácias no Brasil, realizada pelo Instituto Febrafar de Pesquisa e Educação Corporativa (IFEPEC), em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2022, o consumidor está mais atento para economizar em compras nas farmácias, assim, o genérico tem um papel primordial.

Para o levantamento, foram entrevistados 4 mil consumidores em todo o País e, entre os destaques, está uma mudança no perfil em relação aos outros anos: mais consumidores afirmam que o preço foi o principal fator para a escolha da farmácia, atingindo 79,9% dos entrevistados. No ano anterior, esse número era de 75,4%.

“Uma novidade na atual pesquisa é que foi avaliado o grau de confiança dos entrevistados nos produtos genéricos. Com isso, observou-se que esse tipo de produto já caiu na preferência dos pesquisados, sendo que somente 3,3% afirmaram ter um nível de confiança ainda baixo”, revela Tamascia.

Segundo dados da Febrafar, os medicamentos genéricos respondem por 24% do faturamento das farmácias associadas (MAT 01/2021 – MAT 01/2022). Para o CEO da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto, o crescimento dessa categoria está em linha com o avanço das vendas em farmácias, beneficiando, sobretudo, a população de baixa renda.

“A tendência natural é de que essa evolução se mantenha na casa dos dois dígitos nos próximos anos. Desde sua implementação, os genéricos despontam como importantes estímulos para ampliar o acesso a medicamentos e a adesão aos tratamentos. É uma categoria consistente e consolidada, com vendas de R$ 7,7 milhões no ano passado – um avanço de 16,35% em relação a 2020”, comenta.

Ainda de acordo com Barreto, os genéricos representam cerca de 17% da receita com medicamentos no grande varejo farmacêutico brasileiro, considerando as 26 redes associadas à Abrafarma.

Mais acesso

Desde que os medicamentos genéricos começaram a entrar no mercado farmacêutico brasileiro, os consumidores passaram a contar com uma opção acessível financeiramente e, ao mesmo tempo, bioequivalente. Para as farmácias, oferecer essa possibilidade aos clientes foi uma importante oportunidade de atender às necessidades prescritas nas receitas médicas, aumentando a adesão ao tratamento.

“Ao incluir o medicamento genérico na cesta ofertada aos clientes, juntamente com similares e referências, as farmácias ganharam em abrangência. Desde que foram autorizados, passaram a fazer parte de atendimento nos pontos de venda (PDVs), dando aos clientes mais uma opção da escolha”, comenta o diretor-administrativo da Rede Drogal, Marcelo Cançado.

Ele destaca que mais de 100 laboratórios possuem linhas dedicadas à produção de genéricos no mercado brasileiro, com mais de 3.800 registros desses medicamentos em 21,7 mil apresentações disponíveis para os consumidores, cobrindo praticamente todas as doenças conhecidas.

“Essa grande oferta levou os consumidores a criarem o hábito de adquirir e optar pelo medicamento genérico. Com certeza, o consumidor já conhece e confia no genérico”, afirma.

No PDV, os números que mostram o crescimento dos genéricos no Brasil são confirmados. Segundo a gerente comercial do Grupo DPSP, Carolina Bôro, a busca por essa categoria de medicamentos é crescente e vem aumentando nos últimos anos.

“Muitos clientes já chegam ao balcão com a intensão de compra para o medicamento genérico. Por isso, precisamos garantir diversidade de laboratórios por molécula, além de atuar em treinamento e capacitação do time de lojas”, comenta.

Carolina reforça que tanto o time de farmacêuticos como o de balconistas são orientados a respeitar a prescrição médica. “A prescrição médica é mandatória e a intercambialidade ocorre dentro do que é permito por lei, e se necessário, entramos em contato com o médico prescritor para orientações.”

Outra rede de farmácias que corrobora a procura por genéricos é a Pague Menos. De acordo com a gerente de Consultoria Farmacêutica da rede, Cristiane Feijó, no 4T21, essa categoria apresentou um crescimento de 18,0%, atingindo 9,9% das vendas totais. “Em 2021, como um todo, representou 9,5% do mix de vendas”, diz.

Fonte: Guia da Farmácia
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