Amicrobiota, ou flora intestinal, tem um papel fundamental na saúde global do ser humano. Ela é considerada um ecossistema essencialmente bacteriano que reside normalmente no intestino, impedindo o estabelecimento de bactérias patogênicas que, geralmente, são ocasionadas pelo desequilíbrio dessa microbiota em razão de algum fator.
Segundo a farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Nicoletti, a microbiota intestinal tem diferentes e importantes funções no organismo como, por exemplo, auxiliar na digestão de polissacarídeos vegetais; na biotransformação de conjugados ácidos da bile e na degradação de oxalatos; sintetizar e excretar vitaminas, como ocorre com bactérias entéricas, que produzem vitaminas K e B12 e bactérias láticas, que produzem outras vitaminas do complexo B; impedir a colonização por patógenos, por meio da competição por sítios e nutrientes essenciais; antagonizar outras bactérias, por meio de síntese de substâncias inibidoras ou letais contra espécies não pertencentes à microbiota normal; promover o desenvolvimento de tecidos, como o ceco e tecido linfático no trato gastrointestinal; e ajudar o sistema imune na apresentação de antígenos, o que torna o organismo mais tolerante a alguns determinantes imunológicos, reduzindo, assim, as respostas alérgicas a alimentos e antígenos ambientais.
Com funções tão importantes, é preciso atenção à microbiota intestinal, especialmente com a finalidade de manter o seu equilíbrio e é nesse momento que os probióticos entram em cena. Eles são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde no hospedeiro, ou seja, o ser humano.
“Os probióticos contribuem para o equilíbrio da mucosa intestinal, conferindo benefícios na saúde global do indivíduo”, comenta a gastroenterologista e médico departamento médico científico da FQM Farma, Dra. Amanda Buchmann L. Sampaio.
Ela explica que os probióticos agem auxiliando a restauração do equilíbrio desta microbiota, produzindo substâncias capazes de tornar o ambiente intestinal hostil para as bactérias patogênicas. Portanto, atuam na produção de energia para as células intestinais, restaurando a barreira da mucosa local e reduzindo a permeabilidade do intestino. “Ainda são capazes de auxiliar na modulação da resposta inflamatória do hospedeiro”, complementa a Dra. Amanda.
Além dessas funções, os probióticos também auxiliam no controle de colesterol e de diarreias e estão relacionados a uma atuação benéfica na redução do risco de câncer.
A Dra. Amanda também reforça o papel dos probióticos na relação eixo cérebro-intestino.
“Logo abaixo da mucosa intestinal existe uma gama de terminações nervosas que levam informações através da produção de substâncias moduladoras que acionam os neurônios até chegar ao Sistema Nervoso Central (SCN). Os probióticos auxiliam na restauração do equilíbrio, inclusive na produção das substâncias, como serotonina, chegando até o cérebro.
Dessa forma, estudos mostram que auxiliam no tratamento das desordens de origem central, como depressão e ansiedade”, diz.
Ação múltipla
Os probióticos são compostos por cepas bacterianas ou fúngicas, de um tipo ou mais (mix), que chegam até o local de ação. “Logo abaixo da mucosa intestinal existe uma gama de terminações nervosas que levam informações por meio da produção de substâncias moduladoras que acionam os neurônios até chegar ao SNC. Os probióticos auxiliam na restauração do equilíbrio, inclusive na produção das substâncias como serotonina, chegando até o cérebro. Dessa forma, estudos mostram que auxiliam no tratamento das desordens de origem central, como depressão e ansiedade”, comenta a Dra. Amanda.
A médica esclarece que os probióticos podem ser constituídos por uma única cepa ou serem multicepa. “Os probióticos multicepas têm mais de um tipo/espécie de bactéria.
Exemplo: lactobacilos, bifidobactérias”, diz, acrescentando que quando há mix de cepas, os probióticos agem em sinergismo, somando as diferentes funções de cada espécie de bactéria.
O conceito “multicepas” está relacionado à administração de diferentes tipos de bactérias que atuam de forma sinérgica no intestino, trazendo efeitos benéficos à saúde e são produtos mais efetivos do que os de cepa única. “A vantagem de uma associação, ou seja, com a utilização de multicepas reunidas em um mesmo produto, esse apresentará várias funcionalidades e indicações”, diz Maria Aparecida.
A farmacêutica explica que o mecanismo de ação de algumas cepas, como Lactobacillus, Bifidobacterium, E. coli, S. boulardii, no tratamento de doenças inflamatórias intestinais (colite ulcerativa, doença de Crohn, bolsita – pouchitis), seriam a inibição do crescimento de bactérias patogênicas entéricas; aumento da função de barreira do epitélio e da mucosa intestinal; e/ou imunomodulação.
Papel dos probióticos na disbiose
Maria Aparecida reforça que o intestino é um ambiente onde bactérias inofensivas e benéficas estão em contato muito próximo com agentes patogênicos oportunistas que causam infecções e está estabelecido que os antibióticos podem alterar a microbiota intestinal. Nestes casos, acontece a disbiose, que é o desequilíbrio na flora intestinal causada por alimentação rica em gordura ou baixa em fibras, ou uso de medicamentos.
“Os probióticos auxiliam a recompor a microbiota intestinal por meio da adesão e colonização da mucosa intestinal, ação que impede a adesão e subsequente produção de toxinas ou invasão das células epiteliais (dependendo do mecanismo de patogenicidade) por bactérias patogênicas”, diz.
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Fonte: Guia da Farmacia